Negro e ex-aluno de escola pública, brasileiro se forma em Harvard e dedica diploma ao pai falecido

“A escola onde eu estudava colocava 45 alunos em uma sala de aula sem ar-condicionado, com mesa quebrada. Muitos colegas não sabiam ler", relata Arthur

Luciana Carvalho
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“Eu dedico esta conquista ao meu pai, que não teve as mesmas oportunidades que eu, mas que abriu o caminho para mim. Obrigado, pai! Sinto sua falta!”. Foi assim que Arthur Abrantes, de 25 anos, homenageou seu pai nas redes sociais, mostrando o momento em que recebeu o diploma de formatura em ciências da computação da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, considerada uma das 10 melhores do mundo. As informações são do portal G1 Nacional.

Wariston Abrantes, pai de Arthur, faleceu em 2018 em um acidente de carro, quando ele ainda estava no segundo ano da graduação. “Ele era mecânico, começou a trabalhar muito cedo e só fez até a quarta série. Acho que ele teria ficado muito orgulhoso de mim”, avalia.

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Início de um sonho

Arthur foi estudante de escola pública no município de  Paracatu, em Minas Gerais. “A escola onde eu estudava colocava 45 alunos em uma sala de aula sem ar-condicionado, com mesa quebrada. Muitos colegas não sabiam ler. Não passava pela minha cabeça que um dia eu faria faculdade”, conta.

No ensino médio, Arthur foi aprovado no processo seletivo para entrar no Instituto Federal Triângulo Mineiro. “Minha rotina passou a ficar muito mais puxada. Acordava às 5h30 e voltava para casa às 17h30”, diz. “Foi quando comecei a ouvir falar de fazer faculdade. Pensei: ‘caraca, será que isso é para mim também?’”.

Aos poucos, o aluno já estava sonhando em estudar fora do Brasil. Sem conhecimentos de inglês, baixou aplicativos de línguas, viu filmes com legendas no idioma original e ouviu podcasts estrangeiros.

“Recomendaram que eu agisse como se minha vida dependesse daquilo. Foi o que fiz. Pratiquei [conversação] todos os dias”, conta. Em 2015, Arthur ainda participou do programa “Jovens Embaixadores”, que seleciona anualmente 50 estudantes de escolas públicas para passarem três semanas nos EUA. “Fui me tornando fluente”.

Arthur nem chegou a se inscrever para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele preferiu se candidatar a 12 universidades americanas. “Foi um processo intenso. Escrevi de 2 a 3 redações para cada uma. Pratiquei muito a escrita, estudei gramática e fui entrevistado em inglês”, diz. E deu certo: o mineiro foi aprovado em Harvard, Stanford e em outras cinco instituições de ensino americanas.

“Fiquei meio sem chão [quando recebi o resultado]. Contei para os meus pais e para mais ninguém, porque eu não acreditava. Foi um negócio de outro mundo”.

Além da vaga, Arthur ainda conquistou uma bolsa de estudos de Harvard para bancar tudo: mensalidades, gastos com moradia, refeições e passagens aéreas de ida e volta para o Brasil.

Agora formado!

Com o diploma em mãos, Arthur não pretende voltar para o Brasil de imediato. Em três semanas, ele começará a trabalhar como programador em uma startup dos Estados Unidos, na área de engenharia de software. “Daqui a uns anos, quero empreender para solucionar algum problema enfrentado pela sociedade. Seja no Brasil ou aqui”.

Como chegar a uma universidade estrangeira?

Para que mais alunos da rede pública sejam aprovados em universidades conceituadas, Arthur diz que seria necessário maior investimento na educação básica brasileira.

“A galera não sabe ler e interpretar textos, não sabe operações matemáticas básicas. Não tem jeito, se não tem a base, a casa cai. Chega ao quinto e sexto ano da escola frustrado, achando que estudar é um saco. Vai empurrando com a barriga”, relata.

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(Luciana Carvalho, estagiária da Redação sob supervisão de Keila Ferreira, Coordenadora do Núcleo de Política).

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