Círio 2022: romaria celebra o reencontro e a alegria de volta às ruas de Belém; vídeo
Grande Procissão dura mais de 4 horas, marcada pelo retorno da emoção no 'cordão humano' ao longo de 3.700 km
Mãos estendidas, às 7h22, e olhares atentos presenciaram a saída do Círio de Nazaré, de nº 230, neste domingo (9), em frente à Catedral Metropolitana de Belém, na Cidade Velha. A multidão lotava a Praça da Sé, após a celebração da missa e acompanhou a condução da Imagem Peregrina, pelo arcebispo dom Alberto Taveira até à berlinda. O retorno dos peregrinos às ruas foi saudado por dom Alberto, que classificou a Grande Procissão, como o Círio da alegria.
"O Círio é uma família, irmãos e irmãs. Desejo que todos nós descubramos os laços que nos unem, descubramos que antes de sermos amigos uns dos outros, nós somos irmãos em Cristo. Que o círio que nós celebramos seja a antecipação do paraíso. Que hoje seja um dia de alegria, que este seja um círio de alegria", afirmou dom Alberto Taveira.
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Este ano, por recomendações médicas, dom Alberto Taveira informou que não poderia fazer todo o percurso a pé. Ele esteve no início da romaria, em seguida, se retirou para aguardar a chegada final na Praça Santuário. Em compensação, ao contrário do que já ocorreu com a maioria dos chefes do Executivo estadual, que assistem à Grande Procissão, do palanque oficial, o governador Helder Barbalho, acompanhado da primeira dama, Daniela Barbalho, fez o trajeto a pé, entre as pessoas de modo bastante discreto.
Sequência de homenagens
Em mais de quatro horas de romaria, o que se via no percurso de 3.700 km eram homenagens diversas, fossem das pessoas mais humildes às promovidas pelas instituições privadas e públicas. Em oração com terços nas mãos, cantando ou em silêncio, as pessoas renovaram a devoção à padroeira do paraenses. Muita gente contou em depoimentos, que este era o Círio da superação, por seguirem com as homenagens, mesmo sentido a ausência da entes queridos, perdidos para a covid-19, entre outras doenças, como câncer.
Havia também, muita gente alegre com os retornos das romarias oficiais do Círio, no formato tradicional. Gente pedindo bênçãos e agradecendo pela saúde restabelecida. O pescador Raimundo Santos, de São Caetano de Odivelas, no nordeste estadual, voltou à procissão com o peso de 90kg de caranguejos. Ele contou que há anos pagou a promessa, mas faz questão de seguir agradecendo pela vida do filho, que se tornou enfermeiro. "Meu filho, hoje, cuida de pessoas", disse Raimundo que, nos anos 90, ganhou visibilidade internacional por ter os caranguejos vivos pelo corpo.
Na avenida Presidente Vargas, os romeiros foram acolhidos com 300 kg de papel picado, em frente ao Banco do Brasil. A chuva de serpentina na frente da agência financeira também foi animada pela cantora Ana Gabriela, da comunidade católica Shalom, O Banco da Amazônia perfumou a mesma avenida com 500 kg de pétalas de rosas, jogadas sobre os romeiros. As rosas foram adquiridas na cidade paulista de Holambra. O Banco, ainda, soltou fogos frios e silenciosos e o padre Antônio Maria cantou.
Voluntários
General de Brigada Francisco Wellington Franco de Souza assistiu à procissão e afirmou que a preparação da tropa de 300 fuzileiros, que atuam na escolta da berlinda, é facilitada pela preparação física do grupamento, mas também pela atitude voluntária dos soldados.
"A maioria do nosso pessoal é voluntária para estar aqui. Eles se prontificam a participar em cumprimento da missão, mas também por devoção, a gente vê isso no nosso soldado, ele participa de modo vibrante e como devoto. Isso é muito interessante, muito bacana", frisou o general, que é também chefe do Estado-Maior (EM) do Comando Militar do Norte.
Próximo das 11h, na avenida Nazaré, o voluntário da Cruz Vermelha, Agnaldo Corrêa, informou que o trabalho era intenso no socorro a romeiros. "Só agora atendemos, em cerca de 30 minutos, atendemos mais de 30 pessoas, entre casos de desmaios e ferimentos mais leves", contou ele, que estava na sede do Clube do Paysandu.
Conseguir um espaço nas calçadas, ao redor ou atrás da berlinda, e até mesmo na janela de casa exige paciência e jogo de cintura ao longo do percurso, no Domingo do Círio, mas a jovem Jamile Oliveira ganhou espaço, sem esforço, ao tomar o trajeto, dançando balé. Ela contou que paga promessa, desde o ano de 2021, pela aprovação no curso de Dança, da UFPA.
Disputa da corda deixa feridos e frustra promesseiros
Neste Círio 230, perto das 10h, uma movimentação estranha surgiu entre os romeiros, a partir de grupos de homens tentando cortar a corda. Isso ocorreu com a procissão na avenida Presidente Vargas se aproximando da avenida Nazaré. Os homens, de fato, conseguiram cortar os primeiros pedaços da corda com o Círio na confluência das avenidas Nazaré e Dr. Moraes. O que se viu, nesses momentos dos cortes, foram cenas de agressividade, com empurrões e xingamentos.
Na frente do Clube de Engenharia, homens com facas e canivetes, se empurraram e bateram boca por pedaços da corda. Rapidamente, o episódio se repetiu em trechos da via, deixando pessoas feridas, frustrações entre os romeiros e exigindo maior esforço da guarda da santa para conduzir a berlinda.
"Cortaram a 5 (estação) mais ali na frente do Albatroz (restaurante na Dr. Moraes) e começou a jogar (procissão) para o lado da gente, a gente correu dali, aí, depois quando a gente estava próximo daqui do Paysandu, começaram a cortar a 4 e a 3 (estações)", disse Marcos Antônio. Uma outra romeira próxima de Marcos, disparou, "este ano, tinha facas demais".
Berlinda entrou na Praça Santuário às 11h30
Após mais de quatro horas, a berlinda chegou à Praça Santuário, onde milhares de pessoas aguardavam, com grande expectativa. A partir de então, a Imagem Peregrina seguirá no centro da Praça, para a visitação pública, até o próximo dia 24 deste, quando a festividade se encerrará com o ReCírio, e o retorno da Imagem ao colégio Gentil Bittencourt.
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