Dia da Erradicação da Pobreza traz foco para problemas como fome e falta de moradia
Demanda por coleta de alimentos aumentou desde o advento da covid-19
O Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, que transcorre hoje, dia 17 de outubro, foi decretado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas com o objetivo de conscientizar as sociedades e os governos de todo mundo sobre as pessoas que vivem em extrema pobreza. Em Belém, embora não haja dados exatos sobre a fome e o número de pessoas em situação de rua, movimentos sociais e agente públicos constatam o aumento da população em condições de risco, em razão da pandemia de covid-19.
Com exceção da do desemprego, o economista Everson Costa, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), afirma que as temáticas sociais como fome, segurança alimentar, violência e moradia, que indicam os níveis de pobreza de uma sociedade, estão com índices sujeitos apenas a estimativas. “Quando visualizamos o cenário geral constatamos que é devastador, mas é preciso provar isso em números, e aí começa a dificuldade, porque muitas pesquisas que falavam sobre isso derivavam fortemente do Censo Demográfico, que não aconteceu em 2020, e de estimativas que a pandemia ainda não permite que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) investigue a fundo. Realmente, temos um ‘apagão’ nesses dados. As projeções acontecem, mas devem ser cercadas de cuidados”, alerta o especialista.
No entanto, um estudo feito pelo economista e pesquisador Daniel Duque, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que o Pará, o Acre e o Tocantins foram os únicos Estados brasileiros nos quais não houve piora da pobreza entre novembro de 2019 e janeiro de 2021. O levantamento aponta que os maiores aumentos da pobreza ocorreram no Rio de Janeiro, no Distrito Federal e em Roraima. No Distrito Federal, a população pobre foi de 12,9% para 20,8% entre 2019 e 2021. No Rio de Janeiro, o crescimento foi de 16,9%, em 2019, para 23,8% em 2021.
Para chegar aos resultados, o pesquisador combinou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), que foi realizada no primeiro trimestre de 2019, com a Pnad-Covid, do IBGE.
Demanda por comida
Cleice Maciel, coordenadora executiva do Movimento República de Emaús, que trabalha com a promoção de direitos a adolescentes e crianças e suas famílias há 51 anos, em Belém, assegura que a demanda por coleta de alimentos aumentou desde o advento da covid-19, em março de 2020. “O Movimento de Emaús intensificou as campanhas porque as famílias atendidas que tinham crianças que ficaram sem ter a merenda das escolas e que também ficaram sem o Movimento, que era um suporte para a questão da alimentação, sentiram a falta da comida em suas casas, muito mais do que antes. A pandemia enfatizou essa questão. Por isso, intensificamos a arrecadação de comida para os bairros da Pratinha, Coqueiro, Bengui, Parque Verde, Uma, Cabanagem, Coqueiro e São Clemente, que é a área onde atuamos. A gente também estendeu a nossa contribuição para a Vila da Barca, porque temos uma parceria com o movimento da Barca Literária”, destaca.
O agente de Bem-estar e Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), Paulo Henrique de Oliveira, que tem trajetória de pessoa em situação de rua, afirma que a falta de moradia foi outro problema que ficou evidente no centro comercial de Belém, desde que a pandemia iniciou. Ele relata que alguns hotéis populares, que cobravam R$ 15 o pernoite, acabaram fechando, o que fez com que muitas pessoas ficassem sem abrigo.
“É notório o aumento de pessoas que foram parar na rua. Muita gente não conseguiu mais pagar a sua kit-net, principalmente quem trabalhava como autônomo. Quem dormiu em hotéis populares, pagando R$ 15 por noite, ficou sem ter onde dormir. Só contando com o que tinha na Riachuelo, no Comércio, forma cerca de 50 pessoas que foram para a rua”, calcula.
Paulo Henrique, conhecido como PH, chegou em Belém em 2005, vindo de Minas Gerais. Após sem despedido do emprego que tinha como mecânico e montador, veio para o Pará para tentar uma vaga como operário na construção da Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira. No entanto, em Belém, foi assaltado, perdendo todo o dinheiro que havia recebido do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e o celular, o que o fez ficar sem conseguir dar notícias para a família por anos.
Após 15 anos nas ruas de Belém, Paulo Henrique conseguiu a vaga como agente da Sesma e passou a morar em um abrigo da Prefeitura de Belém. “Garantir habitação para as pessoas é primordial. Sem ter um lugar para dormir, você não consegue descansar para estar bem no outro dia para procurar um emprego. Eu sou um privilegiado, dei muita sorte, comigo a política pública funcionou”, afirma.
Seaster
O Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Assistência Social (Seaster), destaca em nota que desenvolve ações com o objetivo de garantir à população direito e acesso à assistência social e à segurança alimentar e nutricional, o que contribui na diminuição dos impactos enfrentados por famílias em situação de extrema pobreza. “A Seaster formula, articula, coordena, executa e acompanha os programas e projetos relativos à Política de Transferência de Renda como o Bolsa Família e o Cadastro Único - CadÚnico, além de coordenar, capacitar e monitorar a gestão municipal na execução da entrevista social e, consequentemente, na concessão de benefícios socioassistenciais”, comunica.
A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Coordenação Geral do Planejamento e Gestão de Belém (Segep) informa que a principal ação da prefeitura para o combate à fome e atenuação dos problemas decorrentes da situação de extrema pobreza é o Bora Belém. O programa tem como principal iniciativa a Renda Básica ou "Renda Cidadã" de até R$450,00 por família. “Hoje são 7 mil beneficiárias, mas a meta é atender 22 mil famílias. Para alcançar esse patamar, está prevista ainda para este ano uma nova rodada de busca ativa ampla em toda a cidade nas áreas de maior incidência da pobreza e exclusão socioeconômica. Como os problemas oriundos da situação de extrema pobreza, entre eles a fome, subnutrição e falta de acesso aos direitos básicos, são estruturais em nossa sociedade, o Bora Belém representa, como política pública, um esforço para transformar essa realidade”, declara.
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