COP 30 em Belém: povos indígenas querem ter voz para apresentar demandas

A intenção das lideranças é denunciar o racismo ambiental de que são vítimas cidadãos de várias etnias e buscar caminhos para a cidadania

Eduardo Rocha
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A possível realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas na capital paraense em 2025 representa uma oportunidade ímpar para os povos da Amazônia. E a pauta com os temas que poderão finalmente ser colocados em debate já está pronta há décadas. Entre eles estão as situações de racismo ambiental de que são alvo diversas etnias e a falta de políticas que garantam a valorização da identidade indígena. A expectativa por esse momento foi externada pela jornalista Nice Tupinambá, fundadora do Instituto Nossa Voz e conselheira indígena do Município de Belém, nesta quinta-feira (13).

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Ela participou do ciclo de debates e atrações culturais no evento "Belém Mairi - Conquistas e (re) existência dos povos indígenas", organizado pela Prefeitura de Belém, no Centur. Nice destacou que "nós estamos diante de um grande debate mundial, que são as mudanças climáticas, e sabemos que nós da Amazônia temos um papel fundamental nesse processo; Amazônia esse grande bioma que o mundo todo pauta, que o mundo todo está falando, nós precisamos ser ouvidos". 

"Não tem como frear as mudanças climáticas sem antes ouvir o povo da Amazônia. Queremos a floresta em pé, mas, antes disso queremos o nosso povo em pé, porque nosso povo precisa de emprego, de renda. E mesmo vivendo na unidade mais rica e diversa do mundo, que é a Amazônia, nós temos gente passando fome, sofrendo as consequências das mudanças climáticas; como no caso das chuvas que têm alagado Belém, por exemplo, atingindo casas de pessoas pobres, na maioria indígenas e negros que vivem na periferia da nossa cidade", pontuou, ao destacar o que chama de racismo ambiental.

Nice Tupinambá lembrou que a COP 30 será um momento único para o debate dos novos rumos que esse cenário pode ganhar, a partir da apresentação de projetos. "Nós temos ideias de como preservar a Amazônia e também gerar emprego e renda para o povo, só que, para isso, precisamos ser ouvidos. Não adianta os europeus virem com grandes projetos lá de fora para implementar aqui e não ouvir as comunidades tradicionais da região", argumentou.

Identidade

Outro tema debatido no evento do Centur foi a identidade indígena. O secretário de Direitos Humanos do Município de Belém, Maike Kumaruara, destacou que a história da formação do que hoje é a região metropolitana é uma história indígena. "No decorrer da colonização, com o aldeamento e o processo de educação das crianças que negava a ancestralidade, foram apagando a nossa identidade. Tentaram nos invisibilizar como estratégia de sobrevivência. Meus avós, por exemplo, chegaram a dizer em várias situações que não eram mais índios, que eram caboclos, como forma de sobrevivência mesmo". 

Foi com a Constituição de 1988, que garante direitos territoriais, que o movimento de retomada, chamado de etnogênese, começou a se fortalecer e as pessoas passaram a refletir sobre a ancestralidade indígena. "Só quando percebemos as práticas dos nossos antepassados presentes em nosso cotidiano é que começamos a nos identificar como indígenas", completou.

Essa posição é corroborada pela antropóloga e doutoranda da Universidade Federal do Pará, Luana Kumaruara. Para ela, a identidade indigena não é respeitada no Brasil porque existe discriminação notória dos cidadãos. "Em geral, são tratados como indígenas somente aqueles que estão aldeados, mas, a partir do momento em que a gente sai do nosso território, há uma grande resistência tanto em se afirmar como tal diante da sociedade como da sociedade, como em ser acolhido, recebido". Com a invasão das Terras Indígenas, muitos deles vão para as cidades e lá não têm a mesma assistência de que dispõem no território. "Quando a gente vem para a cidade, fica sem assisência nenhuma. Somos duplamente desrespeitados", enfatizou Luana. 

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