Comerciantes de Belém enfrentam escassez de moedas em meio à digitalização dos pagamentos

Mesmo com estratégias para guardar troco, trabalhadores relatam dificuldade diária em obter moedas; avanço do Pix e costume de guardar moedas em casa agravam a situação.

Jéssica Nascimento

A falta de moedas tem se tornado um desafio constante para pequenos comerciantes de Belém. Apesar do crescimento das transações digitais, que facilitam o dia a dia de lojistas e consumidores, a escassez de moedas metálicas no mercado vem comprometendo o troco em compras com dinheiro em espécie. A situação se agrava com o hábito de guardar moedas em casa e o alto custo de produção dessas unidades monetárias.

Moedas raras no caixa

Para José Ribamar Costa, comerciante com longa experiência no centro da capital paraense, a mudança de comportamento dos consumidores — cada vez mais adeptos ao Pix — impactou diretamente o uso de moedas. 

image Ribamar Costa. (Foto: Wagner Santana)

“Tenho uma boa reserva que construí ao longo do tempo, mas hoje vejo que tá diminuindo. A venda em dinheiro é pouquíssima”, comenta.

Ele ainda afirma que nunca perdeu venda por falta de troco, mas reconhece que manter um estoque de moedas tem se tornado mais difícil.

Já Vitória Régia Mendes, que atua no comércio popular, relata que já perdeu clientes por não ter moedas disponíveis. 

“Quando vejo uma pessoa com moedinha, eu troco. Eu compro a moeda e dou um papelzinho. Negocio com os clientes. Eles entendem, mas às vezes perco a venda”, diz. 

image Vitória Régia. (Foto: Wagner Santana)

Para ela, o Pix, que representa 80% das suas transações, foi um alívio, mas não resolve totalmente o problema para aqueles que ainda preferem pagar em espécie.

O vilão invisível: o entesouramento

Segundo o economista Genardo Oliveira, cerca de 35% das moedas em circulação no Brasil estão fora do mercado, guardadas em cofrinhos ou esquecidas em gavetas. Esse fenômeno, chamado de entesouramento, aliado à baixa produção de moedas — que custam caro para serem fabricadas —, contribui para o problema vivido no dia a dia por comerciantes.

“Há mais de 31 bilhões de moedas metálicas em circulação no país, mas elas não estão onde deveriam: nos caixas dos comércios. Isso se agrava no Norte e Nordeste, onde o uso de dinheiro ainda é maior por conta da baixa bancarização e do difícil acesso à internet”, explica Oliveira.

Pagamentos digitais: solução e desafio

O surgimento e a popularização do Pix, criado em 2020, transformaram os hábitos de consumo. Para os comerciantes, isso trouxe vantagens como mais praticidade e menos necessidade de caixa físico. Por outro lado, para os clientes que ainda dependem do dinheiro vivo, principalmente em regiões menos conectadas, a escassez de moedas pode atrapalhar transações simples.

“O Pix ajudou muito, é prático”, afirma Ribamar. No entanto, ele reconhece que para o pequeno comprador que ainda utiliza cédulas e moedas, o troco virou um problema.

Campanhas e soluções pontuais

O Banco Central tem feito campanhas pontuais para incentivar o retorno das moedas ao mercado, mas, segundo especialistas, ainda falta uma política contínua e eficaz para lidar com o problema. Enquanto isso, comerciantes criam suas próprias soluções: trocas improvisadas com clientes, arredondamento de preços e até a compra de moedas.

“Eu negocio com os clientes. Eles entendem que é difícil achar moeda”, conta Vitória. Mas, como aponta o economista, sem uma estratégia nacional para estimular a circulação monetária, a escassez tende a persistir — e os pequenos comércios, que ainda dependem do troco em moedas, continuam sentindo os impactos.

O que causa a falta de moedas no mercado?

Para o economista Genardo Oliveira, a escassez de moedas pode ser atribuída a vários fatores:

  • Entesouramento: Muitas pessoas guardam moedas em casa, impedindo sua circulação;
  • Baixa produção: O custo de fabricação das moedas é alto, e algumas chegam a custar mais do que seu valor de face;
  • Arredondamento de preços: Muitos comerciantes optam por arredondar valores para evitar problemas com troco;
  • Pagamentos digitais: O aumento do uso de cartões e PIX reduziu a necessidade de moedas para transações diárias.

 

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