Tráfego de carretas e caminhões prejudica moradores da Cidade Velha, em Belém

“O problema é a trepidação causada por esses veículos pesados”, diz Dulce Roque, presidente da Associação de Moradores da Cidade Velha

Dilson Pimentel e Jamille Marques | Especial para O Liberal

O trânsito de caminhões e carretas fora de horário e em vias não permitidas afeta a cidade, sobretudo em áreas sensíveis, como a Cidade Velha, em Belém. De acordo com a Secretaria de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade de Belém (Segbel), esses veículos pesados não podem trafegar em áreas centrais da cidade das 8h às 20h. Contudo, a regra não vem sendo seguida, conforme o relato da economista Dulce Roque, fundadora e presidente da Associação de Moradores da Cidade Velha, mora no bairro desde há 76 anos.

“O problema é a trepidação causada por esses veículos pesados”, disse ela. Isso prejudica os patrimônios históricos que são tombados, entre os quais igrejas, mas também as residências dos moradores. “Não vemos nunca a Semob (atual Segbel) controlar a entrada ou saída desses veículos pesados nesta área. E é um absurdo que seja uma área de estacionamento de carretas na frente de uma igreja datada 1770 e que é tombada”, afirmou. Ela se refere à igreja do Carmo, localizada na travessa Dom Bosco.

Dulce Roque disse que, há seis anos, começou a reclamar sobre a circulação desses veículos pesados pelo bairro da Cidade Velha. “Comecei a contar o número de pneus. Tinha umas (carretas) com 30 pneus. Quanto pesa cada pneu?”, afirmou. Há alguns anos, contou, certos vereadores sugeriram “fechar a Cidade Velha" para o trânsito de caminhões. Depois, houve a sugestão de evitar que veículos com peso superior a 3.500 kg trafegassem pela Cidade Velha. “Todas as propostas feitas não foram aceitas (por parlamentares da cidade). E ninguém vem controlar se aquele veículo de 18 pneus pesa mais ou menos de 3.500 kg”, disse.

Dulce também contou que, há seis anos, começou a fotografar esses veículos pesados e, por isso, já recebeu ameaças. “Eles não gostam quando eu faço fotografias. Me ameaçam. Mas o problema não é comigo. É o patrimônio histórico que nós estamos defendendo”, disse. “Eles não param na porta da minha casa. Eles param na porta daquele nosso monumento histórico, ali no canto da (travessa) Dom Bosco com Dr. Assis, que, dizem, foi a primeira sede da prefeitura de Belém. E, do lado, tem uma igreja datada de 1700 e que é “tombada por todo mundo”, sendo uma das mais antigas", afirmou. E completou: "São quatro igrejas que nós temos - a Sé, a Santo Alexandre, a São João e a do Carmo. Quatro igrejas nessa pequena área tombada. E é tudo passagem de trios elétricos e de veículos pesados”.

image Economista Dulce Roque, fundadora e presidente da Associação de Moradores da Cidade Velha: “O problema é a trepidação causada por esses veículos pesados" (Foto: Adriano Nascimento | Especial para O Liberal)

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Ela acrescentou: “O nosso problema é a trepidação. A maior parte das casas daqui ainda é feita no modo antigo. Acumulam pedra em cima da outra. Não são feitas de cimento armado ou tijolo". Tirando os patrimônios que são tombados, e que estão sob a responsabilidade das autoridades competentes, as outras casas são propriedades privadas. “E quem paga os nossos danos? As carretas passam pela rua Dr. Malcher, passam na frente da igreja da Sé (Catedral Metropolitana de Belém) e seguem (seu trajeto). Mas a passagem é aqui”, afirmou. “O problema nem sempre é o caminhoneiro, mas o funcionário público que autoriza ou não controla o respeito às leis”, disse.

Em nota, a Segbel informou que tem intensificado as fiscalizações no trânsito, por meio de rondas e denúncias recebidas, com o objetivo de coibir situações que prejudicam a mobilidade, colocam vidas em risco e que garantam o direito de ir e vir da população.

O problema da circulação de caminhões fora de horário não acontece apenas na Cidade Velha. A equipe de reportagem de O Liberal flagrou, ontem, dezenas de caminhões e carretas circulando pela BR-316 por volta das 9h – período de tráfego proibido para esses veículos, conforme o Decreto Estadual Nº 15/2019. A lei estabelece que o tráfego de veículos pesados do km 01 ao 18 da BR-316 é restrito entre 7h e 10h e das 17h às 21h, de segunda a sábado, com exceção das cargas previstas em lei, que possuem trânsito livre.

image Trânsito de veículos pesados prejudica moradores do bairro da Cidade Velha, em Belém (Foto: Adriano Nascimento | Especial para O Liberal)

Conjunto arquitetônico foi tombado em 2012

Tombado em 2012, o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico dos bairros da Cidade Velha e Campina reúne cerca de 2.800 edificações protegidas, dentre as quais estão palacetes, palácios e sobrados, cujos andares térreos geralmente comportam lojas comerciais. Nessa área, também estão incluídos imóveis tombados individualmente, como o Complexo do Ver-o-Peso, o Theatro da Paz, os palácios Antônio Lemos e Lauro Sodré, além das igrejas da Sé, de Santo Alexandre, do Carmo e das Mercês, dentre outras edificações, informa o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Em nota, e no trecho sob a sua jurisdição, o Departamento de Trânsito do Estado (Detran) informa que o Decreto Estadual Nº 15/2019 estabelece que o tráfego de veículos pesados do km 01 ao 18 da BR-316 é restrito entre 7h 10h e das 17h às 21h, de segunda a sábado, com exceção das cargas previstas em lei, que possuem trânsito livre.

 

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