Sobre a alma e o espírito antes e depois da morte Océlio de Morais 21.01.25 11h00 Quando um familiar ou algum conhecido falece, é da tradição cristã a celebração do funeral, nele incluídas as exéquias eclesiásticas – um rito religioso que dista o Século VI, a partir dos enterros de monges e religiosos – com dois sentidos: um, como rito de despedida da família e da comunidade e, o outro, como ênfase à vivência da catolicidade e da reafirmação do sentido pascal da morte cristã, isto é, que a morte é uma condição inarredável da própria vida humana. Popularmente, diz-se que as exéquias eclesiásticas são um rito religioso que serve para “encomendar ou recomendar” a Deus a Alma do falecido. Qualquer que seja a percepção acerca das exéquias – como ato religioso que une familiares e a comunidade cristã – a questão de fundo não é apenas o corpo sem vida, cuja matéria irá virar pó, conforme predito em Gênesis (3:19) “(...) porque você é pó, e ao pó voltará.”. No entanto, a principal questão é o que acontece antes e depois da morte corpórea, quanto à esperança da salvação – temática abordada no Art. 4,“Se a esperança perdura, depois da morte, no estado da glória”, da Questão 67: “Da duração das virtudes depois desta vida” da Suma Teológica” – relativamente à Alma e ao Espírito para aqueles que acreditam em Deus. Tomás de Aquino oferece um princípio de resposta a partir da esperança, definindo-a que “A esperança é mais nobre do que as virtudes morais, por ser Deus o seu objeto”. Portanto, se a esperança (como virtude teologal) dos bem-aventurados que têm fé, diz respeito à “glória da Alma”(Ecle 24, 29), a finalidade última da esperança é Deus como centralidade e base da vida, seja na sua completude corpórea e como na incorpórea. A glória da Alma– ter Deus como razão – leva nossa reflexão à questão da imortalidade da Alma, cuja essência é imaterial assim como a natureza do Espírito Santo; contudo, não são idênticos. Então, quando se fala em imortalidade da Alma, o pressuposto – mas não para o ateísta – é que cada indivíduo é dotado de Alma e de Espírito, condição em que o “corpo é a morada do Espírito Santo que Deus lhes deu", por isso, cada pessoa “deve glorificar a Deus com o seu corpo” (1 Coríntios, 6:19-20). Assim, a Alma tem uma intrínseca ligação com o corpo. Por outro lado, se a vida humana é esse conjunto integrado pelo corpo (como morada do Espírito Santo) , pela Alma imortal e pelo Espírito Santo, surge outra questão: o que distingue a Alma e o que define a natureza própria do Espírito, uma vez que este também é imortal? E, qual a utilidade – e não utilitarismo materialista – mas espiritual em ter a conhecimento acerca dessas questões? A resposta será encontrada a partir das distinções que farei a seguir, com base na Suma Teológica. Observemos o seguinte: diferente do corpo (que sofre as dores das doenças e sente os prazeres da carne), a Alma incorpórea é, desse modo, – conforme Aquino, no Art. 1, item 1, da “Questão 75: Da alma em si mesma” – uma “substância espiritual”, do que resulta sua imortalidade e a designa como o “primeiro princípio da vida” humana. A condição de ser uma espécie de “motor" do corpo humano, pode ser traduzida como “motor” moral. Logo, não significa que a Alma indivisível seja uma elemento físico do corpo e, portanto, nem pode ser dito que essa condição (de ser motor moral) exclua a funcionalidade natural ao cérebro e ao coração. Porém, na qualidade de “ primeiro princípio da vida”, a Alma também “é uma potência intelectiva unida”, porque ela designa a virtude moral (honestidade, aqui, como valor ético) e também as virtudes teologais (fé, esperança, e caridade). Portanto, são essas as virtudes inerentes aos bem-aventurados, aqueles cujas Almas têm Deus por finalidade. Desse modo, parece-nos claro que é da indivisibilidade da Alma – como um ser espiritual da Criação – que decorre a sua imortalidade, cuja tarefa é ser o primeiro princípio moral da vida humana. A Alma é, por fim, a condição intelectual moral da pessoa. Então, retoma-se a questão: o que a difere do Espírito,uma vez que este igualmente é imortal? O Espírito é a própria força ativa de Deus. Nessa condição, diz Aquino, o “espírito é Ingênito”, ou seja, é inerente à natureza humana, desde a nascença da pessoa, porém, como exclusiva obra do Criador: “O Espírito é essência divina”, afirma Tomás de Aquino. Mas o que é a “essência divina”? Aqui nos dá a resposta: é o “Amor e Dom de Deus”. Logo, isso leva-me a pensar e a afirmar que Santa é a natureza do Espírito porque o Espírito como “essência divina” é o próprio “Amor e Dom de Deus” na vida da pessoa. Por isso, a genuína natureza divina o qualifica como Espírito Santo, integrando a Santíssima Trindade: Deus Pai (o Criador onipotente e onipresente), Jesus (Deus Filho, o Verbo encarnado que viveu a condição humana) e Espírito Santo (o Dom e o Amor de Deus, que habita o corpo, se a pessoa pela fé, assim escolher e permitir). Por lógica teológica, se o Espírito Santo é o próprio “Dom e o Amor de Deus” na vida da pessoa, e se o corpo é a “morada do Espírito Santo”, posso afirmar que a manifestação do Espírito Santo no corpo é a própria manifestação do Criador na vida humana. “O Pai” [Deus, acresceitei] “é maior pela autoridade de doador” [Criador, acrescentei]; “mas não é menor o Filho, ao qual um ser é dado” [o Espírito, acrescentei]”, explica Tomás de Aquino, ainda na Suma Teológica. O paralelo entre Alma e Espírito é esse: enquanto a Alma, como primeiro princípio motor da vida, pode escolher a virtude moral, com vista à elevação ético-moral da pessoa, o Espírito (por ser a força ativa de Deus) é a expressão do próprio Amor divino, porque – como disse Agostinho de Hipona – “O Pai” [Deus] “é o princípio de toda divindade.” Em conclusão, a Alma como substância espiritual existe para o corpo, assim como o corpo deve existir para o Espírito, isto é, deve existir como Dom e como Amor de Deus. É através da Alma – a potência intelectiva unida inerente a cada indivíduo – que a pessoa faz as escolhas entre o bem e o mal, entre o ético e o aético. A isso se denomina de livre arbítrio, temática abordada por Agostinho de Hipona, no livro “Sobre o Livre Arbítrio, assunto ao qual já dediquei a crônica filosófica “Agostinho e a Liberdade”, no meu livro “Humanismo: Liberdade Filosófica. São Paulo: Dialética, 2023, p. 21-14). 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