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Nazaré e Batista Campos têm maior número de quedas de árvores em Belém, avalia agrônomo

Desde o início do ano de 2025, 12 árvores tombaram em Belém, sendo 9 em janeiro, de acordo com a Semma

Gabriel Pires

Os bairros de Nazaré e Batista Campos lideram o número de quedas de árvores em Belém. A análise faz parte do projeto "Semente do Amanhã – Belém Mais Verde", da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) em parceria com a prefeitura. De acordo com o agrônomo Cândido Neto, o envelhecimento das árvores, intervenções urbanas inadequadas e as mudanças climáticas estão colocando em risco a arborização da cidade. Ele ainda lembra que, nos bairros do Marco, Nazaré, Reduto e Fátima, existem cerca de 250 árvores em situação crítica.

Esse cenário vem à tona já que, de acordo com a Semma, desde o início do ano de 2025, 12 árvores tombaram em Belém, sendo 9 em janeiro e 3 até este momento de fevereiro. Sobre dados de tombamento de 2024: em janeiro, foram contabilizadas 14 árvores tombadas; em fevereiro do referido ano, oito. No ano de 2024, o total foi de 46 árvores tombadas. Para evitar o problema, a prefeitura retomou, na última segunda-feira (3), os trabalhos de poda e supressão, começando pelo Bosque Rodrigues Alves e a travessa Dr. Moraes. O objetivo é reduzir os riscos de quedas e garantir mais segurança para a população.

Sobre essas áreas com maior risco iminente, Cândido detalha: “O bairro de Nazaré hoje é o que tem o maior problema de queda de árvores, inclusive por causa do histórico das árvores, que são as mangueiras e são árvores mais antigas. Batista Campos também por conta do histórico desses vegetais. As mangueiras estão caindo, principalmente, que foram colocadas na época por Antônio Lemos por conta de uma demanda de arborização na época, por fazer uma boa copa, tudo. Mas essa variedade cresce muito e o sistema radicular necessita de espaço”, explica o agrônomo. 

“Belém tem vários pontos críticos. O Marco, por exemplo, que existe uma ou outra árvore, que exige fiscalização. Ainda não se tem como inibir em 100% essas quedas. Temos muitas árvores em alguns bairros. Mas temos feito um levantamento com o projeto, justamente para ver quais árvores têm mais risco de queda, para trabalhar a prevenção e que possamos retirar antes mesmo do que está acontecendo. Estamos levantando quantitativamente e qualitativamente as espécies. Verificamos onde pode plantar mais também e qualidade das árvores”, acrescenta Neto.

image Bairro da Batista Campos concentra um dos pontos da capital com maior número de quedas de vegetais (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Chuvas

Neto diz, ainda que esses fatores aliadas às chuvas - que propiciam a falta de sustentação das raízes - também são fatores das quedas: “As árvores foram colocadas em pequenos espaços, as raízes se desenvolveram, mas, ao longo do processo de urbanização, começou a ser pavimentada, começaram a ser cortadas e retiradas as árvores, bem como um encanamento que passa naquela área. Tudo isso foi retirando o sistema radicular da árvore e a planta foi perdendo uma área de sustentação. Mas também vemos muitas árvores cimentadas na gola, que prejudicam. As raízes morrem”, explica Neto.

“E quando se vai para a parte aérea, temos árvores cheias de ervas de passarinhos, além de podas inadequadas. Com essas podas para desobstruir [os galhos e folhas] da fiação elétrica, desequilibra o vegetal, que acaba inclinando. E precisa-se fazer uma poda de manutenção de tamanho. Se vê árvores muito grandes, principalmente as mangueiras, e acontece que, com o peso dela, a sua altura e com o sistema radicular altamente fragilizado, ela acaba tombando”, completa o agrônomo.

Já em relação às mangueiras, a retirada total não é uma solução viável devido ao valor histórico e cultural dessas árvores. No entanto, quando uma mangueira é removida, a legislação exige o plantio de outra no lugar. O projeto “Semente do Amanhã” tem recomendado a variedade manguita, que tem menor porte e se adapta melhor ao ambiente urbano. 

E para evitar futuros problemas, algumas espécies de árvores, como o ficus, tiveram seu plantio proibido pela Semma. "O ficus tem raízes superficiais que levantam calçadas e não garantem estabilidade em caso de ventania. Onde tem essas árvores a Semma vem com a gente mapeando para tirar esses Ficus", afirma o agrônomo. “A gente vem indicando espécies adequadas. Belém tem onde plantar, mas estamos selecionando as espécies para que daqui a alguns anos a gente não tenha problema.

Estudo

Um estudo realizado em 14 bairros pela Semma levou em conta fatores como inspeção visual, análise fitossanitária e laudos técnicos prévios. O levantamento também identificou 110 árvores que precisarão passar por manutenção ainda em fevereiro, com serviços de poda e, em casos extremos, supressão. Além da identificação das árvores em risco, a Semma já iniciou os trabalhos no centro de Belém, onde a maioria das intervenções são podas de condução, rebaixamento e livramento, além de 27 supressões programadas. 

Segundo a secretaria, o mapeamento das árvores é um trabalho contínuo, garantindo que novas áreas sejam constantemente avaliadas e incluídas no cronograma de manutenção. Para acelerar a ampliação do serviço de manutenção, a Semma recontratou uma empresa terceirizada, que atuará ao lado das equipes da Prefeitura.  A ação seguirá um cronograma técnico, priorizando áreas com maior risco. Os próximos bairros que receberão os serviços incluem Campina, Castanheira, Icoaraci, Jurunas, Marco, Nazaré, Parque Guajará, Pedreira, Ponta Grossa, Souza, Telégrafo, Tenoné e Umarizal. 

De acordo com a Semma, desde setembro do ano passado, nenhum serviço relacionado à manutenção das árvores do centro de Belém era realizado. O trabalho de poda e supressão iniciado durante a semana começou pelo Bosque Rodrigues Alves e foi intensificado para o centro da capital, onde estão registradas mais de 120 mil árvores, sendo, em sua maioria, centenárias.

População

A insegurança com a queda de árvores em Belém preocupa moradores. O servidor público Pedro Ferreira expressa o temor da população diante do risco crescente, especialmente com a chegada do período chuvoso. "O temor existe. É natural. Afinal de contas, uma cidade que cresceu de maneira tão desordenada como essa, sem que as gestões ao longo do tempo tivessem o devido cuidado com esse patrimônio natural, só poderia enfrentar esse tipo de problema", afirma.  

A urbanização desordenada, com calçamentos impermeáveis e asfaltamento excessivo, prejudica o crescimento das árvores e contribui para sua fragilidade. A presença de ervas parasitas e a falta de manutenção agravam ainda mais a situação. "A gente espera que sejam só perdas materiais e que não tenhamos perdas de vidas humanas", alerta. Além da questão da segurança, a preservação da arborização de Belém também tem um impacto na identidade da cidade. "Já fomos conhecidos como a cidade das mangueiras, mas essas árvores estão diminuindo cada vez mais", diz o servidor.

A preocupação com a queda de árvores em Belém também é compartilhada por quem circula diariamente por praças e ruas da cidade. A babá Luciele Medeiros destaca o medo constante da população diante do risco de desabamento de árvores antigas e inclinadas.  Segundo ela, o período chuvoso agrava ainda mais a situação, pois o solo encharcado torna as árvores mais pesadas, enquanto as raízes, muitas vezes comprometidas, perdem a sustentação.  

Luciele reforça a necessidade de um olhar mais atento do poder público para a preservação das árvores, principalmente nas praças da cidade, onde há grande concentração de exemplares antigos. "Tem muitas árvores velhas, e eu acredito que pode ter esse olhar fortalecido", sugere.  "A gente nunca sabe a hora que pode cair uma árvore. Tem muitas que estão tortas, e eu acredito que isso aumenta o risco de queda", afirma. 

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