Moradores denunciam redução da frota de ônibus em bairros de Belém
Nos conjuntos Satélite e Maguari, há poucos ônibus para atender a comunidade; em período de chuva a falta de ônibus se torna um problema ainda maior
Moradores denunciam a redução da frota de ônibus nos bairros de Belém. Isso faz com que os usuários do transporte público passem muito tempo nas paradas, o que os impede de chegar, a tempo, em seus compromissos pessoais e profissionais. Esse problema se torna ainda pior em período chuvoso, como neste início de ano. E também com a precariedade de estrutura de algumas paradas. Esses agravantes causam desconforto para quem acaba passando vários minutos e até mais de uma hora aguardando um coletivo com risco de se molhar pela rua.
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A diminuição do número de ônibus ocorre, por exemplo, no conjunto Satélite, no bairro do Coqueiro. Antes, a comunidade contava com quatro linhas de ônibus. Hoje, há apenas uma. E essa linha não chega até o centro da cidade. A parada de ônibus da SN 5, uma das principais do bairro, não tem cobertura e nem banco para os passageiros. Eles esperam o ônibus em pé, sem nenhuma proteção contra o sol ou a chuva. A técnica de enfermagem Edna Maria de Souza, 66 anos, estava naquela parada de ônibus na manhã nublada desta quarta-feira (1º) havia 20 minutos. Ela reside no conjunto Maguari, onde os moradores também sofrem com a falta de ônibus. Para chegar no Satélite, Edna vai de mototáxi.
“Eu vim de moto porque lá também não tem ônibus. Reduziu muito”, disse. “Nos finais de semana, não tem ônibus. Pego a moto. Pago R$ 4”, disse. Há moradores que vão a pé do Maguari até o Satélite. Ou, se estiverem no Maguari, vão caminhando para a avenida Augusto Montenegro, para poder pegar um transporte “Mas, como é perigoso ir caminhando, prefiro ir de moto”, contou.
Edna lembrou que, antes, havia uma linha que ia até o Ver-o-Peso. Hoje não existe mais essa linha. “Eu trabalho na avenida Generalíssimo (Deodoro). Eu saio do Maguari e vou de moto até o Satélite. Aí, de ônibus, desço na Almirante. E pego um que passa na avenida José Malcher”, contou. “E as paradas são sempre lotadas”, afirmou. Como a parada não tem cobertura, se chover a saída é buscar abrigo em um estabelecimento ali em frente. “Aí, se chover, a gente corre ali pra baixo da cobertura da loja”, disse Edna.
No Satélite, linha de ônibus não vai mais até o centro da cidade
A funcionária pública Cibele Martin também mora no conjunto Satélite e contou que, por causa da falta de ônibus, há trabalhadores que usam bicicletas para se deslocar para o trabalho. Ela afirmou que a redução no número de veículos começou na gestão municipal passada. “E depois ela ficou ainda mais restrita. Ou seja, no Satélite só funciona a linha para a UFPA”, contou. Essa redução afeta a rotina dos moradores “Afeta de todas as maneiras piores possíveis. Porque aqui tem servidores públicos, estudantes de faculdades. A nossa necessidade é tremenda. Não só aqui o Satélite como as adjacências também que necessitam desses ônibus”, contou Cibele Martin.
Ela afirmou que não há mais a linha que chegava antes do Ver-o-Peso e nem à avenida Presidente Vargas. “Apelamos ao poder público para que haja o retorno (das linhas) para cá porque realmente a comunidade necessita disso”, afirmou. Outro detalhe: os moradores dizem que, a partir das 17 horas, e além da demora, os ônibus também passam lotados. Há mais de um ano, a comunidade se reuniu com representantes da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) para tratar desse assunto.
No Maguari, há um contêiner na parada de ônibus
Na avenida principal do conjunto Maguari, há uma parada de ônibus na frente da qual há um contêiner colocado por algum morador para despejar entulhos de construção. Esse equipamento, portanto, reduz ainda mais o espaço reservado aos usuários do transporte público. “Sinceramente, eu acho um absurdo. Praticamente só tem dois ônibus”, disse Francisco Uchôa, 68 anos, dono de um mercadinho. “Aqui é Alameda 2. Para a pessoa ir a pé até a Alameda 30, uma pessoa de idade, ou qualquer pessoa, não tem condição. Não tem ônibus”, afirmou.
“Eu tenho um irmão que mora na Alameda 22. Eu vou e volto a pé. Ficar o nosso conjunto sem transporte nenhum. E isso já tem pelo menos um ano”, disse. Francisco lembrou que há pessoas que vão caminhando até o bairro do Satélite, cortando pela passagem Rio Xingu, que é estreita e também por onde passam muitos veículos. “Acho um absurdo fazer isso com a gente, com a população daqui”, disse. Sobre o container na parada de ônibus, o comerciante afirmou: “Ninguém respeita ninguém. Está um desespero aqui”. Na WE 12, próximo à passagem Rio Xingu, no Satélite, há uma parada de ônibus cercada de mato. Mato, aliás, que invade a calçada da via.
Semob
Na quarta-feira (01), por meio de nota, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) comunicou que, até o momento, na atual gestão, não autorizou a extinção ou supressão de linha ou de qualquer outro tipo de serviço de transporte coletivo por passageiros. "No caso das linhas Satélite/Felipe Patroni e Satélite/Ver-o-Peso, elas deixaram de operar no sistema desde a gestão passada. Os moradores contam com a linha Satélite/UFPA, que faz integração com o Terminal São Brás.", frisou a nota.
"A Semob esclarece que a frota total (municipal + metropolitana) é de 1.650 veículos. São 156 linhas ao todo que operam no sistema, dessas, 96 são linhas municipais. A Semob mantém fiscalização junto às empresas que compõem o sistema de transporte coletivo por ônibus de Belém. Se for constatada falha na prestação do serviço, em descumprimento da Ordem de Serviço (O.S.), como redução de frota ou qualquer outra irregularidade, a empresa é multada. Em 2022, de janeiro a agosto, foram lavrados 1.407 autos de infração.", detalhou.
A autarquia reforçou que denúncias e reclamações relacionadas à qualidade do transporte coletivo, como nos casos citados na reportagem e se tratando de empresa municipal ou de linha metropolitana, somente que esteja circulando em Belém, sejam formalizadas junto à Ouvidoria pelos canais de atendimento do órgão, pelo site da Semob (https://semob.belem.pa.gov.br), e-mail (ouvidoria.semob@cinbesa.com.br) ou Whatsapp (91) 98415-4587.
"É importante o usuário identificar a linha, a empresa, o horário, o código alfanumérico (número que fica na lateral e na traseira do veículo) e descrever a situação ocorrida, para que o órgão possa identificar a empresa e operadores, averiguar a denúncia e tomar as providências cabíveis. Com relação ao processo de licitação, o edital foi republicado e a abertura das propostas será realizada no dia 7 de fevereiro de 2023.", acrescentou a nota da Semob.
A reportagem também procurou o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Belém (Setransbel) para explicar o processo histórico que explica a redução de frotas em Belém. Até o fechamento desta edição, não houve retorno de uma nota oficial.
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