Tarifaço de Trump pode impulsionar exportações do agronegócio do Pará para a China e outros países

Com a reciprocidade de tarifas ajustada para o alto entre norte-americanos e chineses, o Pará pode se beneficiar de uma demanda crescente da China por soja, carne e outros produtos agropecuários

Jéssica Nascimento
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O tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump sobre produtos chineses está forçando uma reconfiguração nas relações comerciais globais, e o Brasil, especialmente o estado do Pará, pode sair beneficiado com a ampliação de suas exportações de produtos agropecuários para a China e outros países asiáticos, segundo representantes do setor produtivo ouvidos pelo Grupo Liberal. No entanto, conforme economistas paraenses, para aproveitar essa oportunidade, o estado precisa superar gargalos logísticos e investir em infraestrutura, além de garantir a sustentabilidade e a qualidade de seus produtos. 

A disputa comercial entre EUA e China abre portas para o agronegócio do Pará, que, com a posição geográfica estratégica e potencial de produção, pode se tornar um fornecedor-chave de carne bovina, soja e outros produtos. Contudo, desafios como a falta de portos adequados, rodovias mal estruturadas e questões ambientais exigem ações rápidas e coordenadas entre o governo e a iniciativa privada.

Os número de exportação do Pará para a China 

Em 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Pará exportou 126 bilhões de quilos líquidos de produtos minerais para a China. Isso equivale a US$ 10 bilhões de valor de exportação. O valor é o preço da mercadoria e dos custos até o momento que ela deixa o local de origem

Em segundo lugar no ranking de quilos líquidos exportados no ano passado, conforme dados do MDIC, estão produtos do reino vegetal, do qual a soja faz parte. Nessa categoria, o Pará exportou 1,8 bilhão para o país asiático, o que representou US$ 809 milhões em valor de exportação. 

Animais vivos e produtos do reino animal, da qual a carne bovina faz parte, ocuparam o terceiro lugar no ranking de exportação paraense em 2024, de acordo com o Ministério. O estado exportou 112 milhões de quilos líquidos desses produtos para a China, o que correspondeu a US$ 512 milhões em valor de exportação de janeiro a dezembro

Em 2025, de janeiro a março, o Pará já exportou 24 bilhões de quilos líquidos de produtos minerais para a China (US$ 1,8 bilhão em valor de exportação), 218 milhões de quilos líquidos de produtos do reino vegetal (US$ 87 milhões em valor de exportação) e 28 milhões de quilos líquidos de animais vivos e produtos do reino animal (US$ 138 milhões em valor de exportação). 

Ainda segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, em 2024, a China foi o país para o qual o Pará mais exportou com 49% de participação. Em seguida, ficaram Malásia (5%), Japão (4,5%), Noruega (3,7%) e Estados Unidos (3,6%).

De janeiro a março deste ano, a China ainda lidera como destino de exportação do estado, com 41% de participação, seguida de Noruega (7,7%), Estados Unidos (6,6%) e Canadá (4,9%) até o momento.

A guerra tarifária entre EUA e China: um cenário de oportunidades para o Pará

A China anunciou na manhã de sexta-feira (11/04), no horário de Brasília, que aumentaria de 84% para 125% as tarifas de importação sobre produtos originários dos Estados Unidos. A informação foi divulgada pelo Ministério das Finanças chinês, conforme noticiado pela agência Reuters.

De acordo com comunicado da Embaixada da China nos EUA, a nova alíquota entra em vigor já neste sábado (12/04).

Essa elevação nas tarifas representa mais uma retaliação da China às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump. Na quinta-feira (10/04), os Estados Unidos informaram que as tarifas aplicadas contra o país asiático já somam 145%, em mais um episódio da guerra comercial entre as duas nações.

A medida, que afeta especialmente os exportadores norte-americanos de grãos e proteínas, pode beneficiar outros fornecedores, como o Brasil, que, por sua vez, pode ampliar suas exportações, especialmente para a China, maior comprador mundial de alimentos e insumos agroindustriais.

Daniel Freire, presidente do Sindicato da Carne e Derivados do Pará (Sindicarne-PA) e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), destaca que a disputa entre os dois gigantes comerciais oferece uma excelente oportunidade para o estado do Pará, que, com sua produção diversificada, pode preencher parte da lacuna deixada pelos EUA.

"Com a China buscando novos fornecedores, o Brasil, especialmente o Pará, tem tudo para se tornar um dos principais parceiros comerciais da China", afirma Freire.

Pará como ponte entre o Brasil e a Ásia

Com uma localização geográfica privilegiada e portos estratégicos, o Pará se posiciona de forma vantajosa para atender a demanda crescente da China e de outros países asiáticos. O estado já é um dos maiores produtores de carne bovina e soja do Brasil, e pode expandir suas exportações para mercados emergentes, além da China, como Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul.

Vanderlei Ataídes, presidente da Aprosoja/PA (Associação dos Produtores de Soja, Arroz e Milho do Estado do Pará), aponta que o estado tem potencial para aumentar as exportações de soja, uma vez que a maior parte da produção já é destinada ao mercado internacional.

"A guerra tarifária trouxe uma reorganização da logística mundial, o que pode beneficiar o Brasil e, especialmente, o Pará, com mais espaço para aumentar suas exportações de soja e outros produtos", explica Ataídes.

Desafios logísticos e estruturais para o crescimento do setor

Apesar das vantagens competitivas, o Pará enfrenta desafios significativos em termos de infraestrutura logística. A falta de portos adequados e a escassez de rodovias e hidrovias eficientes podem limitar o crescimento das exportações do estado. 

Nélio Bordalo, economista paraense, alerta que, para aproveitar essa janela de oportunidade, é necessário melhorar a infraestrutura e garantir uma maior capacidade de escoamento da produção.

"Precisamos de investimentos urgentes em rodoviashidrovias portos, além de uma regularização fundiária para garantir que os produtos cheguem de forma eficiente aos mercados internacionais", diz Bordalo.

A atual subutilização de portos no estado, combinada com a alta demanda por escoamento de grãos de outros estados, como o Mato Grosso, eleva os custos logísticos, prejudicando a competitividade do Pará. 

Mário Tito, doutor em Relações Internacionais, ressalta que a resolução desses problemas logísticos é essencial para garantir a competitividade do estado.

"O Pará precisa melhorar a integração entre seus modais de transporte, como ferrovias, rodovias e hidrovias, para garantir um escoamento eficiente da produção", afirma Tito.

O potencial do Pará para a produção sustentável

Com o aumento das exportações, surgem também questões ambientais relacionadas à expansão da produção de soja e carne bovina. 

Mário Tito alerta para a necessidade de alinhar o crescimento da produção com práticas sustentáveis, garantindo que o estado continue a atrair mercados exigentes, como o chinês, que prioriza a sustentabilidade.

"A produção sustentável será um diferencial importante para o Pará, especialmente em um mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais", afirma Tito.

Além disso, Daniel Freire destaca que a carne bovina produzida no Pará é 100% verticalizada, o que aumenta a competitividade do estado no mercado internacional, já que o produto chega diretamente ao consumidor chinês.

"A verticalização da produção da carne é um grande diferencial para o Pará, pois gera emprego e renda para toda a população", afirma Freire.

O papel do governo e da iniciativa privada

Para consolidar sua posição no mercado internacional, o Pará precisa investir em infraestrutura, inovação tecnológica e capacitação profissional. O apoio do governo estadual é crucial para criar condições favoráveis ao crescimento do setor agropecuário, como a melhoria das estradas e a facilitação das concessões de portos.

Nélio Bordalo também sugere que o estado invista em tecnologia para garantir a rastreabilidade e a certificação internacional dos produtos.

"Investir em tecnologia é essencial para garantir que o Pará atenda às exigências dos mercados internacionais, como a China", diz Bordalo.

A parceria entre o governo, a iniciativa privada e as universidades também será fundamental para o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis.

O futuro das exportações do Pará: oportunidades e riscos

No curto e médio prazo, o Pará tem grandes chances de se beneficiar da reconfiguração do comércio internacional, impulsionado pela guerra tarifária entre os EUA e a China. A demanda por produtos agropecuários deve crescer, mas, para garantir o sucesso a longo prazo, o estado precisa melhorar sua infraestrutura logística e manter a qualidade e sustentabilidade de seus produtos.

Vanderlei Ataídes e Nélio Bordalo concordam que o Pará tem um grande potencial para se tornar um fornecedor chave para a China e outros mercados asiáticos. No entanto, a chave para o sucesso está na capacidade de aproveitar as oportunidades atuais e, ao mesmo tempo, superar os desafios estruturais e logísticos que ainda limitam o crescimento do setor.

Com as ações corretas, o Pará pode se consolidar como uma potência agrícola não apenas para o Brasil, mas também para o mercado global. O tempo é agora, e a estratégia deve ser bem planejada para aproveitar ao máximo a janela de oportunidade aberta pela guerra comercial entre os EUA e a China.





 

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