Ponte de Outeiro: incidente que mudou rotina dos moradores completa um mês esta semana
A vida dos habitantes da Ilha de Outeiro jamais foi a mesma, após a queda de um pilar central que sustenta a Ponte Enéas Martins, no dia 17 de janeiro deste ano
Na próxima quinta-feira (17), a interdição da Ponte Enéas Martins, mais conhecida como “Ponte de Outeiro", completará um mês. A estrutura, que cruza o Rio Maguari, ligando os distritos de Outeiro e Icoaraci, foi interditada após ter sido supostamente atingida por uma embarcação. O incidente mudou completamente a rotina de quem mora ou precisa acessar a Ilha de Caratateua, exigindo rápidas soluções das autoridades para amenizar os transtornos causados e reacendendo discussões sobre antigos problemas vivenciados por cerca de 80 mil habitantes da ilha mais povoada de Belém.
Localizada a 25 km do centro da capital paraense, Outeiro é um dos oito distritos administrativos de Belém, está distribuído em quatro bairros e tem como principal atrativo turístico suas sete praias de água doce, procuradas sobretudo por conta da proximidade com a área central do município. Após a construção da Ponte Enéas Martins, em 1986, houve uma grande migração para a região, provocada pelo aumento dos preços dos imóveis nas áreas centrais da cidade. O deslocamento populacional ocorreu sem qualquer planejamento prévio de mobilidade e infraestrutura.
O incidente com a Ponte de Outeiro ocorreu por volta das 6h30 daquela segunda-feira, quando um dos pilares de sustentação da estrutura se desprendeu e uma rachadura se abriu na pista. A situação assustou quem precisa passar pelo local. Em seguida, os órgãos de segurança do Estado interditaram a via e informaram que possivelmente uma balsa seria responsável pelo rompimento do pilar central. No mesmo dia, um pescador informou às autoridades que a estrutura cedeu sozinha, ou seja, segundo esta versão, supostamente a queda do pilar teria ocorrido por conta de desgaste estrutural.
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Primeiras medidas dos governos estadual e municipal
Na tarde daquele mesmo dia, uma força tarefa dos órgãos de segurança do estado e município se reuniram para gerenciar, no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), as atividades a serem realizadas no local do acidente. Em paralelo a isso, um ferryboat, com capacidade para 600 passageiros e 75 carros por viagem, começou a operar transportando pedestres e veículos. O traslado foi disponibilizado gratuitamente, 24 horas por dia, com saída do Porto da Sétima rua, de Icoaraci, e chegada no porto da Brasília em Outeiro.
Por conta da maré baixa, o espaço de atracamento do lado da ilha apresentou estrutura dificultosa à entrada e saída de veículos. Entretanto, os ajustes ainda não eram suficientes para a viagem de condutores motorizados.`No começo da noite, duas grandes filas desencontradas estavam formadas por pedestres ansiosos para voltar para casa. Paralelamente ao serviço provisório da balsa, barqueiros faziam a travessia nesse trecho do Furo Maguari. Essa alternativa já existia bem antes da interdição da ponte de Outeiro, entretanto, foi suspensa pelos órgãos de segurança.
No segundo dia, 18 de janeiro, o traslado entre a ilha de Outeiro e o distrito de Icoaraci passou a contar com o apoio de um ferryboat e uma balsa. Cada uma das embarcações, disponibilizadas pela Secretaria de Estado de Transporte (Setran), têm capacidade para transportar 480 passageiros e 65 veículos por viagem. O acesso a rampa de embarque e desembarque foram controlados por barreiras do Detran. Na quarta-feira (19), duas lanchas rápidas passaram a fazer travessia gratuita entre o Terminal Hidroviário de Icoaraci e o Terminal Hidroviário de Outeiro. Dois navios também foram disponibilizados para o traslado de passageiros do Porto Sotave, da Companhia Docas do Pará (CDP), em Outeiro, para o centro de Belém, com desembarque no Terminal Hidroviário da capital.
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Polícia Civil inicia investigações e depoentes negam que embarcação bateu em ponte
Logo após o acidente, policiais foram deslocados para a área e iniciaram averiguações e análise de embarcações que estavam próximas ao local. Ainda no início da noite de segunda-feira, uma balsa foi localizada e apreendida no Rio Maguari, para ser submetida à perícia técnica pela Polícia Científica do Pará. A Polícia Civil (PC) realizou diligências na terça-feira (18) nas margens do Rio Maguari, com agentes da Delegacia de Polícia Fluvial, averiguando outras embarcações. As investigações prosseguiram no dia seguinte (19), com a coleta de depoimentos de moradores da área.
Após a apreensão da balsa, uma perícia foi solicitada para verificar se existem avarias ou ranhuras que liguem a embarcação ao choque com a viga da ponte de outeiro. Imagens das câmeras de segurança da balsa também foram solicitadas para serem periciadas. De acordo com fontes da Polícia Civil, o depoimento das sete pessoas informou que a embarcação apreendida, passou por volta das seis horas e quatro minutos por debaixo da ponte, mas não bateu em nenhuma viga.
Na quinta-feira (19), a Polícia Científica do Pará informou que foi realizada perícia sobre a estrutura da ponte do Outeiro e na embarcação que possivelmente colidiu contra a estrutura, fazendo um pilar desabar. O laudo conclusivo tem previsão legal de 10 dias, podendo ser prorrogado por mais 10 dias, que será repassado a Polícia Civil, que é responsável pelo caso. Durante uma coletiva realizada no dia 23, a PC confirmou estar em posse do empurrador apontado como causador do acidente.
O caso foi colocado em sigilo, por conta disso, as autoridades têm sido reticentes em tecer comentários sobre as investigações. Até agora ninguém confirmou que houve de fato a colisão, que é tratada como uma das possíveis linhas de investigação. “Ainda é leviano qualquer afirmação sobre o caso. Temos que esperar os resultados das perícias, tanto a de engenharia quanto das imagens. Enquanto o laudo ainda não está disponível, estamos ouvindo mais pessoas que moram próximo a ponte”, afirmou a esta reportagem o delegado diretor da Delegacia Fluvial, Luiz Carlos Barros Junior, por meio de aplicativo de mensagem instantânea.
A Polícia Civil foi procurada para se posicionar institucionalmente e respondeu, por meio de nota, que “o inquérito policial instaurado segue apurando os fatos. Os tripulantes da embarcação periciada e moradores da comunidade já prestaram depoimento. A PC esclarece, ainda, que todas as diligências necessárias continuam sendo feitas para elucidação do caso”.
Desabastecimento no comércio, dificuldades com transporte público e falta de coleta de lixo em Outeiro
Desde quando os transportes via balsas e ferryboat começaram a funcionar, vários transtornos foram registrados, tais como: demora para embarque e desembarque de passageiros, colisão entre embarcações, paralisação das viagens, entre outros problemas. Com o incidente com a Ponte de Outeiro, não demorou muito para o comércio local ser impactado com a falta de abastecimento de insumos. O acúmulo de lixo e a ausência da sua coleta, além da redução do transporte público dentro da região, também se tornaram frequentes na região.
Coletivos e vans passaram a encerrar suas atividades dentro da Ilha após as 21h. Ao desembarcarem nos trapiches de Outeiro, os moradores da região que não possuem veículos próprios precisam recorrer aos mototaxistas ou aos carros por aplicativo que circulam dentro do distrito. Devido à escassez de transporte, as pessoas que chegam por volta das 01h não conseguem mais ônibus para retornarem às suas residências.
Moradores da ilha também se queixaram sobre a superlotação na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Outeiro e a falta de policiamento nas ruas. Para evitar prejuízos financeiros, funcionários de restaurante, na praia Grande, na Orla de Outeiro, precisaram ser dispensados. Paralelamente à alta nos preços, o abastecimento dos supermercados e mercearias foi retomado a passos lentos, segundo empresários e consumidores, deixando prateleiras quase vazias. Alimentos e outros gêneros de primeira necessidade apresentaram escassez em virtude da distância que separa a ilha da capital, onde estão os principais distribuidores.
Reconstrução da Ponte de Outeiro e novas medidas da Prefeitura de Belém e Governo do Estado
A frente de trabalho, responsável pela reconstrução da ponte, está na fase de mobilização de equipamentos e materiais para início de obra, o que deve ocorrer em breve, informou o Governo do Estado na última terça-feira (8). A ordem de serviço para o início das obras de reconstrução da ponte de Outeiro foi assinada, no último dia 29, pelo governador Helder Barbalho. De acordo com o novo projeto da ponte, será construído um mastro de 50 metros, que permitirá a abertura de um canal de navegação de 100 metros, aumentando em 40 metros o espaço atual, que é de 60.
Além do mastro, serão realizadas obras em todos os pilares da ponte, na pista de rolamento, no guarda-corpo, na sua estrutura em aço e nas passarelas para pedestres e faixas para ciclistas. O secretário de Estado de Transportes (Setran), Adler Silveira, informou que até o dia 15 de fevereiro serão feitos testes de carga para avaliar se a ponte poderá ser liberada para pedestres, ciclistas e motociclistas. O projeto da nova ponte contempla ainda a instalação de defensas nos pilares para impedir novos choques de embarcações. O tempo total para conclusão é de seis meses. As obras prosseguirão e, no prazo de três meses, o tráfego de veículos, exceto caminhões, deve ser liberado na ponte do Outeiro.
Novas medidas, como a ampliação das áreas de tendas na Sétima Rua, em Icoaraci, e na Brasília, estão sendo feitas em Outeiro para a espera de embarque, com capacidade para mil pessoas, além, segundo Adler Silveira, titular da Secretaria de Estado de Transportes (Setran), da instalação de novos banheiros químicos e grades de proteção estão entre as melhorias proporcionadas pelo Governo desde o dia 8 de fevereiro. Para melhorar o atendimento à população, o Estado também vai aumentar o número de viagens das embarcações que já fazem o trecho Outeiro-Belém, e disponibilizar um flutuante para ser colocado no trapiche de Icoaraci, para garantir o atraque de novas embarcações, informou o Governo do Pará.
A Prefeitura de Belém, por meio do Banco do Povo de Belém, apresentou no dia 8 deste mês, a política do crédito solidário (microcrédito), que visa apoiar os pequenos negócios, no auditório da Fundação Escola Bosque, em Outeiro. A ação estreia entre as medidas emergenciais direcionadas ao distrito, que foi afetado pela interdição da ponte de acesso a Icoaraci. O Banco tem R$ 1 milhão para investir em crédito solidário na Ilha de Caratateua.
No mesmo dia, a administração municipal, por meio do Banco do Povo de Belém, levou o programa de qualificação profissional "Donas de Si" para Outeiro. A reunião aconteceu no auditório da Fundação Escola Bosque, com a participação de alguns homens, que também ficaram interessados em aprender com o programa.Foram apresentados os cursos que serão realizados no período de 7 a 18 de março deste ano, com o total de 80 vagas.
O programa foi especialmente desenvolvido para mulheres em condição de vulnerabilidade social, como as beneficiárias do programa de renda cidadã "Bora Belém", com o objetivo de estimular a autonomia financeira.
Também entrou em operação, no dia 8, o terceiro catamarã para a travessia Outeiro-Icoaraci-Outeiro. Essa é uma das medidas tomadas pelo Grupo de Trabalho, que envolve órgãos municipais e estaduais. A embarcação tem capacidade para 300 lugares e vai agilizar a travessia, reduzir o tempo de espera de embarque e as filas.
Na última quinta-feira (10), três linhas de ônibus que atendem aos usuários do distrito de Outeiro tiveram seus pontos terminais transferidos para a rua Siqueira Mendes, entre a travessa São Roque e a avenida Dr. Lopo de Castro. A medida visa melhorar o acesso da população de Outeiro para os coletivos com destino ao Ver-O-Peso, avenida Presidente Vargas e bairro de São Brás.
A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) emitiu Ordens de Serviço (OS) para garantir aos usuários de Outeiro, afetados com a interdição da ponte, a oferta de transporte coletivo por ônibus na parte continental do município de Belém, nas proximidades da travessia do Trapiche de Icoaraci, onde desembarcam os passageiros dos navios e catamarãs.
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