Tó Teixeira: mostra revela em Belém a poesia das canções em imagens e sons desse artista da Amazônia

Basta olhar as fotos que Miguel Chikaoka fez do músico e compositor paraense Tó Teixeira nos anos 1980 para se transportar para o universo sonoro das composições desse artista singular na Amazônia. Tó Teixeira exalava música, sensibilidade. Fotos e música se aliam para contar uma história de arte e resistência de uma pessoa que amou demais o que fazia, e isso o público vai poder ver de perto a partir desta quinta-feira (3), às 19h, na Exposição “Tó Teixeira – Mergulho na Vida e Obra”, no Museu da Imagem e do Som do Pará (MIS-Pa).

Selecionado pelo programa Rouanet Norte, com o patrocínio do Banco da Amazônia, Caixa, Banco do Brasil e Correios, e apoio institucional do Governo do Estado/Secult-Pa, esse projeto apresenta uma série de informações em forma de imagens, textos, depoimentos e música sobre ese nome musical negro amazônida. Antônio Teixeira do Nascimento Filho, conhecido como Tó Teixeira, nasceu em 13 de junho de 1893, no bairro do Umarizal, em Belém. Ele faleceu em 1982. Violonista, compositor e professor autodidata, Tó desempenhou um papel fundamental na música paraense.

Tó Teixeira iniciou sua trajetória como encadernador de livros, ofício esse qeu o aproximou da literatura e influenciou sua criação musical. Tó tornou-se o primeiro professor de violão da região amazônica. Na casa dele, formou gerações de músicos de diferentes classes sociais. Ele era um multi-instrumentista e compôs valsas, choros, ladainhas, carimbós e sambas. Introduziu o violão em ritmos tradicionais paraenses, como o “bambiá”, considerado precursor do carimbó.

Foi o primeiro músico negro a realizar um recital de violão no Pará, mas teve sua obra pouco registrada em vida. Seu legado foi resgatado pelo violonista Salomão Habib, que dedicou décadas à pesquisa e divulgação da música de Tó.

Exposição funciona como um portal ao público sobre a vida e obra do compositor Tó Teixeira, em Belém (Foto: Miguel Chikaoka)

Música no ar

Quem não quiser perder a chance de conhecer ou rever a história e obra de Tó Teixeira vai ter na mostra, com curadoria de Alexandre Sequeira, as visões de dois importantes artistas: o fotógrafo e educador Miguel Chikaoka e Salomão Habib. Além disso, a produtora cultural Makiko Akao é a idealizadora e a coordenadora geral do projeto, que tem montagem e concepção a cargo de Nando Lima (edição de vídeos) e Leno Martins.

Assim, o público vai conferir a casa onde Tó viveu na rua Domingos Marreiros, no bairro do Umarizal, em Belém. Outras atrações são o ateliê de encadernação na travessa 13 de Maio e o palco do Theatro da Paz, onde o compositor foi homenageado em 1980.

São expostas fotografias, objetos e documentos, com direito a um violão ressonador e um cavaquinho Giannini dos anos 1960/1970, e um contrabaixo de três cordas do século 17. Estarão acessíveis anotações, partituras, métodos de ensino musical e colagens que revelam a potência criativa do artista. Os artistas Armando Sobral, Dias Junior, Bruno Rocha, Felipe Cortez e Petchó Silveira foram convidados a expor obras a partir do mergulho no universo de Tó.

“Acreditamos poder assim colaborar para o entendimento do exercício de rememorar enquanto potência de ressignificação e emancipação, algo que nos faz compreender o presente e, ao mesmo tempo, projetar expectativas de futuro”, afirma o curador Alexandre Sequeira.

Para Makiko Akao, sócia titular da Kamara Kó Fotografia e da Galeria Kamara Kó, “o projeto é uma homenagem a um personagem importantíssimo na história cultural do Pará, que ficou esquecido no tempo, aliás, muitos desconhecem ou ainda conhecem apenas como nome de lei de incentivo cultural ‘Lei Tó Teixeira’ ”. Makiko ressalta que, na mostra, será possível a audição das composições de Tó executadas por Salomão Habib. “Tudo que pesquisamos sobre o Tó Teixeira é muito interessante. Sua vida de artista negro, o contexto social da época, o perfil agregador do músico e o músico maravilhoso que conseguiu de certa forma adentrar na sociedade da época com a sua música”, salienta.

Fotos e sons

Pouco tempo antes de morrer, Tó foi fotografado por Miguel Chikaoka, e esse ensaio fundamentou a curadoria da mostra. “Estou honrado em compor essa homenagem com imagens que tive a felicidade de produzir em momentos de grande significado e carga emocional. Pensar que tive o privilégio de conhecê-lo, trabalhando em sua oficina, na sua residência-escola e no palco do teatro me toca profundamente e continua sendo um aprendizado”, ressalta Chikaoka.

Outro pilar para a mostra foi a pesquisa de Salomão Habib, reunida no livro “Tó Teixeira – O Poeta do Violão” (2013). “O projeto que se abre aos olhos do público traz um humilde e nobre compositor [...] Uma história de resistência pautada no papel de pão onde Tó escrevia suas músicas e canções”, destaca Habib.

“Com uma musicalidade imersa em raízes populares com temáticas de gêneros basilares do cancioneiro nortista, Tó conseguiu reunir uma forma simples e densa da Amazônica trazendo a linearidade das harmonias transformadas também em melodias na estrutura musical de suas composições. Um marco na construção da identidade do violão amazônico", diz o pesquisador.

Habib narra um fato marcante na vida do músico. “Lutando arduamente contra a miséria e o preconceito, Tó Teixeira considerou um dia em 1925 como "o dia mais feliz da minha vida", pelo simples fato de ter sido convidado para uma festa na antiga rua Saldanha Marinho e lá haver apenas ele como único ‘homem de cor’. Esse fato mostra um racismo estrutural e conformado da parte de Tó e de todos as lesões pretas da época”, diz ele, que pesquisa a obra do compositor há 36 anos.

O projeto também oferecerá ao público, ao longo da exposição, palestras, mostra de filmes e oficina. No dia 6 de abril, além de visitas mediadas na exposição, será exibido o documentário “Tó Violão Mestre” (Direção de. Felipe Cortez / versão completa), realizado pela TV Cultura do Pará, às 11h, no auditório Eneida de Moraes, também no MIS-Pa / Centro Cultural Palacete Faciola.

Serviço

Exposição: Tó Teixeira – Mergulho na Vida e Obra

Abertura: 3 de abril de 2025, às 19h

Visitação: de 4 de abril a 30 de agosto de 2025

Local: Museu da Imagem e do Som do Pará (MIS-Pa) – Centro Cultural Palacete Faciola

Endereço: Av. Nazaré, 138 – Esquina da Dr. Moraes - Nazaré, Belém (PA)

Entrada gratuita

Informações: @toteixeiramergulhonavidaeobra