O tempo, a eternidade e o que isso tem a ver com a natureza humana? Ocelio de Jesús Morais 14.01.25 9h14 Quando alguém não quer assumir um compromisso ou uma tarefa, geralmente com polidez, arranja a desculpa: “lamento, muito obrigado, mas não poderei ir, pois já tenho compromisso nesse dia, não poderei me comprometer, estou sem tempo, estou cheio de trabalho para entregar até o dia…”. O falta de tempo é uma desculpa comum, muito embora no tempo da existência de cada pessoa exista tempo para tudo – “Há um tempo para cada coisa debaixo do sol, tempo de plantar, de colher, de nascer, de viver e de morrer” – como já dito em Eclesiastes, capítulo 3, versículo 1 da Sagrada Escritura. Atribuído a Salomão (970 a 932 a.C) – o filho predileto do Rei Davi (1.003 a 970 a.C.) e construtor o 1º templo de Jerusalém que abrigou a Arca da Aliança construída por Moisés, o profeta que viu a face de Deus – Eclesiastes (capítulo 4, 1-8) fala do “tempo redondo” da vida humana, do nascimento à morte e das coisas que preenchem o tempo nesse interregno. O tempo é, assim, inerente à condição humana (a característica ou o aspecto que designa a pessoa, relativa às necessidades humanas para o aperfeiçoamento da personalidade) e inato à natureza humana (essência própria que designa a inteligência do ser humano, atribuindo-lhe faculdades de escolhas, distinguindo-o das outras espécies irracionais). Então, o tempo está para a condição humana como a oportunidade ou chance única e especial ao aperfeiçoamento da natureza humana (a essência virtuosa), uma das chaves ou pontes para a eternidade, não a eternidade de uma figura histórica ou de uma obra imemorial que venha se tornar – pelos critérios humanos – uma obra clássica; mas da eternidade espiritual. Nessa circunstância, a eternidade espiritual não guarda relação com o tempo? Vejam como Tomás de Aquino (1225-12740) – o Doctor Universalis da Igreja Católica, canonizado Santo em 1323— na Suma Teológica, a mais importante obra da doutrina cristã de todos os tempos na Igreja Católica, responde a essa questão, quando se refere aos seres eviterinos, ao tempo e à eternidade, no “Art. 4 — Se a eternidade difere do tempo”, da Questão 10: “Da eternidade de Deus”, ao se referir, no Art. 6., à questão "se há só um Evo". O dicionário da Língua Portuguesa falada no Brasil apresenta ao substantivo masculon0 “Evo” três significados: “duração sem fim”, “eternidade” e “perpetuidade". Então, à primeira vista, as definições passam a ideia de algo atemporal, mas que existe e que poderia guardar alguma relação com o tempo da vida humana. Vou dedicar essa breve filosófica e teológica, em aprofundamento à pensada, denominada “E quando o tempo findar, as sementes do bem já devem estar brotando”, aqui publicada originalmente Evo – para Tomás de Aquino – não significa, em termos absolutos, “duração sem fim ","eternidade" e"perpetuidade" como qualificado pelo dicionário da língua Portuguesa, isso porque o teólogo afirmou que “não há um só Evo.” Na perspectiva das ciências Teológicas, conforme Aquino na Suma Teológica, “o Evo não é, em si, a eternidade”, porque “a eternidade, por essência, existe toda simultaneamente como anterioridade e posterioridade”, enquanto que é da “essência do tempo ter anterioridade e posterioridade”, ou seja, “o tempo [da existência humana, acrescentei] é um só.” Ele acha, ele finda, é finito. Evo – embora não designe a “eternidade” – Tomás de Aquino dela o aproxima, visto que também o define – citando Agostinho de Hpona (354 d. C a 430 d.C.) – “como a medida das substâncias espirituais”. E as substanciais espirituais, de acordo com Agostinho, “são criaturas espirituais que Deus move no tempo.” Por isso, “a majestade e o poder dos evos está no Criador”. Dessa forma – afirma conclusivamente Tomás de Aquino também na Suma Teológica – que “o Evo é mais simples que o tempo e mais se aproxima da eternidade”. E por quê? Porque “os seres eviternos” são de dois gêneros: os corpos celestes, os quais pertencem ao gênero das coisas corpóreas; e os seres angelicais, (os anjos), que são substâncias espirituais. Os seres eviternos designam, portanto, tempo e eternidade – tempo, enquanto coisa corruptível; eternidade, enquanto natureza incorpórea ou imaterial. Por isso, na prática, o tempo e a eternidade não são iguais – nas palavras de Tomás de Aquino – pois não são medidas do mesmo gênero: o tempo flui e acaba, enquanto que a eternidade permanece a mesma, porque é imutável. Sem desconhecer que cada outra coisa tem o seu tempo certo de existência, mais curto ou mais longo, é de se indagar: Mas o que tudo isso – tempo finito, tempo Evo e eternidade – tem a ver especialmente com a pessoa humana? A resposta é simples e também vem de Tomás de Aquino, ainda na Suma Teológica, no Art. 4 — “Se a eternidade difere do tempo.”: o tempo (por ser mutável e finito) está inserido no “ser das coisas corruptíveis”, por isso “não é medido pela eternidade.” Logo, o ser das coisas corruptíveis (aquilo que acaba), sendo corpóreo, abriga a condição e a natureza humanas. Cada indivíduo é, portanto, uma espécie de corpo celeste,um Evo temporal. Mas, também por ter alma e espírito – composição da substância espiritual e corpórea – o ser humano também pode se aproximar da eternidade, isto é, alçar à condição angélica ou espiritual. Com efeito, a condição Evo é uma espécie de designação do ser entre o tempo e a eternidade. A condição Evo, em termos teológicos (a ciência que se dedica ao estudo da existência de Deus) designa a condição corpórea (o tempo da existência) de cada pessoa, de cada ser, de cada coisa, e o tempo da eternidade, que diz respeito à imortalidade da alma e à natureza incorpórea do Espírito. Por essa razão, quando simplesmente justificamos que não temos tempo para assumir uma tarefa ou para comparecer a um evento, é a nossa condição ou expressão Evo como uma espécie de “corpo celeste” (ou tempo corruptível, tempo que flui) que está respondendo ou agindo. É um determinado tempo para dizer sim ou para dizer não ao convite ou à tarefa. E, por fim, quando falamos da qualidade do tempo para o exercício das coisas virtuosas, em termos teológicos, entramos no campo das coisas imateriais, que são relativas à alma (como princípio primeiro da vida) e do espírito angélico ou espírito celestial. Para a temática alma e espírito, e suas aderências à vida humana, dedicarei a próxima pensata. ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais Océlio de Moraes COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! 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