Malhação de Judas 2025: preparativos começam na Cremação com Donald Trump entre os temas

No bairro da Cremação, em Belém, a tradição da Malhação de Judas segue viva pelo 66º ano na rua Engenheiro Fernando Guilhon. Os preparativos dos seis bonecos já começaram e, neste ano, o tema promete refletir sobre guerras pelo mundo, taxações e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A programação inicia na Sexta-feira Santa (18), com o velório dos bonecos, e segue até o sábado (19), no tradicional Sábado de Aleluia. Inspirada em costumes católicos e ortodoxos, a celebração simboliza a morte de Judas Iscariotes e ganha novos significados a cada edição.

O evento consiste em espancar e queimar um boneco do tamanho de uma pessoa, geralmente recheado com serragem, trapos ou jornal, pelas ruas do bairro. Com o tempo, a figura do Judas passou a representar não apenas o traidor bíblico, mas também personagens que despertam a indignação popular. Assim, o boneco se tornou um símbolo de crítica social, política e cultural.

Programação

Assim como nos anos anteriores, a programação será durante a Semana Santa e começa na sexta-feira (18), com o tradicional “velório do Judas”, das 19h à 1h da manhã. Os bonecos são expostos no meio da rua, revelando o tema do ano, enquanto o público aproveita apresentações musicais e shows de bandas em um palco montado para o evento.

Confecção do boneco do "Judas" no bairro da Cremação, em Belém (Foto: Cláudio Pinheiro | O Liberal)

A festa segue no sábado (19), com a “malhação do Judas” realizada pela manhã, das 8h às 11h30. Além das atrações culturais, o espaço é aberto para ambulantes e representantes de quadrilhas juninas, que aproveitam o evento para vender comidas e arrecadar fundos.

O diferencial deste ano é a liberação, pela Prefeitura de Belém, de um espaço específico para os carros automotivos que integram as brincadeiras da festividade.

Com tema ainda em segredo, produção dos bonecos já está em andamento

De acordo com José Ricardo Nascimento, coordenador das associações Cheiro Cheiroso e AJOC, a confecção dos bonecos teve início na noite da última quinta-feira (10), com previsão de conclusão até a próxima quarta-feira (16). O preparativo começa com a escolha de um tema, discutido em várias reuniões antes de partir para a montagem dos seis bonecos. Cada figura recebe uma plaquinha com um “veredito”, simbolizando o alvo da crítica daquele ano.

Moradores da Cremação mantêm tradição da malhação de Judas (Foto: Cláudio Pinheiro | O Liberal)

Apesar do mistério em torno do tema deste ano, José Ricardo revela que terá relação com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Pela situação toda que ele tá criando no mundo, com esse negócio de taxar todo mundo, ele com certeza vai ser malhado aqui na Malhação de Judas da Cremação”, reflete.

A encenação irá incluir uma grande fogueira simbólica — feita com papel, luzes e elementos cenográficos — que representa os responsáveis pelos conflitos e guerras espalhadas pelo mundo.

O coordenador destaca que todo o trabalho de confecção é feito por voluntários da própria comunidade. A produção é financiada com pequenas doações de amigos e apoiadores — empresários da região que contribuem com o que podem — além do apoio logístico da Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SEMCULT), que colabora com estrutura, como banheiros químicos e cercas metálicas para o evento.

Os bonecos são feitos com materiais reciclados, em um processo artesanal que envolve criatividade e colaboração. O grupo reutiliza TNT, papelão, garrafas PET, goma, papel reciclado e miriti.

Tradição e solidariedade

Além da programação cultural, o evento também tem um lado social voltado especialmente para as crianças da comunidade. Durante a festa, são realizadas brincadeiras com distribuição de bombons e lembranças de Páscoa.

José Ricardo acredita que esta edição será uma das mais marcantes dos últimos anos. A intenção é garantir que nenhuma criança fique sem um momento especial nesse período. "Então, se alguma daquelas crianças não ganhar nada, nenhum ovo de Páscoa, ela já ganhou um presente aqui para comer no domingo”, diz o coordenador.

Com forte ligação afetiva com o evento, ele relembra que cresceu participando da festa e hoje atua ativamente na organização. “Eu nasci e me criei aqui no meio dessa brincadeira. Antes eu brincava. Depois foi criada a associação, a AJOC, e eu entrei com a minha associação para fortalecer”, compartilha.

Atualmente, José Ricardo se apresenta no palco, interage com o público e ajuda a manter viva a tradição. “Hoje em dia eu faço apresentação no palco, faço brincadeira com o pessoal e tudo. Eu não saio para lugar nenhum nesses dois dias, porque, para mim, esse momento cultural aqui do bairro da Cremação é tradicional, já faz parte da minha vida", conclui.