Filme paraense estrelado por moradores da Terra Firme está em fase final de conclusão

Produção independente aborda juventude, violência e arte na periferia de Belém

Bruno Menezes | Especial para O Liberal
Foto: Divulgação
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Um filme que se aprofunda nas vivências da periferia de Belém e na luta de moradores que resistem em um ambiente de violência, mas também de esperança. Essa é a premissa de ‘Flashdance TF’, longa-metragem paraense do diretor Ismael Machado, que está em fase de finalização para, em breve, ser lançado nas telas do cinema. Um making off com cenas e entrevistas com atores e equipe técnica do longa-metragem foi divulgado no YouTube, no perfil da produtora Floresta Urbana.

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O enredo do filme é ambientado um ano após a "chacina da Terra Firme", evento violento que ocorreu em 2015 e vitimou 15 de pessoas na periferia de Belém. As filmagens já foram concluídas, mas, segundo o diretor, ainda é necessário mais apoio para a conclusão da obra audiovisual.

“O Flashdance TF foi o único projeto paraense que ganhou o edital Novos Realizadores, um projeto de baixo orçamento, que filmamos em julho e agosto do ano passado. É o que chamamos de ‘filme-escola’, porque utilizamos boa parte da equipe, tanto de elenco quanto técnica, da periferia — dos bairros do Guamá, Terra Firme e Pratinha. Estamos no processo de captação de recursos para montar e finalizar o filme. Ainda não temos uma data específica para a estreia, pois seguimos nessa luta para conseguir os recursos necessários à pós-produção”, explica o diretor, que lamenta a falta de oportunidades e de apoio por parte de empresas e instituições paraenses.

O diretor ressalta que a produção do filme decidiu mergulhar na identidade da periferia de Belém para construir um elenco pertencente à realidade encenada no longa.

“É um filme que se passa na periferia de Belém, com uma história sobre milícia, sonhos e a juventude que trabalha em seu cotidiano. É uma obra muito bonita, que fala sobre família e jovens que buscam seu lugar no mundo por meio da arte e da dança, ao mesmo tempo em que enfrentam o dia a dia do trabalho. Nossa equipe é praticamente toda da Terra Firme, Pratinha e Guamá. Foi um trabalho intenso com o elenco, de quase um mês, com o Cláudio Barros, que é um preparador experiente. É algo em que acreditamos, que se aprofundou nesse território, respeitando, logicamente, as histórias e a vida dessas pessoas. É um filme com pessoas negras, jovens, LGBTQIA+, gente que nunca fez cinema e que está atuando pela primeira vez”, acrescenta Ismael.

O diretor do filme, Ismael Machado, também é jornalista e já produziu diversos documentários O diretor do filme, Ismael Machado, também é jornalista e já produziu diversos documentários (Foto: Divulgação)

Entusiasta do cinema paraense, Ismael Machado afirma que as leis de incentivo são essenciais para o fomento de novas obras audiovisuais, mas pontua que, infelizmente, o mercado ainda carrega preconceitos com produções realizadas no Norte e Nordeste do Brasil.

“Acho que tivemos muitas aberturas com dois editais — Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Esses recursos possibilitaram que muita gente, que estava com seus projetos arquivados, pudesse começar a mostrar seu potencial. Mas, para além de produzir, é preciso ter onde distribuir, onde escoar essa produção. Estamos passando por um período complicado, em que o eixo Sul-Sudeste tenta limitar o espaço do Norte e Nordeste. Há uma resistência à adoção de cotas regionais, e essa é uma batalha que precisamos travar: mostrar que temos histórias para contar. Precisamos de arranjos regionais e de leis estaduais voltadas ao audiovisual, para que ele seja levado mais a sério”, expõe o cineasta.

Além de diretor, Ismael Machado também é jornalista experiente. Ele conta que sua bagagem na comunicação contribui para a construção de suas produções audiovisuais, emprestando um olhar jornalístico às narrativas.

“Em alguns casos, o jornalismo tem me ajudado — por exemplo, na direção de documentários como ‘Desobediência’ e ‘Na Fronteira do Fim do Mundo’, que tratam de questões minerárias e da posse da terra. Meu olhar jornalístico sempre foi fundamental para construir essas histórias, da mesma forma que levei alguns projetos para produtoras de fora de Belém, como Soldados do Araguaia. São projetos em que a visão jornalística foi essencial. Uma coisa ajuda a outra: minha experiência na escrita jornalística contribui na escrita de roteiros, e esse acúmulo tem me feito muito bem”, explica.

Questionado sobre os jovens talentos do audiovisual paraense, Ismael afirma estar animado com a nova safra de profissionais, que têm grande potencial nas mais diversas áreas de atuação.

“Acho que há um pessoal jovem da música, do audiovisual, da literatura, enfim... Um sangue novo surgindo, principalmente nas periferias, com uma qualidade incrível. Fizemos alguns trabalhos com o pessoal do MST e trouxemos três dessas pessoas para atuar nos filmes. Tenho acompanhado essas produções independentes — há coletivos audiovisuais sensacionais, com gente saindo da universidade. Acho que há um sangue novo muito interessante e promissor”, conclui o diretor.

Sinopse

Flashdance TF conta a história de Greyce, que perde o pai como uma das vítimas da chacina que assassinou dezenas de pessoas no bairro da Terra Firme. Ao lado do irmão JP, a jovem forma um minigrupo de dança que sonha em viver da arte do street dance, enquanto luta para sobreviver em um cenário de pobreza e violência, marcado pela constante ameaça da milícia.

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