'Abandone a culpa', diz empresária sobre conciliar carreira e maternidade

Presidente do Conselho da Mulher Empresária (CME) da Associação Comercial do Pará (ACP), Izabela Araújo, diz que segredo para ter sucesso é se dedicar e não sentir culpa por nem sempre estar presente ao lado dos filhos

Elisa Vaz

O mercado de trabalho pode ser desafiador para as mulheres que escolheram dividir a profissão com a maternidade. Muitas acham que precisam optar por apenas um desses dois universos, mas, constantemente, as mulheres mostram que são capazes de usar, durante o dia, uma roupa formal e comparecer a reuniões de trabalho e, à noite, dar prioridade para a família. Para a presidente do Conselho da Mulher Empresária (CME) da Associação Comercial do Pará (ACP), Izabela Araújo, o segredo para ter sucesso nas duas atividades é se dedicar e não sentir culpa por nem sempre estar presente ao lado dos filhos. O Liberal entrevistou a advogada e empresária sobre trabalho e maternidade:

Pergunta (P): Como começou a sua trajetória profissional?
Resposta (R): Sou advogada, formada há mais de 15 anos, e comecei trabalhando em um grande escritório da região. Lá eu cresci, me desenvolvi, cheguei à coordenação de uma área e assim fui me desenvolvendo. Até que, há nove anos, decidi que era o momento de abrir o meu próprio escritório, tinha chegado o meu momento. Ali eu já tinha galgado vários cargos e tinha alguns clientes próprios porque sempre atuei muito com captação de clientes. E surgiu a oportunidade com mais outras duas sócias, mulheres também, de outras áreas. Então, ficaria um ‘mix’ legal dentro do direito, e eu parti para essa empreitada de abrir o meu próprio negócio. Foi um grande desafio porque na época eu estava gestante do meu segundo filho, João. Estava com quatro meses quando surgiu a oportunidade de montar o escritório e decidi entrar nessa empreitada grávida mesmo. O João nasceu no dia 24 de junho e o escritório foi fundado dia 10, mais ou menos.

P: Você estava grávida do seu segundo filho, então quando teve o primeiro ainda não era empresária. Você sentiu muita diferença de uma gestação para a outra?
R: É bem diferente. Quando a gente é dona do nosso próprio negócio, tudo depende da gente, ainda que você tenha uma equipe, colaboradores, o que é muito importante. Não seria possível desenvolver nenhum trabalho sem ajuda de outras pessoas, então óbvio que as minhas sócias tomaram bastante a frente na época e isso tudo para mim foi mais fácil por elas estarem à frente. Quando eu tive meu primeiro filho eu nem trabalhava, é uma realidade completamente diferente você poder estar em casa e ter um tempo maior com o bebê.

P: Como funciona o trabalho na CME?
R: O Conselho da Mulher Empresária é um órgão da ACP, a finalidade é desenvolver ações para o fomento do empreendedorismo feminino na região, na nossa área de atuação. Nosso trabalho junto com a Associação é de trazer esse ambiente de negócio para as mulheres. Sempre foi muito difícil empreender, e para as mulheres ainda mais, e o Conselho busca promover ações, eventos, parcerias e networking que vão gerar ambiente de negócios para as mulheres, incluindo profissionais liberais, jornalistas, médicas e mulheres que estejam à frente do seu negócio.

P: Você teve o terceiro filho há quatro meses. Como conciliar as três atividades?
R: A maternidade acompanha minha vida profissional. Quando tive o primeiro filho estava estudando, me formei com meu filho junto, o Lucas, que é o mais velho. Levava ele para a faculdade, estagiava e ele já era nascido. Depois, quando fundei o escritório estava grávida do João e foi mais um desafio de captar clientes e me solidificar no mercado. E no ano passado, depois de oito anos no Conselho, fui convidada pela diretoria para ser a nova presidente, quando estava grávida do Antônio, meu terceiro filho. Elas me demonstraram confiança, todas são mães e me disseram que é normal as mulheres serem mães e profissionais. Senti isso como um chamado, para mostrar que somos capazes. Aceitei o desafio e essa semana faz um mês que sou presidente. Empreender exige desprendimento, não consigo estar o tempo todo com o meu filho e está tudo bem. Escolhi ser mãe, ser advogada, sócia e presidente. Acho que a grande sacada dessa vida é não se sentir na obrigação de ser uma super mulher e desenvolver todos esses papéis ao mesmo tempo. Não é fácil, mas é possível e muitas mulheres fazem.

P: Qual dica você dá para as mães de primeira viagem que querem ser profissionais e têm medo de fazer os dois?
R: Abandone a culpa. Uma mulher de sucesso não tem culpa, isso é sabotagem. Se você quiser empreender, ser só profissional ou só mãe você pode. Mas se escolher os dois você vai estar assumindo um compromisso e isso exige dedicação. Estar preparada para a renúncia porque tem momentos que você vai precisar renunciar sua família e em outros vai priorizar esses momentos. Mas é evidente que, no início da carreira, precisa dedicar mais atenção, então estar preparada para esse acúmulo de atividades e meter a cara. Somos capazes de tudo que quisermos, basta estarmos prontas para assumir esse desafio.

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