Pesquisa revela que brasileiros estão mais impacientes; em Belém, trânsito e calor irrita as pessoas

Psicóloga Marilda Couto diz que impaciência tem a ver com a sociedade atual: “Você vê o quanto as pessoas ficam impacientes, nervosas, quando um determinado equipamento ou a própria rede está se demonstrando lenta”

Dilson Pimentel

Em abril deste ano, um homem de 40 anos foi morto a tiros, no Distrito Federal, após uma discussão. O crime é investigado pela Polícia Civil, mas é provável que, se houvesse um pouco mais de paciência, o desentendimento inicial não teria prosperado e terminado em tragédia.

Trânsito, filas e dificuldade para se comunicar pela internet e, no caso de Belém, o calor também deixam as pessoas impacientes. De acordo com uma pesquisa realizada em maio de 2021 pela empresa de pesquisa e monitoramento de mercado, Hibou, 66% dos brasileiros estavam mais impacientes com outras pessoas.

A impaciência é um mal que pode provocar doenças como a obesidade, a hipertensão e o envelhecimento precoce.

Doutoranda em Psicologia e mestra em Psicologia Clínica e Social pela Universidade Federal do Pará, Marilda Couto disse que a impaciência que temos observado tem relação estreita com as características da sociedade atual. Ela citou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que fala da “modernidade líquida”.

image A educadora social Tainah Sousa, 40 anos, disse que o clima da cidade a deixa muito impaciente. “O calor acaba influenciando no meu emocional. Eu fico estressada", afirmou (Carmem Helena/O Liberal)

Ou seja, a liquidez fugaz e transitória que domina este momento social. “Os desejos, as atitudes, os afetos, todas as coisas parecem que vêm e se vão com uma rapidez extraordinária. As relações líquidas e voláteis  rapidamente se evaporam no ar após chegarem também  rápidas e velozes", disse.

E isso também tem a ver com as questões tecnológicas. “Você vê o quanto as pessoas ficam impacientes, nervosas, quando um determinado equipamento ou a própria internet está se demonstrando lenta. Isso se dá porque estamos nos acostumando a resolver coisas da vida cotidiana num clique", afirmou.

Outro exemplo dessa rapidez se percebe, principalmente, entre os mais jovens, na necessidade de abreviação das palavras visando uma comunicação mais rápida, com " atalhos". “Poderíamos dizer que  esta linguagem escrita da internet é uma linguagem líquida, rápida, com o uso de muitos emojis e muitas figurinhas”, afirmou.

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Para muita gente, áudio com duração de três minutos já é um podcast

Marilda Couto disse que, se alguém manda um áudio de três minutos a uma pessoa, pode receber o questionamento “está mandando um podcast?”. “Muitos sentem como perda de tempo escutar uma mensagem de três minutos de um amigo/a, do companheiro/a ou de qualquer pessoa”, afirmou.

"Tem se convencionado que, para ligar ou telefonar para alguém, é preciso, antes, pedir permissão, saber se a pessoa pode atender, se consente, se está disposta a esta escuta. Assim, a surpresa dos bons encontros, a alegria de receber um telefonema inesperado com um convite de viva voz, perde lugar para um agendamento que cumpre muitas vezes parceria com a impaciência e a intolerância que nos afasta cada vez mais das trocas interpessoais mais próximas", analisou.

Por outro lado, o imediatismo existente nestes meios de comunicação pode até arruinar relações afetivas. Um exemplo é a visualização feita pelo destinatário das mensagens do WhatsApp, que não são respondidas de imediato - visualizar e não responder imediatamente pode ser o início de uma crise na relação. "Conheço casais que optaram por desativar esta opção em seus celulares", contou.

Outro movimento importante relacionado a impaciência ou a pressa reinante na sociedade é a busca pelo sucesso fartamente propagada nas sociedades capitalistas. Muitos coaches, por exemplo, trabalham na direção da  não perda de tempo por quem quer alcançar o sucesso.

Os slogans do tipo "trabalhe enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem" atestam muito bem a corrida e a competitividade muitas vezes acirradas entre pessoas, sobretudo no ambiente de trabalho. "Então, nesse contexto, é cada vez mais difícil as pessoas relaxarem. O advento dos celulares que nos acompanham noite e dia também tem seu peso nessa aflição cotidiana. Mesmo você estando em casa, no convívio familiar, é cada vez mais comum o seu celular não parar de vibrar. A toda hora tem uma demanda para responder pro chefe, pro amigo/a, individualmente ou em grupos”, disse.

Marilda também afirma que nosso cotidiano não precisa ser esse tumulto todo. E que, às vezes, é preciso frear essa roda viva e se questionar: “por que mesmo que estou correndo? Há necessidade de fato? De que forma posso.me organizar melhor e ter meu tempo diário de relax? Pra onde estou indo com tanta pressa? Às vezes, você corre tanto e não sabe nem bem qual é a direção que você está indo, né?”.

Para relaxar, ela sugere que as pessoas realizem atividades de acordo com suas preferências  e sensações  de bem estar. Para algumas pode ser a ioga, a dança, para outras as  atividades físicas, a leitura, tocar um instrumento musical.  "Mas não esqueça de desligar os problemas, inclusive o celular", recomenda.

 
image O assistente administrativo Arnaldo Rocha fica impaciente com a má educação de quem joga lixo na rua. Para manter a calma, Arnaldo conta até 50 (Carmem Helena/O Liberal)

Calor de Belém deixa impaciente educadora social

A educadora social Tainah Sousa, 40 anos, disse que o clima da cidade a deixa muito impaciente. “O calor acaba influenciando no meu emocional. Eu fico estressada. Mais o fato de eu cuidar de uma criança pequena, que tem 2 anos e é filha única, e está em uma fase em que não para um instante. Tem que correr atrás. Tudo isso me deixa um pouco estressada”, disse.

A alternativa é, acompanhada do marido, levar a criança para passar na praça, para ela ficar mais à vontade. “Também para desestressar e sair de casa”, contou. Em relação ao calor, não há muito o que fazer: “tem que aguentar mesmo. Tomar uma água de coco”. O assistente administrativo Arnaldo Rocha, 53 anos, fica impaciente com a má educação de quem joga lixo na rua. Às vezes, a fila do banco também o deixa sem paciência. Para manter a calma, Arnaldo conta até 50. “Está dando certo”, disse.

Ariel Ayres, técnico de informática de 33 anos, disse que, geralmente, é paciente. Mas a falta de respeito no trânsito o deixa sem paciência: motoristas que param em fila tripla ou estacionam ou locais proibidos, deixando o "trânsito caótico”. Ele também fica impaciente na fila da padaria ou do restaurante, principalmente quando só há uma pessoa para atender o público e esse funcionário não pede ajuda para agilizar o atendimento. “A pessoa poderia dizer que está com um pequeno problema e que vai pedir ajuda. Isso faria a diferença no atendimento”, afirmou.

image Ariel Ayres, técnico de informática, disse que a falta de respeito no trânsito o deixa sem paciência. Ele também fica impaciente na fila da padaria ou do restaurante, principalmente quando só há uma pessoa para atender o público e esse funcionário não pede ajuda para agilizar o atendimento (Carmem Helena/O Liberal)

Dicas para se acalmar:

Exercite a serenidade e aceitação. Mesmo que o dia tenha começado com grandes desafios, não se deixar levar pela preocupação é fundamental.

Meditação. Pare cinco minutos. Sente-se em um local tranquilo. Feche os olhos e respire lentamente. Meditar é importante para acalmar a energia e conectar-se com sua essência.

Praticar regularmente atividade física.

Não adianta se preocupar com situações que estão além do alcance no momento. "O mundo não acaba hoje e você também não", diz.

Evite críticas e julgamentos precipitados.

Exercite a empatia. Se uma pessoa fizer algo que num primeiro momento você desaprova, evite criticar. Em vez disso, coloque-se no lugar dela e tente entender as razões que a levaram a agir daquela forma.

Evite reações intempestivas quando provocadas. Se alguém tratar você mal, não reaja, porque fazer isso é como jogar gasolina na fogueira. Neutralize o efeito da maldade com amor.

Fonte: terapeuta transpessoal, palestrante e escritor, Robson Hamuche, fundador do Resiliência Humana

 

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