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Por Marco Antônio Moreira

Coluna assinada pelo presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e membro da Academia Paraense de Ciências (APC). Doutor em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), crítico de cinema e pesquisador.

O Cinema e Nelson Rodrigues

Marco Antonio Moreira
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As comemorações pelos 110 anos do escritor Nelson Rodrigues têm gerado interessantes debates sobre sua obra literária, teatral e adaptações realizadas para o cinema. É oportuno falar sobre o trabalho de Nelson Rodrigues que como escritor, jornalista, romancista, teatrólogo e cronista elaborou uma trajetória repleta de polêmicas e provocações. A partir de uma intensa obra que enfrentou diversos tabus e temas polêmicos da sociedade brasileira, por meio de histórias e personagens com críticas de costumes, Rodrigues incomodou instituições sociais, políticas, religiosas e artísticas.

Nascido em Recife, em 1912, Rodrigues acompanhou a mudança de sua família para o Rio de Janeiro quando ele tinha cinco anos. Com 13 anos, ele atuou como repórter policial no jornal A Manhã, um dos impressos periódicos fundados pelo pai, e essa experiência profissional colaborou expressivamente com sua escrita. Desde esse período, ele contribuiu com textos jornalísticos sobre temas variados como o futebol. Ele escreveu artigos e crônicas famosas que chamaram atenção e críticas de diversos setores da sociedade com a sua polêmica coluna A Vida Como Ela É publicada durante os anos 1950 a 1961 no jornal Última Hora. Esta coluna apresentava dramas e tragédias  vinculados ao cotidiano das famílias tradicionais cariocas dos anos 1950.

image Os Sete Gatinhos (Reprodução)

Sua primeira peça de teatro foi A Mulher sem Pecado (1941) e o reconhecimento do seu trabalho como autor no teatro começou a partir da peça Vestido de Noiva, encenada em 1943, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que teve a direção do respeitado diretor polonês. Zbigniew Ziembinski.  A encenação desta peça revolucionária apresentava inédita estrutura em três planos — realidade, alucinação e memória, e recebeu muitos elogios da crítica especializada daquele período, além de surpreender o público.

A primeira adaptação de sua obra para o cinema ocorreu em 1950 com Somos dois de Milton Rodrigues. Em 1963, a adaptação cinematográfica de Boca de Ouro (1963) de Nelson Pereira dos Santos teve sucesso de crítica. O filme tem no elenco Jece Valadão e Odete Lara e mostrava a história de um bicheiro assassinado, e a tentativa de um repórter em relatar a sua vida a partir do depoimento de uma de suas amantes. Em 1990, Boca de Ouro teve nova adaptação com Walter Avancini na direção e Tarcísio Meira como protagonista. Nos anos 1970, sua obra conseguiu maior alcance em um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos: Com Toda Nudez será Castigada (1973) de Arnaldo Jabor.

image Toda Nudez Será Castigada (Divulgação)

A partir deste excelente filme Jabor, outros sucessos baseados em sua obra tornaram Nelson Rodrigues um dos autores mais conhecidos e controvertidos do Brasil, nos anos 1970 e 1980. A Dama do Lotação (1978) de Neville d´Almeida e Bonitinha, mas Ordinária (1981) de Braz Chediak foram campeões de bilheteria, mas entre várias adaptações para o cinema, Os Sete Gatinhos (1980) de Neville D´Almeida talvez seja o melhor filme rodriguiano. Com Lima Duarte e grande elenco, o filme mostra histórias, segredos e hipocrisias de uma família carioca em uma casa no Grajaú, no Rio de Janeiro.

image A Dama do Lotação (Divulgação)

Nelson Rodrigues morreu no Rio de Janeiro, aos 68 anos, em 1980. Admiro sua obra e postura artística que sempre tem algo a nos provocar e refletir. Em uma famosa entrevista, no final dos anos 1950, ele foi indagado sobre qual era o problema do teatro brasileiro. Ele, sem medo de polêmicas, respondeu: é o público. Segundo Rodrigues, o autor não deve pensar em satisfazer o público, mas, surpreende-lo, buscando ousar e provocar por meio de outras maneiras de criação artística.

Participe do constante debate sobre Nelson Rodrigues. Confira a lista de filmes abaixo e fique atento ao Canal Brasil que vai exibir, até dia 28/08, uma seleção dos principais filmes baseados na sua obra. Espero que este canal inclua os filmes selecionados em sua programação semanal em outras datas. Outros filmes citados poderão ser encontrados em DVD e em alguns em canais de streaming.

Filmes: Somos dois (1950) de Milton Rodrigues, Meu destino é pecar (1952) de Manuel Pelufo, Mulheres e milhões (1961) de Jorge Ileli, Boca de ouro (1963) de Nelson Pereira dos Santos, Meu nome é Pelé (1963) de Carlos Hugo Christensen, Bonitinha mas ordinária (1963) de J.P. de Carvalho, Asfalto selvagem (1964) de J.B. Tanko, O Beijo (1964) de Flávio Tambellini, A Falecida (1965) de Leon Hirszman, Engraçadinha depois dos trinta (1966) de J.B. Tanko, Toda nudez será castigada (1973) de Arnaldo Jabor, O Casamento (1975) de Arnaldo Jabor, A Dama do Lotação (1978) de Neville d'Almeida, Os Sete Gatinhos  (1980) de Neville d'Almeida, O Beijo no Asfalto (1980) de Bruno Barreto, Perdoa-me por me traíres (1980) de Braz Chediak, Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Rezende  (1981) de Braz Chediak, Álbum de família (1981) de Braz Chediak, Engraçadinha – (1981) de Haroldo Marinho Barbosa, Boca de ouro (1990) de Walter Avancini, Traição (1998) de Arthur Fontes, Cláudio Torres e José Henrique Fonseca, Gêmeas (1999) de Andrucha Waddington, Vestido de noiva (2006) de Joffre Rodrigues, Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Rezende (2013) de Moacyr Goés, A Serpente (2016) de Jura Capela.

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