Círio 2022: devotas relembram mudanças ao longo da história das romarias; vídeo
Duas devotas, que cresceram com o Círio nas vidas delas, viram muitas transformações, mas a tecnologia foi uma das principais
A tradição de ir ao Círio conta com muitos devotos que participam das procissões desde a infância e juventude, formando um coletivo de memórias de cada outubro. São esses fiéis que, ao longo dos anos, puderam acompanhar as transformações que ocorreram nas romarias da quadra nazarena — algo que mudou, ganhando novas procissões no calendário oficial. Entre uma das principais mudanças, a tecnologia trouxe aproximação da fé com a santa, além de mudanças em duração, trajetos e conceitos de algumas das procissões.
A devota Raimunda Ferreira, de 77 anos, natural do município de Curuçá, relembra que, quando era criança, saía todos os anos em peregrinação junto da família com destino a Belém. O objetivo era só um: ir ao encontro de Nossa Senhora de Nazaré, no segundo domingo de outubro.
“A minha mãe também era muito católica. Não perdíamos nada. A gente se envolvia muito. Quando chegava a época aqui em Belém, nós vínhamos embora. Na sexta-feira, nós já estávamos aqui pra assistir o Círio. Quando era na segunda-feira, a gente voltava pro interior”, contou dona Raimunda.
Um dos pontos observados por ela é o aumento da quantidade de fiéis que se unem em procissão com a Virgem de Nazaré. Mas, além disso, dona Raimunda observa que, ao longo dos anos, houve um maior engajamento entre os católicos, além da tecnologia que pode ajudar a acompanhar as demais procissões — como foi no caso da pandemia. “A multidão que tem hoje não tinha antes. Cada ano que passa vai aumentando. O pessoal tem aquela fé direta com Nossa Senhora, tá se dedicando mais, principalmente as comunidades católicas. São mais assíduos nos trabalhos.”, enfatizou.
Em meio à passagem do tempo, a devota também diz que a duração da procissão ficou mais curta, mas que se manteve apesar de seguir um fluxo mais rápido: “Vem muito mais rápido. Aí se torna um pouco difícil, porque a gente quer ver um pouco mais lento, que dê para todo mundo assistir. Antes era mais demorada”, contou a devota.
Para dona Raimunda, a alegria da retomada presencial da romaria nas ruas é um motivo de muita alegria. Ela irá acompanhar a procissão da arquibancada do Círio e vibra com esse momento tão esperado, pois segundo ela, "é a coisa mais alegre da vida” e é "um momento de renovação da alma”.
O encontro com Nossa Senhora após dois anos sem procissão não é o único motivo de felicidade. A recuperação de uma cirurgia no crânio está entre as graças alcançadas por intercessão de Nossa Senhora, expressando, assim, uma alegria sem limites. “Eu não lembro nada dessa cirurgia. Depois que me contaram. Mas graças a Deus eu alcancei essa graça. Foi um sacrifício. Essa é a fé que move a gente”, falou emocionada.
Círio em meio à pandemia foi inesquecível, diz devota de 65 anos
Mais do que uma tradição anual, o Círio também faz parte da história de vida da aposentada Elizalete Rocha, de 65 anos. Ela, que também possui uma história de longa data com a fé mariana, conta que a crença nasceu na infância. “Iniciou com meus pais, que sempre foram devotos. Somos cinco filhos e a gente foi seguindo na devoção. Eu lembro, inclusive, quando a gente ia lá pra praça, onde é o centro da igreja, que tinha uns coretos. Os homens bem vestidos, de ternos, camisas compridas. Mulheres também, todas arrumadas”, detalhou.
Antes de se transformar no mar de gente que toma conta das ruas de Belém no segundo domingo de outubro, o público que participava do Círio de Nazaré era bem menor nos anos passados, segundo conta dona Elizalete. “O que era pequenino cresceu. Se tornou uma procissão maior, com uma divulgação maior. E aumentaram as procissões, aumentou a corda, aumentou o número de pessoas. Antigamente não tinha todo um reforço em segurança, hoje já aumentou também. Em todos os sentidos”, afirmou.
Com os olhos de quem acompanhou as inúmeras mudanças nas procissões, Elizalete diz que uma das memórias mais fortes em relação ao Círio foi o momento vivenciado de paralisação das romarias em meio à pandemia de covid-19. No aguardo para as procissões deste ano, ela enfatiza que a expectativa é grande.
“A pandemia foi difícil para todo mundo, onde pudemos ficar mais recolhidos e ver perdendo tantas pessoas queridas, outras que nem conhecíamos, de outros países, mas que a gente sente a mesma coisa, porque nós somos humanos.Esse ano vai ser diferente, com retorno de todos e a emoção eu já sinto. Já é até antecipada”, disse Elizalete.
(Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)
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