CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Jovem que morou 12 anos nas ruas comemora contratação no primeiro emprego

'Já abracei essa oportunidade e não vou mais largar, estou muito feliz', comemora Dionísia Rodrigues, de 37 anos

Laís Santana / O Liberal
fonte

Dionísia Rodrigues dos Santos, de 37 anos, comemorou o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, celebrado na última quinta-feira (19), assinando seu primeiro contrato de emprego, depois de sete meses morando em um abrigo para pessoas em situação de rua, localizado em Belém. A jovem que morou durante doze anos nas ruas da capital paraense conta que não foi fácil se adaptar a nova vida, mas valeu a pena todo o esforço para ter dignidade e novas oportunidades. 

“No começo a gente sente bastante a diferença, para quem está acostumado a viver na rua não é fácil, mas fico muito agradecida por não terem desistido de mim. Agora eu já abracei essa oportunidade e não vou mais largar, estou muito feliz”, afirma a jovem. 

Ela conta que foi morar na rua depois que a mãe saiu de casa devido a um surto psicótico e acabou também parando nas ruas. Ao ser acolhida no abrigo onde mora, ela recebeu apoio e pode resgatar a mãe. Hoje, a mãe de Dionísia, Raimunda do Socorro dos Santos, também mora em um abrigo mantido pela prefeitura municipal.  “Eu estou muito contente e alegre pelo emprego da minha filha. Agora eu rezo para que dê tudo certo e a gente possa morar juntas logo”, comemora Raimunda. 

“Daqui para frente mais coisas vão fluir, quero resgatar minha família e voltar a vida estável que eu tinha antes. Tendo o apoio que eu tô tendo não tem como voltar atrás”, declara confiante Dionísia. 

A data que para Dionísia representa um novo começo, também dá voz a milhares de pessoas que ainda vivem nas ruas. Estimativas do governo federal apontam que atualmente cerca de 220 mil pessoas vivem nesta situação.

image Ação da Prefeitura de Belém promoveu serviços para as pessoas em situação de rua (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

No 19 de agosto, muitas ações são promovidas em todo país para lembrar a luta dessas pessoas, marcada pelo "Massacre da Sé" de 2004, quando 7 pessoas foram mortas em São Paulo. O episódio foi um marco e deu início a implementação de ações governamentais de proteção à população de rua.

Em alusão a data, a Fundação Papa João XXIII (Funpapa) promoveu na praça Waldemar Henrique, uma ação de atendimento em diferentes áreas para moradores de rua. 

Durante a ação, foram distribuídos materiais de higiene pessoal e preservativos, houve também a aplicação de doses da vacina contra Covid-19, teste rápido de infecção sexualmente transmissível, rodas de conversas sobre a temática da dependência química e uso abusivo de drogas e DSTs, consultas realizadas pela equipe do Consultório na Rua (CnaR), além de orientações sobre educação ambiental, atividades lúdicas, informativas e esportivas. A programação ainda contou com a apresentação da Banda da Guarda Municipal. 

Jorge da Silva, de 71 anos, foi um dos moradores de rua atendido na ocasião. Ele que mora nas ruas há mais de 20 anos por conta de problemas familiares, revela que seu maior sonho era ter um lugar para morar. 

image Jorge da Silva, de 71 anos, foi parar nas ruas há 20 anos, após problemas familiares (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

“Eu sai de casa depois que meu pai, minha mãe e minha irmã mais velha morreram. Meus irmãos pensavam que eu ia vender a casa, sempre foi uma briga danada, por isso que eu não vou mais lá. Eu tava pagando um quartinho que dava pra dormir, mas como cortaram o benefício que eu tava recebendo, tive que voltar pra rua”, conta. 

Para Jorge da Silva a maior dificuldade de morar na rua é ter um lugar para dormir. “A gente fica por aqui, toma banho ali na escadinha, quando precisa ir ao banheiro dá um jeito e pede pra usar de algum lugar, é uma vida muito sacrificante. Às vezes eu arranjo algo pra vender ou então eu peço para as pessoas, e assim vou sobrevivendo”, revela. 

As ruas também são a casa de Ronaldo Monteiro, mais conhecido pelo apelido de Abaeté. Natural do município de Abaetetuba, ele busca há três anos uma forma de levar a vida. “Depois que a minha mãe encontrou um companheiro que não ia com a minha cara, eu escolhi vir embora e tenho vivido na rua. Minha família nem sabe por onde eu estou, acho que eles pensam que eu morri. Mas eu não quero viver na rua pra sempre, sou músico, era guitarrista em uma banda da minha cidade. Eu quero sair dessa e mudar de vida”, afirma o jovem. 

image Ronaldo Monteiro, mais conhecido pelo apelido de Abaeté (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

Pela experiência que tem, Ronaldo acredita que as pessoas em situação de rua recebem pouco apoio do poder público e de outras pessoas. "Ninguém vive na rua porque quer. Você acha que alguém vai escolher ser humilhado, escorraçado, de graça? Claro que não. É raro alguém parar pra perguntar sobre a nossa história, mas todo mundo que vive nas ruas tem uma história. Ações como essa são muito boas, só falta acontecerem mais vezes porque nós precisamos desse apoio", ressalta.  

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Belém
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM BELÉM

MAIS LIDAS EM BELÉM