Cresce exportação de grãos pelos portos do Arco Norte
Terminais da região aumentaram sua participação nas exportações brasileiras e transportaram volume maior que o porto de Santos
Em 2022, os portos do Arco Norte superaram pela primeira vez o volume de grãos exportados pelo porto de Santos (SP), considerado o maior complexo portuário da América Latina. Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o conjunto dos portos de São Luís/Itaqui/PDM, Belém/Barcarena, Ilhéus/Aratu/Cotegipe, Santarém, Itacoatiara, Santana e TMIB/Sergipe movimentaram 52,3 milhões de toneladas de soja e milho no ano passado, número superior ao volume que passou pelo porto de Santos, que foi de 46,8 milhões de toneladas.
Os destaques são operações localizadas nos estados do Pará e do Maranhão, que respondem por mais da metade do total exportado. Nos portos de São Luís/Itaqui/PDM, por exemplo, a carga transportada foi de 18 milhões de toneladas; já no sistema Belém/Guajará, que abrange o porto de Vila do Conde, em Barcarena, o total foi de 17,4 milhões de toneladas, enquanto outros 5,9 milhões de toneladas saíram por Santarém.
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A expansão ocorreu em todos os empreendimentos do Arco Norte, em que se observou um aumento de 626% nas operações com as commodities do agronegócio, porém chama atenção a representatividade alcançada pelo sistema Belém/Guajará. Até 2013 não havia exportação de grãos nessa região e, em 2014, o volume de carga de grãos já foi de 1,2 milhão de toneladas. Em menos de dez anos, o crescimento foi de 1350%.
“O fato dos portos do Arco Norte ultrapassarem o porto de Santos tem uma simbologia muito grande porque esse é o maior porto do Brasil e da América Latina. A tendência é de superação daqui pra frente porque, a cada ano, o Arco Norte tem tomado uma parcela das exportações e mantêm essa superação ad eternum”, analisa Elisangela Lopes, assessora técnica da comissão nacional de logística e infraestrutura da CNA.
De acordo com ela, o avanço observado mostra que é possível que os portos regionais ampliem sua participação nas exportações brasileiras. “De 2009 a 2022, o percentual de crescimento dos portos do Arco Norte é de 16,5% ao ano. Já os portos do Arco Sul crescem a uma média de 7,1% ao ano. Isso significa que de ano em ano há um acréscimo de 3,5 milhões de toneladas no Arco Norte e de 4 milhões no Arco Sul. Ambos estão crescendo progressivamente, mas com uma taxa maior do Norte em relação ao Sul-Sudeste e essa diferença se afunila cada vez mais. Hoje, o Arco Norte é responsável por 37% das exportações, mas acredito que daqui a dez anos Norte e Sul podem se encontrar e cada região ficar com 50%”, complementa.
Participação da iniciativa privada dinamizou setor portuário
A posição estratégica das regiões amazônica e do Nordeste com sua maior proximidade para os mercados dos Estados Unidos e da Europa é um fator que explica o favorecimento e o avanço da logística nessas partes do Brasil. Mas esse potencial só pode ser melhor aproveitado após a sanção da Lei nº 12.815, que facilitou o ingresso da iniciativa privada na exploração portuária por meio de Terminais Portuários Privados (TUPs), Estações de Transbordo de Carga (ETCs), Instalações Portuárias de Turismo (IPTs) e Instalações Portuárias de Pequeno Porte (IP4).
“Esse boom foi motivado pela Lei dos Portos, que permitiu que a iniciativa instalasse portos privados e ETCs e, com isso, houve um crescimento de pedidos de novas instalações nos estados do Pará e do Amazonas que viabilizaram esses avanços”, afirma Elisangela Lopes.
Da mesma forma, Flávio Acatauassu, presidente da Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport), que representa os principais players logísticos da região, credita o incremento das atividades envolvendo o transporte de soja, milho e outros grãos ao reconhecimento das vantagens que os empreendimentos locais oferecem.
“A conversão de terras da pecuária para agricultura na região do Arco Norte e o uso do modal hidroviário, mais sustentável, associado a custos competitivos, tornam os corredores do Arco Norte mais atrativos”, diz o executivo, que ressalta, no entanto, a necessidade de mais investimentos no segmento de infraestrutura visando atender tanto as demandas do setor quanto do agronegócio.
“Projetos estruturantes que visem sustentabilidade e a baixa emissão de CO2, como a implantação de ferrovias, a Oeste do Pará ligando Sinop à Miritituba, e a Leste, ligando Açailândia à Barcarena, associados as melhorias de navegabilidade dos rios Madeira, Tapajós, Tocantins e Capim; e o aprofundamento do Canal do Quiriri, potencializariam a vocação logística do Estado. A concessão de acessos rodoviários das BRs-364, 155, 158 e PA-150, com a adequação dos portos públicos Santarém e Vila do Conde também são essenciais para as cadeias logísticas”, pontua Acatauassu.
Nesse sentido de suporte ao escoamento da safra de grãos do país, que deve alcançar o recorde de 141 milhões de toneladas neste ano, o Governo Federal anunciou na semana passada um conjunto de 39 ações prioritárias que devem realizadas até os 100 dias de gestão, destacando inclusive investimentos para o Arco Norte.
“Recebemos com muito entusiasmo e otimismo o conjunto de ações, em especial quanto aos investimentos nas BRs 364 e 163, fundamentais para o escoamento de grãos pelos portos Porto Velho (RO) e de Santarém e Itaituba, assim como as ações previstas para os portos de Santarém e Vila do Conde, contudo, a manutenção dessas ações durante toda a safra é fundamental para segurança da cadeia logística”, salienta Flávio Acatauassu, que frisa ainda a importância do governo dar atenção a projetos como a Ferrogrão, que possibilitaria que o oeste paraense se tornasse o principal hub logístico da região, incrementando a geração de empregos.
Na avaliação da Amport, os resultados alcançados pelo Arco Norte demonstram que a região tem condições de se consolidar como uma referência para o comércio exterior brasileiro. “O crescimento que os portos do Arco Norte apresentaram a partir de 2016, para graneis vegetais, já indicavam essa possibilidade a médio prazo. Para 2023, é esperado uma movimentação recorde dessas commodities, consolidando essa posição”, afirma Flávio Acatauassu.
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