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Dia do Professor: educadoras ensinam a como ler o mundo

A partir do incentivo à leitura e às artes, elas mostram caminhos para crianças e jovens para superar desafios e intervir na sociedade

Eduardo Rocha

Tudo na vida se aprende, e para isso existe um profissional com a missão de ensinar e aprender ao mesmo tempo, em qualquer lugar, a toda  hora. Esse profissional é o professor, com a arte de ensinar e aprender a ler o mundo.  Assim atuam literalmente, em Belém, as professoras Cristiane Caetano e Lilia Melo. Premiadas, elas mantêm projetos educacionais a partir da prática  da leitura e da interação entre educação e cultura, como pode ser conferido não apenas neste domingo (15), Dia do Professor, mas em todos os dias. 

A professora Cristiane Caetano, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dom Pedro II, no bairro do Marco, em Belém, atua como docente desde 2000, e está nessa escola desde 2014. Ela leciona Língua Portuguesa, Inglês e Literatura. “Ser professor é um aprendizado diário, todos os dias nós mais aprendemos do que ensinamos. Os alunos são, assim, uma fonte inesgotável de conhecimento, cada um traz uma experiência,  e não existe aluno igual e eu tenho de alcançar esse aluno,  e os meios mais tradicionais e tecnologia me ajudam nesse processo”, diz a educadora.

image Cristiane Caetano: ler o mundo (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Cristiane conta que  a convivência com os alunos lhe proporcionou aprender que “não tem obstáculo que a gente não possa superar”. Ela exemplifica essa declaração, relatando que uma aluna, Yasmin Laís, cega,  queria escrever um livro, como os outros colegas do projeto de leitura da escola. Contra todos que diziam que a jovem não iria conseguir, a professora e a aluna concretizaram a meta, em 2023, via reglete (equipamento para pessoas escreverem), com a estudante escrevendo e repassando a história para a professora. Uma colega com autismo Nicole Leão ilustrou  o livro. Para Cristiane, além da estrutura disponível, o trabalho do professor vai muito da vontade dele para ser bem desenvolvido. “Você tem que ter por primeiro o amor, amar o que faz”, completa,

Ela não se esquece que chegou de Lucas, um aluno muito sapeca, arredio aos estudos, mas que por insistência de Cristiane acabou virando  o jogo e se tornando um policial, como a própria educadora percebeu quando ele se apresentou a ela na escola. “Nunca se deve desistir de nenhum aluno, mostrar a ele que você quer o bem dele, acolher esse aluno”, pontua Cristiane. A relação de confiança entre estudante e professor é fundamental, e o docente, como frisa Cristiane, não deve nunca desanimar diante das dificuldades.

image Sala de aula é espaço para construção de conhecimentos por estudantes e professores (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Histórias vencedoras

Ao constatar em uma outra escola pública, em Belém, em 2017, que os estudantes do 6º do Fundamental ao 3º do Ensino Médio não sabiam ler e ficavam sem aprender os conteúdos nas aulas. a professora Cristiane começou a contar uma história para eles, no final das aulas, e, depois, ela inverteu a proposta, para que eles contassem a história, a partir da leitura de livros. E isso virou um hábito, depois, uma premiação do aluno que mais ler livros no ano.  E isso ocorreu. Em 2019, uma aluna, Ana Carla, leu 40 livros em um ano.  Era o projeto “Ler para crescer”. 

Esse incentivo à leitura, Cristiane levou para os alunos da Escola Dom Pedro II, por meio do projeto Leitura em Movimento, em 2022, em que o aluno lê um livro à escolha  e conta a história para ela, com o livro na mão. Os alunos  querem bater o recorde de 2019, ler mais de 40 livros no ano cada um. São 30 alunos leitores.

Outra ação, em 2022, é o projeto Estrelas Literárias. A criança  ou adolescente têm que criar uma história original e ilustrá-la.  Em 2022, foram 34 escritores, e, em 2023, subiu para 70. Em 2022, eram três alunos com deficiência, e, em 2023, subiu para 11 com deficiência. No ano passado, foram lançados 34 livros impressos, sendo que para cada livro físico tem uma edição digital  e um game. O material é acessado por meio da plataforma Estante Mágica. 

image Alegria de estudantes e professores em aprender e ensinar todos os dias (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

“Para uma criança ou adolescente gostar de ler, temos que apresentar a leitura como algo prazeiroso, bonito, divertido,  porque eles acham que abrir um livro é a coisa mais difícil que tem. Uma aluna me perguntou: ‘Tia, como a senhora faz para ler?’ E eu disse que era algo muito complicado. Primeiro, eu tenho que sentar, pegar um livro e abrir a página! Ela levou um susto, eu o desafiei a fazer. E ele pegou um livro, leu, gostou e levou o livro para terminar de ler”, conta Cristiane Caetano. 

Premiação

Em 2022, esse projeto concorreu ao prêmio nacional Educador Mágico, da Estante Mágica, e ficou em segundo  lugar na categoria Ensino Fundamental - Histórias Encantadoras e em terceiro na categoria Ensino Médio - Família Orgulhosa) no Brasil. No caso, Cristiane Caetano recebeu o certificado nacional como Educadora Mágica nessas duas categorias. 

  Paulo Henrique Soares Corrêa  tem 13 anos e pretende cursar Geofísica. Ele é um dos autores de livros da Escola Dom Pedro II, em 2022. O título é “Tamanduá Bandeira’. “Eu me senti gratificado com livro, porque  é um sonho que eu tenho mesmo antes de entrar para essa escola, sempre me imaginei dando autógrafo do meu próprio livro. Escrever serve para ter uma experiência nova, e ler é importante para se inteirar do mundo e aprender algo, sem ler ninguém progride”, ressalta.

Na comunidade

Para se tornar uma educadora, há 25 anos, a professora Lilia Melo teve várias experiências, mas, como ela própria conta, “o que determinou essa profissão foi o contexto da minha mãe me levar, ainda com 10 ou 11 anos,  para o ambiente da Universidade Federal do Pará, quando ela cursou Letras e eu me deparei com várias disciplinas, dentre elas a Literatura Portuguesa”. Hoje, ela atua em ambientes formais e não formais de aprendizagem. 

image Lilia Melo: vozes e linguagens da periferia de Belém para o mundo (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Nos formais, é professora de Educação de Jovens e Adultos na Escola Estadual Augusto Olímpio, e nos não formais, é lotada no Programa Territórios pela Paz, do Governo do Estado, capilarizando as ações do Coletivo Cine Club TF (bairro Terra Firme); coordena o Projeto Que nem maré, da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) em quatro  Usinas da Paz e, nos espaços informais, em  diferentes periferias dentro e fora do Pará. 

Ela ministra aula de Língua Portuguesa e Redação no Programa Pré-Enem, da Seduc na Usina da Terra Firme, Jurunas e Guamá, e coordena o Núcleo Belém Conectando Saberes, uma rede nacional de professores com práticas inovadoras de educação. Lilia Melo pontua que é professora de Produção Textual e de Pretoguês, que, como salienta, no aspecto formal, se diz Redação e Língua Portuguesa. 

Ela entende que “a Língua é um instrumento de comunicação e que as expressões são várias, não apenas na vertente escrita, mas oral, expressiva, enfim, tudo o que é intrinsecamente ligado com os nossos territórios e os nossos saberes ancestrais”. “E sou professora de Pretoguês, porque defendo, principalmente, o reconhecimento e valorização das línguas e linguagens utilizadas no dia a dia, o que nem sempre é o aspecto formal da Língua atrelada à gramática normativa. Porém, quando necessário, e quase sempre é, eu ministro aula de Português, de Redação e de Literatura, também”.

Ações sociais

O Cine-Clube TF é um coletivo proveniente do  projeto “Juventude Preta, Periférica - do Extermínio ao Protagonismo”. Esse projeto recebeu uma premiação nacional do Ministério da Educação em 2018. Lilia Melo foi premiada pelo MEC, em 2018, como melhor professora do Brasil. O Coletivo foi nomeado e indicado ao Nobel da Educação, em 2020. Ela obteve reconhecimento como uma das 50 melhores educadoras do mundo pelo Global Teacher Prize 2020, considerado o Prêmio Nobel da Educação, da Fundação Varkey,

O Projeto “Papo Cast: Histórias Contadas”, produto do Coletivo, foi vencedor em 2022 do Prêmio FCP de Incentivo à Arte e à Cultura, da Fundação Cultura do Pará, e também nesse mesmo ano toda essa história se torna livro em uma edição argentina, de um livro intitulado “Os Docentes que transformam a América Latina”. 

image União para criar conhecimento transformador da realidade, como o Cine Cube TF (Ivan Duarte / O Liberal)

Ao destacar que a educação é um instrumento imbatível de transformação social, quando atrelada à cultura,  a professora Lilia Melo pondera que “há uma necessidade de reescrever a história oficial que infelizmente é uma história verticalizada, contada de cima para baixo e que criminaliza a verdadeira história, a da diversidade, das construções híbridas e principalmente dos povos originários e os saberes ancestrais”.

Essa educadora se preocupa com pessoas, com sujeitos que têm a sua história, sua identidade, sua vivência contra todo uma estrutura existente para criminalizar e exterminar essa história. A maior parte da população brasileira vive e sofre, na periferia,  discriminação, exclusão, criminalização e vulnerabilização de seus territórios. “Então, eu como uma professora de Língua Portuguesa, como uma educadora tenho de me posicionar numa educação anti racista, que valoriza a identidade dos territórios e numa educação que garanta a sociodiversidade dos ambientes e respeite as diferentes formas de aprender e ensinar e atue dentro dos múltiplos espaços de ensino aprendizagem. Não é somente nas escola que se aprende, a todo instante nós estamos aprendendo e ensinando, viver é um grande aprendizado”, completa. 




















 

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