Drag nas quadrilhas juninas: cultura popular e representatividade no ‘São João’
A participação das performances, principalmente das Drags neste período de São João, é muito intensa e há quadrilhas que são compostas apenas por pessoas LGBTQIAPN+ e artistas da arte Drag
Avançando a parte histórica em que a quadra Junina surgiu no contexto da igreja católica, na idade média, quando as datas celebravam um santo para substituir o ritual dos deuses pagãos, o período se tornou uma celebração da cultura popular e que incorpora novos elementos. A participação das performances, principalmente das Drags neste período, é muito intensa e há quadrilhas que são compostas apenas por pessoas LGBTQIAPN+ e artistas da arte Drag.
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Em Belém, a apresentação das quadrilhas juninas que vêm de diversos municípios paraenses e ocorrem no "Arraial de todos os Santos", na praça principal do Centur, é comandada pelo biólogo, professor e artista Adriano Penha Furtado, que performar a Drag Themônia Xirley Tão e apresenta quadrilhas desde 2018. "Recebi o convite por telefone e lembro que até duvidei. Eu que fiz a proposta de levar a Xirley Tão para o dia do concurso das misses da diversidade. Toparam. Apresentei novamente o concurso em 2019, passei uns anos sem apresentar e voltei agora", começou.
O que iniciou como uma sugestão, rapidamente se tornou uma solicitação, contou Xirley. A apresentação das Misses da Diversidade ocorreu na quarta-feira, 28, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ "Desta vez o convite para ser apresentador já veio com uma condição: que a Xirley Tão viesse no dia do concurso das misses da diversidade. Eu achei o máximo, pois na primeira vez, ninguém nem sabia que ela existia. Agora foi quase um 'pelo amor de Deus' (risos). Lógico que topei. Ainda estou em êxtase com tudo o que aconteceu. Eu tenho 28 anos de teatro, e destes, 12 são com a Xirley Tão. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha carreira", destacou.
Questionada sobre a representatividade no São João e na cultura popular, Tão afirmou que a arte Drag e os artistas da performance estão inseridos neste movimento há mais tempo do que se imagina. "Drag é arte na sua essência. É arte, cultura popular, costura, bordado, brilho, babado, colorido. E onde tem tudo isso? Nas festas de São João. Sempre estivemos juntos. Não fui a primeira em Belém a ser apresentadora, outras já foram e com muito talento, mas hoje estou aqui. Nós, fazedores das artes LGBTQIAPN+, sempre estivemos nas manifestações populares. Somos nós que estamos criando coreografia, bordando, desenhando e sempre ocupamos esses espaços", disse.
Xirley destaca que o concurso foi o maior dos últimos anos, 40 candidatas participaram. O período só reforça que a participação dos corpos LGBTQIAPN+ são importantes para a mudança de comportamento. "Aqui em Belém sempre tivemos 'quadrilhas malucas', que trazem para a comicidade e a inversão de gêneros através da inversão dos figurinos tradicionais das quadrilhas. No entanto, por muitos anos, essas quadrilhas eram feitas por pessoas heterossexuais que ridicularizavam as pessoas LGBTQIAPN+", lembrou.
"Não havia a intenção de valorizar cultura ou reivindicar espaços, era só para provocar risos através do escárnio de corpos já marginalizados. Nada engraçado. Hoje, nós ainda vemos quadrilhas engraçadas e até com concurso específico, mas agora o discurso é outro. As quadrilhas cômicas trazem abertamente o orgulho e o discurso de ocupação de espaços, fazendo o cômico através de seus próprios corpos e suas histórias. Agora a coisa mudou muito", finalizou.
Drag no close junino
Nem toda Drag nasce em um palco, pesquisa ou oficina de performance e montação, cada uma delas tem seus próprios processos artísticos. Vallentina nasceu dentro da quadrilha junina e seu nome veio da ideia - e brincadeira com os nome populares da época Enzo/Valentina - do performer que dá vida à ela, Enzo Gabriel, acadêmico em Produção Cênica e Figurino Cênico pela Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA). "Comecei a me montar para participar de espetáculos teatrais, pelo ano de 2018, mas foi em 2019 que oficialmente me entendi como Drag. Dei vida à Vallentina dentro das quadrilhas cômicas, onde nos dias atuais entrego em minhas performances comicidade e teatralidade. Também, sou integrante da Haus of Pirexx 'Quer um café'", contou.
Para Vallentina iniciar em quadrilhas juninas de representatividade e perceber que neste movimento há outras pessoas celebrando as suas vivências, fortalece a cena e cria novas memórias. “Já passei por dois grupos juninos, iniciei na quadrilha ‘Close Junino’ e ‘Sem Recalque’, onde agora também faço parte da direção… É justamente por existir outras Themônias como eu – que nasceram dentro do São João – que trazem em suas performances essa memória, paixão pelo São João. Já é um processo que vem se intensificando nos dias atuais. Vejo como diretoras de quadrilhas Mulheres Trans, Drags.... Esse gostar do fazer arte e, de querer mostrar a sua arte nem que seja dentro desse mês, é importante”, observou.
Além do Centur, Vallentina já se apresentou em outros lugares e reforça a importância desta visibilidade. Ela também destacou como funciona a preparação, que é repleta de desafios. “Nosso processo de ensaio, é planejamento de um espetáculo mesmo, vem desde a escolha da temática, músicas, até o processo coreográfico. Já nos apresentamos em diversos lugares, os mais populares para o nosso meio, são as festas de aparelhagem nos bairros. Mas também, já levamos nossa arte para o Centur, onde foi uma das maiores conquistas para as quadrilhas cômicas em geral. Até mesmo, por não ser tão fácil de ter acesso a esses lugares. E Saliento aqui, que dêem mais visibilidades para as quadrilhas cômicas, de forma que possamos levar nossa arte e trabalho para além de nossos bairros”, sugeriu.
Para acompanhar Xirley Tão e Vallentina é só segui-la no Instagram @xirleytao @iamvallentina_. A iniciativa da coluna "Drag, o quê?", é do Grupo Liberal com Ellen Moon D'arc e tem o apoio do Coletivo NoiteSuja. Para ficar por dentro de outros conteúdos ou sugerir pautas, é só seguir no Instagram @dragdelua.
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