Novo modelo construtivo cria casas ribeirinhas sustentáveis e adaptadas às mudanças climáticas
Necessidades e tradições locais dos ribeirinhos de Belém foram o ponto de partida para o projeto
O resgate de um modelo construtivo ambientalmente adequada à realidade amazônica e com novas tecnologias como energia solar, tratamento de água e esgoto sustentáveis está no centro do projeto de extensão “Ribeirizar: ambiência ribeirinha amazônica”, criado pelo Grupo de Pesquisa Paralelo, do Instituto Federal do Pará (IFPA). Professores e estudantes do ensino médio integrado e da pós-graduação desenvolveram um modelo de construção de casas especialmente voltado para a vida ribeirinha.
O projeto que tem sido destaque em apresentações e exposições já foi apresentado na 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16) da Colômbia, e chamou muito a atenção. Os professores perceberam que as mudanças nas construções das comunidades ribeirinhas ao longo das últimas décadas trouxeram problemas que não existiam anteriormente.
Os estudantes do curso Técnico de Design de Interiores e da Especialização em Tecnologia Social, Saúde e Ambiente na Amazônia, e de outros cursos criaram o modelo e a maquete deste tipo de casa, com a orientação das professoras Eliana Machado Schuber e Mônica Nazaré da Silva, que contou o apoio dos docentes Laura Caroline de Carvalho da Costa, Bruno Perdigão Pacheco e Orlando Simões Júnior.
“Esse projeto teve início a partir de uma visita técnica que a gente fez com o curso de especialização, na Ilha das Onças, em parceria com a professora Vânia Neu da Ufra [Universidade Federal Rural da Amazônia], onde a gente identificou que as tecnologias sociais que são implantadas nas construções. Eles relataram alguns problemas na habitação e a gente identificou que eles perderam muito das técnicas construtivas tradicionais, por pressões do mercado, por questões financeiras também e pela ausência do material que eles costumavam usar nos seus quintais”, detalha Eliana Schuber.
Outro problema identificado foi a falta de modelos construtivos para a região Amazônica. Os modelos de construções populares atuais realizadas pelo Governo Federal visa os grandes centros urbanos do sudeste do Brasil, sem levar em conta a realidade da Amazônia, como a simples necessidade de atar uma rede. O grupo começou a identificar quais eram as técnicas e materiais utilizados anteriormente e como poderiam ser feitos novamente.
Os pesquisadores desenvolveram um projeto levando em consideração os materiais e as necessidades das comunidades. Uma maquete com o modelo da casa sustentável foi construída. Agora a expectativa é a instalação de módulos experimentais, ou seja, três casas-modelo em tamanho real. Uma servirá de laboratório multidisciplinar, dentro do Campus Belém, outra será na comunidade da Usina Vitória e a terceira no Porto Ceasa, onde moradores da localidade serão selecionados para avaliar se o modelo responde às suas necessidades cotidianas. Os pesquisadores buscam financiamento para a construção dessas casas em tamanho real. Cada habitação tem o custo de R$ 250 mil totalmente equipada. No entanto, para construir a habitação, a casa com 60m² custaria de R$ 70 a R$ 80 mil.
A estudante do 3º ano do curso Técnico Integrado de Design de Interiores Ana Paula de Souza, de 17 anos, integrante do projeto, tem uma ótima avaliação sobre a casa sustentável e na visibilidade para um assunto ainda pouco explorado. “É um assunto bastante invisibilizado e a gente aprende com essa oportunidade”, diz. “É muito gratificante a experiência que todos puderam ter e ver como funciona. Todos puderam participar de forma dinâmica”, complementa.
As casas sustentáveis também já estariam adaptadas às mudanças climáticas, tanto na diminuição do impacto ambiental, quanto para as mudanças no clima, que geram um aumento da temperatura na Amazônia. O modelo arquitetônico foi todo planejado para as necessidades ribeirinhas.
Dentre as adaptações estão abertura do telhado para facilitar a ventilação e iluminação do imóvel, uma casa alongada favorecendo a socialização dos moradores, e adoção de tecnologias sociais para solucionar problemas, como o acesso a água potável e o tratamento do esgotamento sanitário.
Os modelos são compostos por sistemas de abastecimento de água com a coleta de água da chuva com um filtro, e de Sistema de Tanque de evapotranspiração (TEvap), um sistema de tratamento de esgoto doméstico que funciona com base em plantas e solo. “Após o esgoto ser filtrado vai para um sistema de produção familiar de peixes e vegetais como tomates e outras leguminosas, que possam ser produzidos neste sistema”, explica a Schuber.
Os futuros módulos utilizarão madeira certificada de projetos de reflorestamento para o estudo do conforto ambiental e paralelamente será realizado o enriquecimento dos quintais dos ribeirinhos com o replantio de espécies de árvores de madeiras utilizados antigamente nas construções. “A gente ainda não tem o financiamento para poder implementar, mas estamos aguardando para a gente poder construir [os módulos]”, aponta a professora.
Os estudantes e professores estão ansiosos para a apresentação do projeto Ribeirizar na COP30, que foi selecionado no Edital da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), no espaço destinado ao Ministério da Educação (MEC). Os interessados em conhecer melhor o projeto podem acessar o perfil no Instagram @Ribeirizar.
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