Luiz Braga celebra 50 anos de fotografia com mostra no IMS Paulista
O 'Arquipélago Imaginário' apresenta imagens inéditas que percorrem a Amazônia e o olhar poético do fotógrafo paraense

O fotógrafo paraense Luiz Braga celebra 50 anos de carreira com uma exposição, intitulada “Arquipélago Imaginário”, em cartaz para visitação a partir deste sábado (12/04), no Instituto Moreira Salles – IMS Paulista, localizado no bairro da Boa Vista, em São Paulo. A mostra reúne cerca de 250 imagens, sendo 190 inéditas, que percorrem décadas de produção fotográfica do artista.
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A abertura está marcada para às 11h e contará com uma roda de conversa entre Braga e os curadores Bitu Cassundé e Maria Luiza Meneses. O evento é gratuito, com distribuição de senhas uma hora antes do início. A exposição pode ser visitada até o dia 31 de agosto.
Os registros fotográficos de Luiz Braga estão distribuídos por dois andares do centro cultural e organizados em nove núcleos temáticos, com imagens realizadas entre os anos de 1970 e 2024. Logo no começo, o público irá se surpreender: as primeiras seções apresentam fotografias em preto e branco, feitas no início de sua carreira.
“As pessoas pensam que eu nunca trabalhei em preto e branco, mas, na verdade, o preto e branco é o alicerce da minha fotografia” explicou Braga, em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal.
Já nos núcleos seguintes, ganham destaque as imagens coloridas, característica mais conhecida do fotógrafo, com ênfase na produção realizada na Ilha do Marajó nos últimos anos.
Ele conta que algumas das imagens só ganharam ampliações agora, décadas após terem sido registradas. “Ver aquelas fotos ampliadas pela primeira vez foi um prazer imenso. Era como reencontrar uma parte minha guardada há 40 anos”, disse emocionado.
Preparativos
O convite para expor suas fotografias surgiu no ano passado e veio do próprio superintendente do IMS, Marcelo Araújo, com quem o artista mantinha uma admiração. “Fiquei muito feliz. Era um sonho antigo mostrar meu trabalho ali”, contou.
A seleção das obras foi feita a partir de um levantamento do acervo pessoal do artista, composto por registros de paisagens, cenas urbanas e do cotidiano ribeirinho, manifestações culturais e personagens do território amazônico.
“O Cassundé e o diretor artístico vieram a Belém, fomos ao Marajó, passaram dias no meu arquivo, pesquisando. E aí a exposição começou a ser construída”, relembra.
Luiz contou que a ideia inicial era batizar a mostra de “Constelação”, conceito que simboliza bem a multiplicidade dos núcleos que compõem sua obra. Mas, por já existir uma exposição da Clarice Lispector com o mesmo nome no IMS, o fotógrafo precisou repensar o título. Foi quando surgiu o nome atual, expressão que remete tanto ao próprio território amazônico, presença constante na sua obra.
“Cada núcleo da exposição é como uma ilha de afeto, memória e luz”, acrescentou Luiz.
O fotógrafo considera a construção da mostra um processo de amadurecimento. Para criar a cronobiografia da exposição, Braga contou que precisou revisitar toda sua história.
“Desde a infância, os primeiros passos na fotografia, o apoio do meu pai e da minha mãe. Eles foram fundamentais para que eu seguisse a carreira de fotógrafo em um tempo em que ser filho de médico significava, muitas vezes, repetir a profissão do pai”, afirmou.
Consagração profissional
Na entrevista, Luiz relembrou uma das principais exposições para sua carreira: “Arraial da Luz”, realizada em 2005 no espaço do ITA, no local onde ocorre o Arraial de Nazaré, em Belém.
A mostra, que celebrava suas três décadas de carreira, teve o maior público que o artista já teve na capital paraense, reunindo cerca de 35 mil pessoas. “Era uma exposição sem portas, ao ar livre. As pessoas passavam e, muitas vezes sem saber o que era, entravam e se viam ali”, compartilhou.
Foi nessa mostra que Luiz Braga viveu uma das experiências mais marcantes de sua vida profissional. “Fotografei uma senhora na praça do Pescador, e, anos depois, os filhos dela se reconheceram na exposição. Era o último retrato dela com vida. Depois da mostra, doei a foto à família, que até hoje mantém contato comigo”, relembrou.
Futuro e expectativas
A nova exposição é, segundo o artista, um reflexo da Amazônia que ele deseja revelar: múltipla, sensível e humana. Para ele, a fotografia possui o poder de captar aquilo que costuma passar despercebido no cotidiano agitado.
“Em um tempo em que tanto se fala sobre a Amazônia devido a conferências, desastres ou disputas, eu acho que mostrar essas histórias com respeito e afeto é uma forma de dignificar a região e quem vive nela”, disse.
Sobre a possibilidade dessa nova exposição chegar a Belém ou a outros municípios do Pará, ele não descartou o desejo de apresentar esse trabalho em sua terra natal. “Se ela vai para Belém, eu espero que ela vá, mas se ela não for, vai outra [exposição]. Eu vou fazer outra”, assegurou.
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