Como as famílias de Belém enfrentam o aperto financeiro no início do ano
Material escolar, matrículas, impostos e contas acumuladas exigem organização. Economista e moradores dão dicas para atravessar o período com menos impacto no orçamento.
Janeiro não chega apenas com a promessa de um novo começo, mas também com desafios financeiros para muitas famílias. Em Belém, o início do ano é marcado por despesas fixas como IPTU, IPVA, matrículas escolares e materiais escolares, além das dívidas contraídas no fim do ano anterior. Para evitar o descontrole financeiro, economista entrevistado pelo Grupo Liberal destaca a importância do planejamento, e famílias compartilham estratégias e dificuldades para manter o equilíbrio nas contas.
Despesas concentradas dificultam o equilíbrio
Silvia Itaiaracy Ferreira, auxiliar de confeitaria e mãe solo de duas meninas de 8 e 11 anos, compartilhou as dificuldades de lidar com tantas demandas no começo do ano. "Procuro me organizar ao máximo para não ultrapassar o orçamento, mas isso é quase impossível. Apesar de minhas filhas estudarem na rede pública, ainda há gastos com xerox de documentos e fotos para a matrícula. Quanto ao material escolar, divido as compras com a avó paterna das meninas e sempre procuramos pagar à vista para evitar dívidas longas", explicou.
Para Silvia, a rotina financeira é uma batalha constante. "Uso cartão apenas em casos de extrema necessidade, como medicamentos ou alimentação no meio do mês. Além disso, sempre guardo um pouco em uma conta reserva para emergências. Essa prática não é fácil, mas nos ajuda a não entrar no ano endividados", disse.
O professor universitário João Márcio também enfrenta dificuldades para atender às necessidades de seus três filhos, de 10, 14 e 21 anos, que moram com ele. "Com a inflação elevada, tudo ficou mais caro, desde o material escolar até as mensalidades. Tenho buscado fazer um levantamento detalhado dos gastos e priorizar o essencial, mas a pressão é grande", relatou.
João revelou que precisa buscar novas alternativas para economizar. "Atualmente, as compras de material escolar são feitas em diversos locais, onde encontramos itens com preços menores. Em relação aos impostos, o parcelamento tem sido uma escolha obrigatória, pois nem sempre temos liquidez para pagar tudo à vista", completou.
Economista alerta para estratégias de controle financeiro
O economista André Cutrim reforçou a importância de criar um planejamento detalhado e disciplinado para evitar surpresas. "Com despesas previsíveis como IPTU e IPVA, é fundamental incluir essas obrigações no orçamento anual. Quando possível, o pagamento à vista pode gerar descontos relevantes, mas o parcelamento também deve ser bem planejado", orientou.
Sobre materiais escolares, o economista destacou as vantagens do comércio online. "A internet oferece promoções e frete grátis, o que pode resultar em preços mais baixos que nas lojas físicas. Além disso, é importante comparar preços e evitar itens com apelo comercial, como materiais com personagens licenciados, que geralmente são mais caros", afirmou.
Cutrim também apontou a necessidade de criar uma reserva de emergência e priorizar o pagamento de dívidas com juros mais altos. "Se a renda familiar permitir, poupar regularmente, ainda que valores pequenos, é essencial. No caso das dívidas de fim de ano, renegociar prazos e, se necessário, consolidá-las em um único empréstimo com condições favoráveis são caminhos recomendados", acrescentou.
Famílias buscam alternativas para reduzir custos
Everson Costa, pai de duas meninas, uma no ensino fundamental e outra recém-formada no ensino médio, compartilhou sua experiência com planejamento financeiro. "A partir do segundo semestre, já começamos a nos preparar para os gastos de início de ano, como material escolar e IPTU. Sempre reaproveitamos o que é possível, como fardas e mochilas. Livros didáticos, infelizmente, representam um peso significativo e nem sempre conseguimos economizar nessa parte", disse.
Segundo Everson, o décimo terceiro salário desempenha um papel crucial na organização das finanças. "Esse recurso é fundamental para antecipar parte dos gastos, como rematrículas escolares e impostos. Mesmo assim, nem sempre conseguimos atender a todas as despesas sem apertos", explicou.
Ele também apontou o impacto dos reajustes no orçamento familiar. "As mensalidades escolares tiveram aumento de 15%, enquanto itens de material escolar chegaram a 30% de reajuste. Mesmo com todo o planejamento, o orçamento acaba fugindo do controle em alguns momentos", relatou.
Restrições impactam o dia a dia das famílias
Além de priorizar o básico, João Márcio revelou que precisou ajustar a rotina de lazer para conter os gastos. "Almoçar ou jantar fora, ir ao cinema ou ao teatro já não fazem parte do nosso dia a dia. Tudo isso foi cortado para priorizar alimentação, educação e moradia. Esses ajustes acabam refletindo na qualidade de vida, mas não temos alternativa diante de tantos aumentos", lamentou.
Para Silvia, mãe solo, as dificuldades são constantes, mas o planejamento tem sido uma saída. "Reaproveitamos materiais e até o que dá para consertar. Minhas meninas sabem que o dinheiro precisa ser bem usado e que não podemos ceder a luxos ou compras por impulso. Tudo é feito com base no essencial", afirmou.
Educação financeira para um futuro mais estável
André Cutrim finalizou ressaltando que a educação financeira é um investimento necessário para evitar crises. "Famílias que não têm o hábito de fazer um orçamento anual detalhado ou de diferenciar despesas essenciais de supérfluas acabam vivendo no limite. É importante buscar conhecimento sobre finanças, planejar sonhos de médio e longo prazo e, principalmente, criar a disciplina de economizar", recomendou.
Em Belém, janeiro é sinônimo de organização para muitas famílias que tentam manter o equilíbrio financeiro diante de um cenário econômico desafiador. Com disciplina, criatividade e foco nas prioridades, é possível atravessar o período sem comprometer o orçamento para o restante do ano.
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