O poder de Iemanjá na música: artistas celebram a Rainha do Mar em canções de fé e ancestralidade
No Dia de Iemanjá, cantores como Jeff Moraes e Naieme destacam a influência da orixá em suas composições, conectando espiritualidade, cultura amazônica e tradição popular
É comemorado no próximo domingo (2) o Dia de Iemanjá, conhecida como Rainha do Mar, bem como a protetora dos pescadores. Yèyé omo ejá (“Mãe cujos filhos são peixes”), também é considerada protetora das crianças e idosos, além de ser a divindade da fertilidade. A força e a espiritualidade de Iemanjá inspiram artistas em suas composições, conectando fé, cultura e identidade.
Seja por meio das religiões de matriz africana ou do sincretismo religioso, nomes como Jeff Moraes e Naieme traduzem em suas músicas a relação com as águas, o sagrado feminino e a ancestralidade. Canções que evocam o poder do mar e das encantarias revelam não apenas uma devoção, mas também uma forte ligação com as tradições populares e a natureza amazônica.
Lançada em 2 de fevereiro de 2023, no Rio de Janeiro, a música “Yagô” destaca a relação da cantora Naieme com a espiritualidade e o feminino. A canção aborda tanto Iemanjá quanto Nossa Senhora de Nazaré, refletindo como as pessoas se conectam com o divino. “Yagô é uma música que fala não só da relação da espiritualidade com o Iemanjá, mas é uma música que fala de Nossa Senhora de Nazaré, que fala de como as pessoas procuram se conectar com o divino, tanto que eu falei, ‘eu me entendo com Deus e com Nossa Senhora’. Eu tenho a minha forma de me conectar e uma dessas formas é a música, é a criação, a arte traduzir a expressão, aquilo que a gente sente, que pensa”, disse a artista.
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“Essa música não fala só de Iemanjá, ela fala dessas entidades femininas, das águas, das florestas. A minha música, o meu trabalho como um todo fala disso. E não à toa eu vou representar a Jarina, que é mais uma referência de Encantaria, de Força das Águas, uma das três irmãs que atravessaram o oceano, passaram o estreito de Gibraltar, atravessaram o portal da Encantaria e foram parar primeiro no Marajó, depois que eles seguiram a sua viagem para os Lençóis Maranhenses”, contou Naieme, que vai participar do desfile da Grande Rio, que homenageia o Pará, interpretando Jarina.
O cantor Jeff Moraes explica sua conexão com Iemanjá, que vem de sua vivência no candomblé e nas religiões de matriz africana. Para ele, Iemanjá é uma força vital que rege as águas salgadas e também representa o sentimento materno e matriarcal, sendo considerada a mãe dos orixás. Jeff possui duas músicas que fazem referência à orixá: “Coisa de Pele” e “Maiandeua”.
Em “Coisa de Pele”, ele usa a metáfora do mar para expressar a entrega em uma paixão, destacando a imensidão e a força das águas. Já em “Maiandeua”, uma homenagem à ilha de mesmo nome, ele inicia a canção com a saudação a Iemanjá: “Odoiyá, maré cheia, Odoiyá, beira-mar”, reforçando sua reverência à Rainha do Mar. “Entendendo que Iemanjá é uma força vital, uma orixá que tem uma potência de reger as águas salgadas, mas também tem um sentimento materno, matriarcal, que carrega junto, considerada a mãe dos orixás. Então, eu consigo me identificar muito com ela a partir disso. Eu tenho duas músicas que falam sobre que citam o nome dessa orixá, que é Iemanjá”, comentou Jeff.
“Em ‘Coisa de Pele’, o refrão da música diz: ‘Deixo a maré nos levar, abençoa o nosso amor nos braços de Yemanjá’. E eu uso essa metáfora do mar como uma forma de a gente se jogar de cabeça numa paixão, se jogar de cabeça em um afeto que tem a imensidão, a grandeza e a força das águas salgadas do mar. Então, é por isso que eu compus essa música e trouxe nesse refrão essa força que é a imensidão do mar. Já em ‘Maiandeua’, que é uma música que eu fiz em homenagem à ilha de Maiandeua, eu faço uma referência, uma saudação a Iemanjá quando começo a música: ‘Odoiar, a maré cheia, Odoiar, a beira-mar’. Odoiar, para quem não sabe, é a forma como a gente saúda a Rainha do Mar”, contou Jeff Moraes.
Além de Jeff Moraes e Naieme, outras canções também homenageiam a Rainha do Mar. Maria Bethânia, Pepeu Gomes, Clara Nunes, Otto e muitos outros artistas cantaram sua admiração pela Sereia, assim como a cantora e compositora paraense Gláfira, que tem Iemanjá como grande inspiração. Essa conexão a levou a homenagear a divindade em sua arte, como no disco “Mar de Odoyá”.
Dia de Iemanjá
O Dia 2 de fevereiro é considerado uma data de homenagem pelos seus devotos. Iemanjá é considerada mãe de quase todos os orixás, e suas características são marcadas pela generosidade, zelo e proteção, especialmente aos pescadores. Estão sob seus cuidados todos aqueles que escolhem entrar em seu domínio: o mar. A festa tradicional em sua homenagem também se tornou presente nos calendários de diversas cidades, em especial na Bahia, desde 1920, com a famosa celebração no Rio Vermelho, que reúne uma multidão de devotos.
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