Cinco anos sem Ary Souza: legado do fotógrafo paraense é celebrado com exposição no Sesc Ver-o-Peso

Mostra “Compasso” homenageia trajetória do fotojornalista e resgata ensaio sobre o cotidiano amazônico

Amanda Martins
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Faz cinco anos que o Pará se despediu de Ary Souza. Mas sua ausência é apenas física, porque suas imagens seguem vivas, pulsando nos arquivos, nas páginas dos jornais e na memória de quem aprendeu a ver o cotidiano amazônico por meio de suas lentes. Fotógrafo do jornal O Liberal por mais de três décadas, ele dedicou sua vida a registrar com sensibilidade e precisão o dia a dia paraense. Neste mês de abril, o legado de Ary ganha nova visibilidade com a abertura da exposição Compasso”, na próxima quarta-feira (23/04), às 19h, no Centro Cultural e Turismo Sesc Ver-o-Peso, no bairro da Campina, em Belém. A entrada é gratuita.  A exposição poderá ser visitada até o mês de junho, de terça a sábado, das 9h às 18h, e aos domingos das 9h às 13h.

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A mostra faz parte da programação de aniversário de 15 anos do espaço e apresenta o ensaio fotográfico que Ary Souza produziu em Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó. Nele, o fotógrafo documentou o fluxo constante de pessoas atravessando um trapiche de madeira em um registro que ele próprio definiu como ‘um ritmo que não se rende ao compasso de um relógio’. O trabalho foi publicado no volume 1 da série “Cadernos de Pensamentos", editada pelo Sesc em 2014, e premiado em uma edição do Arte Pará.

image Ensaio 'Compasso' (Ary Souza / Arquivo SESC Pará)

Segundo a fotógrafa Paula Sampaio, coordenadora do Núcleo de Fotografia do Sesc, a ideia da exposição surgiu após ela encontrar o material enquanto organizava os arquivos da unidade. 

“Me deparei com uma pasta da publicação que a gente fazia, e era o único que eu não tinha deletado após a impressão do livro”, relatou Paula. “Fiquei tão feliz de encontrar esses arquivos. Uma raridade, porque o acervo do Ary não é de fácil acesso”, acrescentou. 

Paula conta que a mostra foi construída em uma expografia colaborativa, com toda a equipe do Sesc, e ganhou um toque especial com a participação de Bernadete Tavares, esposa de Ary há 33 anos. Ela assumiu uma ‘curadoria sentimental’ da exposição, contribuindo com objetos pessoais, memórias e lembranças do fotógrafo, guardadas com carinho pela família.

“Estamos preparando uma exposição simples, delicada, inspirada na temática presente no ensaio ‘Compasso', que é uma espécie de ode ao cotidiano amazônico. Nos traz o caminhar da população ribeirinha, atravessando um trapiche com suas vestes, companhias, instrumentos de trabalho e comidas”, explicou.

Homenagem emocionou a família

A homenagem mobilizou a família do fotógrafo. “Foi de grande emoção e gratidão. Estaremos presentes. A família ficou muito feliz por este reconhecimento”, disse Bernadete. “Ele está sempre em nossas conversas. Cada um tem uma história engraçada dele, fazendo com que lembramos com alegria e uma boa gargalhada”, contou. 

Bernadete acredita que ele ficaria profundamente emocionado com a repercussão. “Seria ‘pauta’ para o mês todo dele falar. A sensibilidade do Ary ia além dos nossos olhos. Somente ele conseguia registrar”, disse.

image Fotógrafo do jornal O Liberal por mais de três décadas, ele dedicou sua vida a registrar com sensibilidade e precisão o dia a dia paraense. (Paula Sampaio)

Memórias de colegas de redação 

O reconhecimento da trajetória de Ary também está eternizado no “Prêmio Ary Souza de Fotografia”, instituído pelo Grupo Liberal em 2021. A premiação valoriza profissionais que, como ele, usam a imagem como forma de contar histórias com sensibilidade e compromisso com a verdade.

Esse legado permanece vivo não apenas nas homenagens, mas também nas lembranças afetivas de colegas de redação, que compartilharam com Ary momentos intensos e inesquecíveis do jornalismo paraense. O jornalista Dilson Pimentel, que dividiu inúmeras coberturas jornalísticas com Souza, relembra com admiração a parceria de quase 30 anos. Um dos episódios mais marcantes foi a cobertura de um acidente aéreo em Altamira, no sudoeste do Pará.

image Dilson Pimentel ao lado de Ary Souza (Arquivo pessoal)

“O Ary gostava muito de contar essa história. Eu tinha cinco meses de jornal. Era um ‘foca’. O avião que caiu era um Fokker. E ele brincava: ‘um foca cobrindo um Fokker’. Essa cobertura mostrou quem ele era: destemido, corajoso, não media esforços para garantir as melhores imagens”, disse Dilson. 

“No dia, o Exército guardava o local, e tínhamos que entrar pela mata para chegar. Entramos. E ele conseguiu fotos impactantes”, relembrou sobre a cobertura histórica.

Para Dilson, Ary representa o que hoje se chama de “fotojornalista raiz”. “Ele gostava de repetir uma frase: ‘Jornalista não se aposenta. Jornalista morre’. Para nós, o Ary será sempre eterno”, afirmou.

A repórter Bruna Lima também compartilhou uma memória marcante com o fotógrafo. Em 2017, Ary completava 30 anos de jornalismo e costumava repetir com orgulho a marca alcançada. Bruna, na época morando na Cidade Velha, propôs que a celebração ocorresse em sua casa, com uma exposição e um bate-papo entre colegas.

Galeria Ary Souza trabalhos

“Montamos a exposição com fios de náilon, com os quadros dele flutuando. Foi a mesma exposição com a qual ele havia vencido um prêmio no Arte Pará. Isso rendeu capa de jornal, entrevistas, e ele ficou muito feliz. Foi um momento lindo que tive o privilégio de compartilhar com ele”, contou.

Galeria Ary Souza fotos pessoais

SERVIÇO

Exposição ‘Compasso’

  • Local: Centro Cultural e Turismo Sesc Ver-o-Peso, no bairro da Campina, em Belém;
  • Abertura: quarta-feira, 23 de abril;
  • Horário: às 19h;
  • Visitação: Terça a sábado, das 9h às 18h; domingos, das 9h às 13h;
  • Entrada gratuita.
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