Falta de insumos e preços elevados atrapalham indústrias do Pará
Pesquisa da CNI aponta quais setores enfrentam mais problemas
As micros e pequenas indústrias brasileiras elegeu como principal problema enfrentado no último ano a falta ou alto custo da matéria-prima, segundo dados do Panorama da Pequena Indústria, pesquisa realizada trimestralmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O setor de transformação e construção são os mais afetados, enfrentando o problema há pelo menos um ano e três meses, considerando as pesquisas anteriores.
As indústrias extrativas, por exemplo, não foram afetadas pelo mesmo problema por tanto tempo, pois também apontaram desafios com a carga tributária no segundo trimestre deste ano. O levantamento também aponta como destaques a elevada carga tributária e a falta ou alto custo de energia, no caso da segunda, especialmente por conta da crise hídrica que o Brasil vive.
Entre os empresários entrevistados da indústria de transformação, 61,3% apontaram o alto custo ou falta de matérias-primas como principal dor de cabeça do setor no último trimestre. Na construção civil, o número foi de 51,9%. Na indústria extrativista, 39,3%.
Segundo o presidente da Federação das Indústria do Pará, José Conrado Santos, a falta de insumos e alta nos preços deles reduz a competitividade das empresas, já abatidas pela pandemia de covid-19. Ele lembra que a maior parte das empresas paraenses são consideradas médias e possuem forte dependência da matéria-prima que vem das regiões Sul e Sudeste do Brasil.
"Além delas terem essa perda de competitividade, deixam de investir e isso prejudica o desenvolvimento econômico do nosso estado. Não podemos também deixar de lembrar que a crise hídrica afetou praticamente toda a indústria do Brasil, um problema que já se arrasta por vários governos e que precisa de uma gestão a médio e longo prazo para não temos mais que passar por isso. E uma terceira questão na qual precisamos avançar é justamente a alta burocracia e encargos provocados pelo sistema tributário brasileiro. As reformas propostas precisam ser aprovadas com urgência no Congresso para que a indústria e outros setores da economia voltem a crescer", avalia ele.
Desempenho em alta
Apesar das dificuldades relatadas, o Índice de Desempenho registrou uma alta: saiu de 46,5% no segundo trimestre para 48,3 no terceiro. O mesmo ocorreu com o Índice de Situação Financeira, de 42,6 pontos, 0,3 ponto a mais do que o trimestre anterior. Comparado ao mesmo período de 2020, a alta foi de 0,7 ponto. Já o Índice de Confiança do Empresário Industrial para as pequenas indústrias registrou 56,9 pontos em outubro de 2021, uma queda de 0,7 ponto na comparação com setembro. O número é considerado "elevado" pela pesquisa.
A composição dos índices leva em consideração itens como volume de produção, número de empregados, utilização da capacidade instalada, satisfação com o lucro operacional e situação financeira, facilidade de acesso ao crédito, expectativa de evolução da demanda e intenção de investimento e de contratações. Todos os meses, as pesquisas ouvem mais de 900 empresários de empresas de pequeno porte.
Mercado imobiliário
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará, Alex Dias Carvalho, vê o tema com preocupação. Para ele a crise é palpável não só pelas projeções e pesquisas, mas também pela diminuição dos lançamentos imobiliários no Pará, por exemplo, que atestam o momento duro que o setor vive neste início de retomada pós-pandemia de covid-19.
"Isso tem causado um desaquecimento do setor, com diminuição do ritmo de obras e contratações. É um cenário que precisaria ser enfrentado com um choque de oferta. O governo federal apresentou uma medida bastante tímida, no nosso entendimento, de possibilidade de redução de impostos de importação. O aço tem sido um dos principais materiais com preços elevados de maneira excessiva, mas também o PVC, cimento, cabos elétricos têm ido na mesma esteira. O cenário que se avizinha dá conta de uma preocupação ainda maior e instabilidade muito grande", lamenta ele.
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