Alimentação, comércio, panificação: Entenda os efeitos da queda do dólar na economia paraense
Desvalorização da moeda norte-americana traz desafios e oportunidades para o comércio, alimentos, panificação e materiais de construção no Pará.

O recente enfraquecimento do dólar, que chegou a R$ 5,64 na última quarta (19/03), o menor valor em cinco meses, começa a trazer reflexos para os setores econômicos do Pará, principalmente nos produtos importados, como alimentos, materiais de construção e itens de consumo. Porém, os impactos são graduais e variam de acordo com o segmento, refletindo tanto nas vantagens para os consumidores quanto nos desafios para os comerciantes locais. Fontes ouvidas pelo Grupo Liberal indicam que o fenômeno é uma combinação de fatores internos e internacionais que, apesar de promissores, exigem cautela.
Dólar em queda: o contexto da moeda e os efeitos
Nos últimos meses, a moeda norte-americana tem registrado sucessivas quedas, com a taxa de câmbio atual estabelecendo o dólar a R$ 5,64, atingido na última quarta, 19 de março, o menor valor desde outubro de 2024.
O valor de R$ 6,20, que foi atingido no período das festas de fim de ano, fazia com que muitos produtos importados ficassem significativamente mais caros. Agora, com a redução da moeda, há uma expectativa de que isso se traduza em menores custos para setores como supermercados, panificação e varejo.
De acordo com Mário Tito, economista e doutor em Relações Internacionais, a variação da taxa de câmbio reflete as dinâmicas globais e as trocas comerciais.
“O preço do dólar é influenciado pela oferta e demanda dessa moeda no mercado internacional. Quando o país exporta mais do que importa, a entrada de dólares tende a aumentar, o que pode reduzir o valor da moeda americana no Brasil”, explica Tito.
Ele acrescenta que a estabilidade econômica do Brasil também tem ajudado na valorização do real frente ao dólar, tornando o país um destino atrativo para investidores internacionais.
“O investidor ama o risco, mas ele odeia a incerteza. Ou seja, quando um determinado país passa por instabilidade, é muito comum que o investidor não traga o seu dinheiro para cá. Por outro lado, quando o país está estável, o dinheiro entra porque os investidores vem”, detalha.
Para o economista, o preço do dólar reflete a demanda do mercado de oferta e procura. “Tudo que é raro é caro. Ou seja, quando tem pouco de um produto no mercado, o preço dele tende a subir. Isso acontece com dólar. Quando o dólar fica caro, significa que eu gasto mais reais para comprar 1 dólar”, afirma.
Impactos nos supermercados: produtos importados embarcam na tendência de queda
Jorge Portugal, presidente da Associação Paraense de Supermercados (ASPAS), aponta que a queda do dólar terá reflexos diretos nos preços de produtos importados.
“Embora não seja um efeito imediato, a tendência é de que os preços de itens como azeite, bacalhau e trigo, que são importados, passem a diminuir com o tempo, já que esses produtos são comprados em dólares e o impacto da moeda é percebido mais adiante”, explica.
Segundo ele, o efeito será mais visível no próximo mês, à medida que as compras realizadas com a cotação mais baixa se refletem nas prateleiras.
No entanto, de acordo com Portugal, é importante observar que nem todos os produtos sofrem igualmente com a variação cambial. A maior parte dos alimentos que chegam aos supermercados do Pará provém da produção local ou de estados próximos, o que limita o impacto imediato da queda do dólar nos preços, segundo o presidente.
Ainda assim, os consumidores podem esperar uma tendência de redução gradual nos itens importados.
Ceasa e produtos locais: impacto mínimo da moeda
Denivaldo Pinheiro, diretor técnico da Ceasa (Central de Abastecimento do Pará), destaca que a queda do dólar tem pouco efeito nos preços dos alimentos comercializados no entreposto.
“A Ceasa abastece principalmente com produtos que vêm de outras partes do Brasil, e os itens importados não representam nem 2% do total de alimentos que comercializamos”, explica Pinheiro.
Portanto, conforme ele, a desvalorização do dólar não deve impactar de forma significativa o custo dos alimentos básicos, como frutas, legumes e verduras, que são mais dependentes da oferta e demanda interna.
Panificação: expectativa de preço menor no trigo e nos produtos derivados
No setor de panificação, a expectativa é um pouco mais otimista. André Carvalho, presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Pará (Sindipan/PA), acredita que a queda do dólar pode refletir diretamente na redução do preço do trigo, a principal matéria-prima para pães, bolos e biscoitos.
“Com a redução do custo de importação do trigo, esperamos que isso se traduza em preços mais acessíveis para os produtos derivados dessa matéria-prima”, afirma Carvalho.
Para ele, caso o valor do cereal seja reduzido, isso pode impactar diretamente os preços dos produtos derivados do trigo, beneficiando tanto o setor de panificação quanto os consumidores.
Sobre os produtos que podem ter a maior queda de preço, Carvalho cita pães, bolos e biscoitos, desde que o preço do trigo acompanhe a queda da moeda norte-americana.
Materiais de Construção: setor ainda não sente o reflexo da queda do dólar
Enquanto alguns setores já começam a visualizar os efeitos da queda do dólar, no mercado de materiais de construção, a situação é diferente.
Herivelto Bastos, presidente da ACOMAC/PA (Associação dos Comerciantes de Material de Construção do Estado do Pará), afirma que a redução da moeda norte-americana não resultou em queda nos preços dos produtos do setor.
“O mercado de materiais de construção é muito influenciado pelas multinacionais, que aproveitam a valorização do real para reajustar os preços. Quando a moeda desvaloriza, não sentimos uma redução proporcional nos preços”, argumenta Bastos.
Varejo: lojistas veem oportunidade com a queda do dólar, mas com desafios no curto prazo
No comércio varejista, a perspectiva é mais otimista, embora com um grau de cautela. Eduardo Yamamoto, presidente do Sindilojas (Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Belém), avalia que a queda do dólar pode resultar em produtos importados mais baratos.
“Itens como eletrodomésticos, móveis e materiais automotivos podem ter seus preços reduzidos, o que deve beneficiar tanto os lojistas quanto os consumidores”, diz Yamamoto.
Contudo, ele alerta que muitos lojistas ainda operam com estoques adquiridos a preços mais elevados, o que pode retardar a redução dos preços.
“Estamos orientando nossos associados a repassar os benefícios dessa desvalorização aos consumidores assim que possível, para manter a competitividade no mercado.”
Reflexos no comércio externo: o dólar menor ainda atraente para as exportações
Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA, explica que, embora o dólar tenha caído, o Brasil ainda mantém uma balança comercial positiva, o que significa que os produtos nacionais continuam sendo atraentes no mercado externo.
“A demanda por produtos como soja, café e carne, por exemplo, ainda mantém os preços altos, pois o dólar, mesmo com a queda, continua vantajoso para compradores internacionais”, observa Costa.
Portanto, a redução da moeda norte-americana pode ter um efeito limitado sobre o mercado interno, pois a crescente demanda externa pode manter os preços elevados.
“A gente tá falando de uma flutuação da moeda americana que talvez neste momento não traga tanta influência ou não traga tantos resultados esperados de queda no preço dos alimentos”, analisa.
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