Cesta básica de alimentos em Belém custa R$697,81 em janeiro e compromete mais da metade do salário

Capital paraense tem 12ª cesta básica mais cara do país e é a segunda capital com maior aumento do preço da cesta em janeiro; alta do tomate, café, carne, açúcar, óleo e banana pesaram no bolso dos paraenses neste início de ano.

Jéssica Nascimento
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Segundo uma pesquisa do Dieese/Pa (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), publicada nesta quinta (6/02), o custo total da cesta básica de alimentos comercializada em Belém ficou 4,8% mais caro em janeiro de 2025 em relação a dezembro de 2024. No mês passado, a cesta básica dos paraenses custou, em média, R$ 697,81 e ainda comprometeu mais da metade do novo salário mínimo de R$ 1.518,00 em vigor desde 1º de janeiro deste ano. Em dezembro do ano passado, a mesma cesta básica custava, em média, R$665,83

Isso se explica porque, em janeiro, a maioria dos produtos que compõem a cesta básica aumentaram de preço, de acordo com a pesquisa. O tomate foi o alimento com a maior alta. O preço médio do quilo dele foi de R$7,24 para R$8,15 - uma variação mensal de 12,57%. Segundo produto com maior encarecimento, o café tinha como preço médio do quilo R$50,02 em dezembro de 2024 e, no primeiro mês de 2025, passou a custar R$54,57. O aumento de um mês para o outro foi de 9,10%.  

A carne bovina foi o terceiro alimento que mais encareceu em janeiro. Com preço médio do quilo custando R$40,63 em dezembro, ela teve uma alta de 8,81% e passou a custar R$44,21 no mês passado. Quarto produto com maior aumento, o açúcar variou 7,39% no preço médio do quilo. Foi de R$5,68 para R$6,10. Atrás do açúcar, ficaram o óleo, com alta de 6,33%, e a banana, com alta de 4,52%. O primeiro foi de R$9,63 em dezembro para R$10,24 em janeiro; o segundo alimento, de R$10,18 para R$10,64 no mesmo intervalo de tempo.

Cesta básica também teve itens mais baratos 

No entanto, apesar do aumento da cesta básica, alguns itens dela tiveram queda de preço no início deste ano, conforme a pesquisa do Dieese/Pa. O alimento com maior recuo foi o leite (1,71%), que tinha o preço médio do litro em dezembro de 2024 custando R$8,18 e passou a custar R$8,04 em janeiro. Segundo produto que mais ficou barato, o feijão teve queda de 1,64% no preço médio do quilo. No mês passado, custou R$6; no mês retrasado, R$6,10.

Também ficaram baratos, em janeiro, o arroz, com queda 1,36%, e a farinha de mandioca, com recuo de 0,28%. O preço médio do quilo do primeiro item foi de R$7,36 para R$7,26 no início do ano em relação a dezembro do ano passado; do segundo item, de R$10,82 para R$10,79 durante o mesmo período.

Apesar da queda no preço, a manteiga foi o produto com o menor recuo. Isso porque o item ficou apenas um centavo mais barato. Em dezembro de 2024, o preço médio do quilo custava R$64,96. Já em janeiro deste ano, passou a custar R$63,97. A variação mensal foi de 0,02%. 

Pão foi o único alimento sem variação de preço

Conforme o Dieese/Pa, o pão foi o único item da cesta básica dos paraenses que não ficou mais caro nem mais barato em janeiro deste ano em relação a dezembro do ano passado. Durante o período, o preço médio do quilo do alimento permaneceu em R$15,77.

Mesmo com alta, cesta básica belenense fica abaixo da inflação

Em um ano, a cesta básica de alimentos em Belém ficou 6,26% mais cara. O preço médio dela foi R$656,78, em janeiro de 2024, para R$697,81 em janeiro deste ano. 

Apesar da alta, a cesta básica da capital paraense ficou abaixo da inflação de alimentação e bebidas para o ano de 2024. Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o INPC (Índice de Preços ao Consumidor) teve uma variação anual de 7,39% em Belém. 

Belém tem uma das cestas básicas mais caras do país

Segundo o balanço da pesquisa nacional da cesta básica de alimentos do Dieese, Belém é a 12ª capital com a cesta mais cara entre 17 capitais do país em janeiro de 2025

O primeiro lugar ficou com São Paulo. A capital tem a cesta básica mais cara do país, com o custo total de R$851,82. Por outro lado, Aracaju, capital de Sergipe, tem a cesta básica mais barata do país. Ela teve o custo total, no início do ano, de R$571,43.

Capital paraense teve 2º maior aumento da cesta no Brasil

Ainda conforme o balanço nacional, em janeiro, Salvador foi a capital que apresentou a maior alta de preço da cesta básica em relação a dezembro do ano passado - um aumento médio de 6,22%. A cesta da capital baiana tem custo total de R$620,23.

Belém foi a capital brasileira com o segundo maior encarecimento da cesta básica entre as 17 capitais pesquisadas pelo Dieese. Terceira capital com a maior alta, Fortaleza teve aumento de 3,96% na cesta básica de alimentos em janeiro deste ano. O valor da cesta da capital cearense ficou em R$700,44.

Projeção é de queda no preço dos alimentos, segundo economista

Segundo o economista Mário Tito, a inflação geral de um país é uma média de todos os produtos que são verificados pelo preço. Dessa forma, a inflação geral, na média, está na perspectiva do governo federal dentro do que ele propôs.

“Agora, a inflação dos alimentos impacta a população de baixa renda. Por quê? Porque, em geral, esses alimentos são alimentos de primeira necessidade, são alimentos que estão nos supermercados e que são objetos de compra da população”, explica Tito. 

Para ele, a tendência para os próximos meses é de queda no preço dos alimentos básicos. Um dos motivos seria a preocupação do governo federal com a questão econômica. Outro motivo seria a atuação da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que tem como objetivo final, conforme o economista, ter um estoque regulador de alimentos. 

“Quando você reforça o papel da Conab, você tá estabelecendo a possibilidade de ter um estoque de alimentos que possa regular o preço deles. Por exemplo: se o preço do arroz está muito alto e o governo tem um estoque desses alimentos, ele pode colocar no mercado esses alimentos fazendo com que a oferta desse produto aumente e o preço necessariamente caia”, avalia o economista.

Além disso, Tito percebe que o governo federal pode priorizar a safra da agropecuária brasileira para o mercado interno nacional em detrimento do mercado externo. 

“Há uma tendência de que, daqui pra frente, o preço desses produtos diminuam um pouco mais de modo que essa combinação de estoque regulador, de direcionamento da produção mais internamente e do financiamento da agricultura familiar, que é quem efetivamente produz os alimentos para a mesa dos brasileiros, possa gerar uma diminuição progressiva dos preços”, afirma o economista. 

Perspectiva de safra grande é esperança, mas produção tem desafios

Mário Tito ressalta que o Brasil pode ter uma safra histórica, tanto na perspectiva do agronegócio quanto na perspectiva da agricultura geral, o que pode ajudar a diminuir o preço dos alimentos no país. 

“Entende-se que a agricultura como um todo no país é que tem o setor do agronegócio, com grandes empresas produtoras, muitas vezes exportadoras, mas também a massa da agricultura familiar, que produz em médias e pequenas propriedades os alimentos para o consumo interno”, analisa o economista. 

Conforme ele, houve uma melhoria no volume do crédito agrícola destinado para o agronegócio e para a agricultura familiar no Plano Safra, programa do governo federal que busca apoiar o setor agropecuário mediante linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas.

Por isso, para Mário Tito, o resultado será o aumento da produção de alimentos no país. Contudo, segundo ele, há “gargalos” com relação a isso.

“Percebe-se que muitas das áreas, que podiam por exemplo estar sendo destinadas para plantio de feijão, arroz, milho, trigo, estão sendo ocupadas por produtos que vão pra fora, como a soja”, analisa.

Segundo ele, essa questão impacta de forma negativa na disponibilidade dos alimentos e, como consequência, no preço deles. 

Dependência de Belém com mercado externo impacta preço dos alimentos 

De acordo com Mário Tito, o aumento de preço da cesta básica na capital paraense é motivado por outro fator além das questões nacionais. 

“Os nossos hortifrútis em geral vêm de São Paulo. Isso demonstra que o estado do Pará como um todo precisa rever o apoio que se dá à agricultura familiar na produção de alimentos. Isso denota ainda uma distorção no mercado local, regional”, explica o economista.

Para ele, o poder público tem o desafio de repensar o financiamento e a valorização da produção local para que o produto em Belém chegue mais barato sem os custos de transporte de outros estados. 

Consumidores veem alta como normal, mas encaram desafio do consumo

Selma Brito, dona de casa e pensionista, considera o aumento de preço como algo natural. “Todo ano a inflação aumenta mais que o salário mínimo. Já tô acostumada e isso não vai mudar”, declarou.

Para ela, a solução é a organização financeira e a pesquisa de preços. “Quando vou ao supermercado, observo o que o aumentou, o que não aumentou e sempre faço escolhas entre esse ou aquele produto. Também organizo meu dinheiro pras compras e sempre tenho uma reserva”, disse.

Renata Mariana, organizadora e designer de eventos, sente os efeitos de itens mais caros ao mesmo tempo que faz escolhas no que consumir por mês. “Sempre coloco na balança o que levar ou não do supermercado. Tem dia que um produto ali tá mais caro, outro dia que ele tá mais barato, então varia muito”, explicou.

De acordo com ela, a saída para a cesta básica mais cara é poupar mais e gastar menos com algo desnecessário. “Eu e meu marido colocamos na balança sobre o que é necessário. Poupamos muito e evitamos gastos supérfluos nas compras do mês”, declarou. 

 

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