Após cinco meses, Americanas assume fraude em resultados

Relatório elaborado por assessores jurídicos da varejista mostra que antiga diretoria da empresa fazia suposta contratação de bônus junto à indústria

O Liberal
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A Americanas assumiu, cinco meses após vir à tona o escândalo do rombo de R$ 20 bilhões em seus balanços, que houve uma fraude. Assessores jurídicos da varejista elaboraram um relatório em que apontam que demonstrações financeiras vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da empresa. O documento foi apresentado nesta segunda (12) ao conselho de administração da companhia, que emitiu, na manhã desta terça-feira (13), um comunicado.

O relatório foi baseado em documentos do comitê de investigação independente, criado no final de janeiro. A equipe acompanha a Americanas desde quando ela entrou em recuperação judicial. A varejista afirma que a fraude ocorria na suposta contratação de bônus junto à indústria. Essa é uma prática comum no varejo, quando fabricantes dão descontos para grandes encomendas, que o relatório apontou como "contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC)". 

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Ou seja, o nome do fabricante aparecia em campanhas da Americanas, que por isso recebia um desconto na compra dos produtos. Mas estes descontos não ocorreram de fato. Com as supostas negociações vantajosas, a companhia melhorava o seu balanço. Por outro lado, para cumprir o pagamento aos fornecedores, a diretoria anterior contratou empréstimos sem o conhecimento do conselho de administração, o que aumentou o seu passivo, irregularmente contabilizado, diz o documento.

"Esses lançamentos [de VPC], feitos durante um significativo período, atingiram, em números preliminares e não auditados, o saldo de R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022", diz o relatório. 

"As contrapartidas contábeis em balanço patrimonial desses contratos de VPC criados ao longo do tempo, os quais não tiveram lastro financeiro associado, se deram majoritariamente na forma de lançamentos redutores da conta de fornecedores, totalizando, em números preliminares e não auditados, o saldo de R$ 17,7 bilhões em 30 de setembro de 2022. A diferença de R$ 4 bilhões teve como contrapartidas lançamentos contábeis em outras contas do ativo da companhia", diz o fato relevante.

Além disso, as operações de financiamento de compras (risco sacado, forfait ou confirming) somam R$ 18,4 bilhões e as operações de financiamento de capital de giro alcançam R$ 2,2 bilhões, em números preliminares, diz o texto. A empresa também informou que foram identificados lançamentos redutores da conta de fornecedores oriundos de juros sobre operações financeiras, que deveriam ter transitado pelo resultado da companhia ao longo do tempo, totalizando, em números também preliminares e não auditados, R$ 3,6 bilhões. 

De acordo com a Americanas, os ajustes contábeis definitivos estarão refletidos nos demonstrativos financeiros históricos auditados que serão reapresentados assim que os trabalhos estiverem concluídos. Ainda conforme o fato relevante, o conselho de administração orientou a companhia e os assessores a apresentarem o relatório a todas as autoridades competentes e avaliarem as medidas necessárias para ressarcir os danos causados pela fraude.

Participações

O relatório indica a participação na fraude do ex-presidente-executivo Miguel Gutierrez, que se desligou da empresa em dezembro de 2022 depois de passar 20 anos no comando da varejista, bem como de outros ex-diretores e ex-executivos, e afirma que houve esforços da diretoria anterior para ocultar a real situação do resultado e patrimonial.

O relatório indica a participação dos ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e dos ex-executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes.

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