Tarifaço de Trump pode impulsionar exportações do agronegócio do Pará para a China e outros países
Com a reciprocidade de tarifas ajustada para o alto entre norte-americanos e chineses, o Pará pode se beneficiar de uma demanda crescente da China por soja, carne e outros produtos agropecuários

O tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump sobre produtos chineses está forçando uma reconfiguração nas relações comerciais globais, e o Brasil, especialmente o estado do Pará, pode sair beneficiado com a ampliação de suas exportações de produtos agropecuários para a China e outros países asiáticos, segundo representantes do setor produtivo ouvidos pelo Grupo Liberal. No entanto, conforme economistas paraenses, para aproveitar essa oportunidade, o estado precisa superar gargalos logísticos e investir em infraestrutura, além de garantir a sustentabilidade e a qualidade de seus produtos.
A disputa comercial entre EUA e China abre portas para o agronegócio do Pará, que, com a posição geográfica estratégica e potencial de produção, pode se tornar um fornecedor-chave de carne bovina, soja e outros produtos. Contudo, desafios como a falta de portos adequados, rodovias mal estruturadas e questões ambientais exigem ações rápidas e coordenadas entre o governo e a iniciativa privada.
Os número de exportação do Pará para a China
Em 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Pará exportou 126 bilhões de quilos líquidos de produtos minerais para a China. Isso equivale a US$ 10 bilhões de valor de exportação. O valor é o preço da mercadoria e dos custos até o momento que ela deixa o local de origem.
Em segundo lugar no ranking de quilos líquidos exportados no ano passado, conforme dados do MDIC, estão produtos do reino vegetal, do qual a soja faz parte. Nessa categoria, o Pará exportou 1,8 bilhão para o país asiático, o que representou US$ 809 milhões em valor de exportação.
Animais vivos e produtos do reino animal, da qual a carne bovina faz parte, ocuparam o terceiro lugar no ranking de exportação paraense em 2024, de acordo com o Ministério. O estado exportou 112 milhões de quilos líquidos desses produtos para a China, o que correspondeu a US$ 512 milhões em valor de exportação de janeiro a dezembro.
Em 2025, de janeiro a março, o Pará já exportou 24 bilhões de quilos líquidos de produtos minerais para a China (US$ 1,8 bilhão em valor de exportação), 218 milhões de quilos líquidos de produtos do reino vegetal (US$ 87 milhões em valor de exportação) e 28 milhões de quilos líquidos de animais vivos e produtos do reino animal (US$ 138 milhões em valor de exportação).
Ainda segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, em 2024, a China foi o país para o qual o Pará mais exportou com 49% de participação. Em seguida, ficaram Malásia (5%), Japão (4,5%), Noruega (3,7%) e Estados Unidos (3,6%).
De janeiro a março deste ano, a China ainda lidera como destino de exportação do estado, com 41% de participação, seguida de Noruega (7,7%), Estados Unidos (6,6%) e Canadá (4,9%) até o momento.
A guerra tarifária entre EUA e China: um cenário de oportunidades para o Pará
A China anunciou na manhã de sexta-feira (11/04), no horário de Brasília, que aumentaria de 84% para 125% as tarifas de importação sobre produtos originários dos Estados Unidos. A informação foi divulgada pelo Ministério das Finanças chinês, conforme noticiado pela agência Reuters.
De acordo com comunicado da Embaixada da China nos EUA, a nova alíquota entra em vigor já neste sábado (12/04).
Essa elevação nas tarifas representa mais uma retaliação da China às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump. Na quinta-feira (10/04), os Estados Unidos informaram que as tarifas aplicadas contra o país asiático já somam 145%, em mais um episódio da guerra comercial entre as duas nações.
A medida, que afeta especialmente os exportadores norte-americanos de grãos e proteínas, pode beneficiar outros fornecedores, como o Brasil, que, por sua vez, pode ampliar suas exportações, especialmente para a China, maior comprador mundial de alimentos e insumos agroindustriais.
Daniel Freire, presidente do Sindicato da Carne e Derivados do Pará (Sindicarne-PA) e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), destaca que a disputa entre os dois gigantes comerciais oferece uma excelente oportunidade para o estado do Pará, que, com sua produção diversificada, pode preencher parte da lacuna deixada pelos EUA.
"Com a China buscando novos fornecedores, o Brasil, especialmente o Pará, tem tudo para se tornar um dos principais parceiros comerciais da China", afirma Freire.
Pará como ponte entre o Brasil e a Ásia
Com uma localização geográfica privilegiada e portos estratégicos, o Pará se posiciona de forma vantajosa para atender a demanda crescente da China e de outros países asiáticos. O estado já é um dos maiores produtores de carne bovina e soja do Brasil, e pode expandir suas exportações para mercados emergentes, além da China, como Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul.
Vanderlei Ataídes, presidente da Aprosoja/PA (Associação dos Produtores de Soja, Arroz e Milho do Estado do Pará), aponta que o estado tem potencial para aumentar as exportações de soja, uma vez que a maior parte da produção já é destinada ao mercado internacional.
"A guerra tarifária trouxe uma reorganização da logística mundial, o que pode beneficiar o Brasil e, especialmente, o Pará, com mais espaço para aumentar suas exportações de soja e outros produtos", explica Ataídes.
Desafios logísticos e estruturais para o crescimento do setor
Apesar das vantagens competitivas, o Pará enfrenta desafios significativos em termos de infraestrutura logística. A falta de portos adequados e a escassez de rodovias e hidrovias eficientes podem limitar o crescimento das exportações do estado.
Nélio Bordalo, economista paraense, alerta que, para aproveitar essa janela de oportunidade, é necessário melhorar a infraestrutura e garantir uma maior capacidade de escoamento da produção.
"Precisamos de investimentos urgentes em rodovias, hidrovias e portos, além de uma regularização fundiária para garantir que os produtos cheguem de forma eficiente aos mercados internacionais", diz Bordalo.
A atual subutilização de portos no estado, combinada com a alta demanda por escoamento de grãos de outros estados, como o Mato Grosso, eleva os custos logísticos, prejudicando a competitividade do Pará.
Mário Tito, doutor em Relações Internacionais, ressalta que a resolução desses problemas logísticos é essencial para garantir a competitividade do estado.
"O Pará precisa melhorar a integração entre seus modais de transporte, como ferrovias, rodovias e hidrovias, para garantir um escoamento eficiente da produção", afirma Tito.
O potencial do Pará para a produção sustentável
Com o aumento das exportações, surgem também questões ambientais relacionadas à expansão da produção de soja e carne bovina.
Mário Tito alerta para a necessidade de alinhar o crescimento da produção com práticas sustentáveis, garantindo que o estado continue a atrair mercados exigentes, como o chinês, que prioriza a sustentabilidade.
"A produção sustentável será um diferencial importante para o Pará, especialmente em um mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais", afirma Tito.
Além disso, Daniel Freire destaca que a carne bovina produzida no Pará é 100% verticalizada, o que aumenta a competitividade do estado no mercado internacional, já que o produto chega diretamente ao consumidor chinês.
"A verticalização da produção da carne é um grande diferencial para o Pará, pois gera emprego e renda para toda a população", afirma Freire.
O papel do governo e da iniciativa privada
Para consolidar sua posição no mercado internacional, o Pará precisa investir em infraestrutura, inovação tecnológica e capacitação profissional. O apoio do governo estadual é crucial para criar condições favoráveis ao crescimento do setor agropecuário, como a melhoria das estradas e a facilitação das concessões de portos.
Nélio Bordalo também sugere que o estado invista em tecnologia para garantir a rastreabilidade e a certificação internacional dos produtos.
"Investir em tecnologia é essencial para garantir que o Pará atenda às exigências dos mercados internacionais, como a China", diz Bordalo.
A parceria entre o governo, a iniciativa privada e as universidades também será fundamental para o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis.
O futuro das exportações do Pará: oportunidades e riscos
No curto e médio prazo, o Pará tem grandes chances de se beneficiar da reconfiguração do comércio internacional, impulsionado pela guerra tarifária entre os EUA e a China. A demanda por produtos agropecuários deve crescer, mas, para garantir o sucesso a longo prazo, o estado precisa melhorar sua infraestrutura logística e manter a qualidade e sustentabilidade de seus produtos.
Vanderlei Ataídes e Nélio Bordalo concordam que o Pará tem um grande potencial para se tornar um fornecedor chave para a China e outros mercados asiáticos. No entanto, a chave para o sucesso está na capacidade de aproveitar as oportunidades atuais e, ao mesmo tempo, superar os desafios estruturais e logísticos que ainda limitam o crescimento do setor.
Com as ações corretas, o Pará pode se consolidar como uma potência agrícola não apenas para o Brasil, mas também para o mercado global. O tempo é agora, e a estratégia deve ser bem planejada para aproveitar ao máximo a janela de oportunidade aberta pela guerra comercial entre os EUA e a China.
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