Média do litro do açaí chega a R$23 em Belém, com altas acima da inflação
Quem pesquisa em bairros afastados do centro, porém, consegue levar comprar o litro entre R$18 e R$20
A média do preço do litro do açaí na Grande Belém foi de R$23,05 em fevereiro de 2022, segundo pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do Pará.
A constatação dá continuidade a uma trajetória de alta observada pela entidade que verificou que o alimento, que é tradicional para muitas famílias paraenses, custava R$18,65 o litro em dezembro de 2021 e R$22,04 em janeiro de 2022.
Na comparação entre os dois primeiros meses do ano, a inflação registrada em fevereiro foi de 4,58%. Em janeiro e fevereiro, o preço teve aumento de 23,05%, acima da inflação registrada no período que foi de 1,68% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
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A trajetória do açaí do tipo grosso foi similar e levou o preço da mercadoria para R$33,12 em fevereiro.
"O açaí consumido pelos paraenses continua muito caro. O Dieese desenvolve esta pesquisa de preço do litro de açaí comercializado e consumido pelos paraenses na Grande Belém desde o inicio dos anos 90. Durante este período foi possível observar que em função principalmente das sucessivas altas de preços, a outrora comida dos paraenses tem ficado proibitiva para grande parte da população, em especial a de menor renda", conta Roberto Sena, supervisor técnico da entidade, ao lembrar quem supermercados o preço pode chegar a R$25.
Preço oscila nos bairros
Quem pesquisa em bairros um pouco mais afastados do centro encontra preços melhores. Trabalhando há 25 anos na feira da Marambaia, Edson Nunes vendeu o litro do açaí por R$18 na última terça-feira (29), entretanto, no dia seguinte, quarta-feira (30) o preço já havia mudado.
"Mas hoje estava R$110 o paneirinho de açaí, então nós estamos vendendo de R$20 e só para ter mesmo. Só que não dá em nada, porque a gente não ganha nada com esse açaí numa época dessa. Só vem comprar o pessoal que só come se tiver açaí, que se não tiver açaí fica com fome o dia todinho. Esse pessoal que vem atrás e paga o que tiver. Leva mas reclama. Tem os que perguntam quanto está o litro e vão embora. Pode ver que vários pontos hoje estão todos fechados", ele conta.
Segundo Edson, os fornecedores têm explicado que as fortes chuvas têm atrapalhado o trabalho dos peconheiros, o que diminui a produção e limita a oferta na Feira da Açaí, onde ele busca mercadoria.
O comerciante lembra que as vendas no local costumam se estender até às sete da manhã, mas que nesta quarta-feira (30) quem chegou depois das 5h já não conseguiu comprar açaí para revender.
"A gente vai levando como Deus quer. Um dia a gente ganha, outro não ganha. Bate bacaba, bate açaí. Um vai quebrando o galho do outro até chegar a safra de novo. O negócio é não fechar. Se fechar é pior", avalia.
No bairro da Pedreira, Luís Lemos conta que o açaí não escapa do efeito dominó que a inflação tem provocado em todos os setores do Brasil.
"É difícil porque o povo quer comer sempre. A maioria dos clientes é gente que vem todo dia ou que a gente entrega. Mas isso diminuiu muito. Hoje tem quem venha duas vezes na semana. Ou só no domingo. Só que está tudo caro, então sobra menos dinheiro para o açaí", conta ele, que também está vendendo por R$20.
Produção custosa
Na opinião da produtora Darlene Pantoja, que trabalha há 30 anos com o fruto em Igarapé-Miri, a produção tem tido dificuldade de acompanhar a demanda nos últimos quatro anos, especialmente por conta da alta procura internacional pelo açaí.
Ela e diversos outros produtores da região mantiveram os preços estacionados por três anos antes de reajustarem em 2022, por conta da alta dos combustíveis, utilizados para o transporte do fruto.
"A inflação do brasil aumentou nosso custo de produção, manutenção, limpeza da propriedade. Essa questão de querer manter o preço do ano passado estava inviabilizando a produção do açaí, inclusive na questão de mão de obra, com os peconheiros. É uma profissão de risco e o custo dele está saindo muito alta. É um conjunto de fatores da cadeia que resultam nesse preço", afirma. Para Pantoja, é preciso investir em tecnologias que ampliem a capacidade de produção independente da safra e garantir subsídios para mitigar os impactos do preços dos combustíveis para o setor.
Mercado internacional
Clésio Santana é presidente da Câmara Setorial do Açaí e membro da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará e conta que o preço da entressafra sempre sobre por conta da perda da produção, somado com a inflação. Mas ele conta que o aumento nas exportações também entra na conta.
"Com a subida do dólar, temos ofertas de preços muito boas. No período da safra, para cada uma tonelada produzida, nós não conseguimos produzir nem cinquenta quilos. Somos o maior produtor do Brasil, mas nossa produção ainda é muito artesanal, dos ribeirinhos. Mas o Pará tem trabalhado muito em pesquisa de açaí irrigado para compensar a sazonalidade", afirma.
De acordo com Santana, a tecnologia e a expansão do plantio pode significar saldos positivos para a economia paraense, já que ele avalia que nem 30% do mercado em potencial do açaí no mundo está sendo atendido pela atual oferta do Pará.
"O mercado nacional e internacional não aceita a dilatação de preço na entressafra, que o paraense está disposto a pagar por hábito alimentar. Isso não acontece no mercado nacional, que o vê como energético, iguaria, alimento alternativo. Eles consomem nosso produto uma vez por semana. Mas vejo isso como um cenário maravilhoso para o Pará", diz ele, referindo-se a ampliação do mercado.
Segundo ele, se a demanda mundial aumentar em 1%, o Pará já não conseguirá atender o mercado. "Mas o Pará está se antecipando e preparando as condições para o mercado internacional", diz.
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