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Caso Yasmin: família desabafa sobre luto permanente próximo ao dia em que jovem completaria 25 anos

Psicóloga diz que é possível acolher a dor e seguir em frente

Camila Guimarães
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Se estivesse viva, nesta segunda-feira, 10, a influenciadora e estudante de medicina veterinária Yasmin Fontes Cavaleiro de Macêdo completaria 25 anos de idade, porém, há três anos, a data virou uma lembrança dolorosa para os pais dela, Eliene Fontes e Ricardo Macêdo. Yasmin foi encontrada morta no dia 12 de dezembro de 2021, um dia após desaparecer da lancha em que passeava, junto com outras 19 pessoas, pelo rio Maguari, em Belém. O principal acusado de ter responsabilidade na morte é Lucas Magalhães de Souza, o dono da lancha, que responde ao processo em liberdade.

Passar por datas como o aniversário da jovem, tendo em vista sua perda brusca e precoce, é um momento de muita dor - descreve Eliene Fontes - dor que se repete em várias datas simbólicas, como Natal, Ano Novo, Dias das Mães e, até mesmo, a data da morte, 12 de dezembro:

"A ficha parece que não cai nunca. O aniversário da Yasmin é muito próximo do meu. Ela é dia 10 e eu dia 14. Eu nunca mais vivi meu aniversário depois que ela nasceu, porque eu só comemorava o dela. Agora que ela morreu, não comemoro mais nada, nem o meu nem o dela", conta a mãe da jovem.

image Eliene Fontes, mãe da influenciadora digital Yasmin Fontes Cavaleiro de Macêdo. (Cristino Martins/ O Liberal)

Para Ricardo Macêdo, o vazio também é profundo e não pode ser preenchido: "Eu falo que queria ser ao menos 70% do que eu era antes. Eu estava construindo um quarto pra ela que ela nem chegou conhecer e, até hoje, chamo de quarto da Yasmin. Às vezes você pode estar até sorrindo com seus familiares, mas, de repente você para e pensa 'e se ela tivesse aqui?', aí volta uma tristeza enorme. Você jamais consegue ser a mesma pessoa. É muito difícil viver sem ela.", descreve o pai.

Ricardo conta momentos de tristeza extrema pelos quais já passou: "Eu passei um mês num quarto na casa da minha mãe, só bebendo e fumando. Num dia, vendo minha irmã e meu sobrinho rindo, tive uma crise de raiva e foi nessa hora que eu e meus familiares resolvemos procurar um apoio de psicóloga e, até hoje, ainda procuro, principalmente quando chega nessas datas festivas, que pra nossa família não tem mais nada pra comemorar. Meu Natal e Ano Novo já tô na cama umas 8 horas da noite, pedindo pra Deus pra dormir e acordar somente quando tiver passado essas datas".

Eliene também faz acompanhamento psicológico e psiquiátrico. "Eu faço tratamento desde que a Yasmin faleceu:psiquiatra, psicólogo, terapeuta... Tomo remédio para depressão, ansiedade, para dormir... Nunca mais fui a mesma pessoa".

Perdas trágicas e luto

Para a psicóloga Rafaela Guedes, esse tipo de perda de um ente querido, quando envolve contextos trágicos, gera impactos diferentes de um luto por uma perda mais 'natural'. Ela explica que a sensação de culpa pode ser um produto do luto difícil de lidar:

"Aquele que ama se sente impelido a proteger o seu amor pode se sentir culpado diante da impotência de fazer algo para preservar a vida do outro. Já no caso de morte natural, as pessoas fazem tudo que elas têm possibilidade para salvaguardar a vida de quem elas amam. A gente não tem aí o fator culpa diante da perda deste ente", explica.

Além disso, perdas traumáticas podem desencadear o que, na psicologia, é chamado de compulsão à repetição: "quando você vivencia um tipo de situação traumática, que você não consegue simbolizar, dar sentido, de forma inconsciente nós voltamos para esse lugar, vamos atrás de situações semelhantes, revivendo a dor todas as vezes, em busca de solução, fechamento, elaboração para aquela situação dolorosa", interpreta a psicóloga.

A sensação de ter morrido quando se perde um ente querido é mais que uma mera impressão, pode ser um anseio até inconsciente de querer morrer junto, explica Rafaela Guedes, que diz que, nesses casos, é imprescindível a busca por apoio psicológico: "Se você não consegue sair da cama, parar de pensar no acontecimento e fica se colocando em situação semelhante, lida de forma muito dolorosa com aquela perda, não consegue seguir, não consegue dormir, não consegue trabalhar, continuar vivendo e tudo isso permanecer dessa maneiras ao longo do tempo, que a pessoa procure ajuda de um psicólogo".

A especialista aponta que é possível conviver com a dor, mesmo passando por datas sensíveis, e buscar uma qualidade de vida após uma perda traumática: "A pessoa precisa tomar consciência de que todo o amor foi dado, todo o carinho, todo o investimento foi feito, todo o amparo, as boas lembranças que ficam e aliar à fé de cada pessoa - como cada um lida com a finitude da vida, para ajudar a seguir em frente e à diante. Nessas datas, é sempre importante acolher o sentimento e, depois, seguir em frente", orienta.

A busca por justiça

Eliene Fontes conta que a busca por responsabilização pela morte de Yasmin virou uma espécie de missão, o propósito que ela persegue todos os dias, na esperança de fazer justiça por sua filha:

"A gente só tem a opção de buscar por justiça, de não desistir, não acreditar que vai dar em nada, procurar muito Deus, se segurar muito Nele, acreditar que Deus vai ser justo, se segurar nisso e saber que, lá de cima, ela [Yasmin] está tendo orgulho do que nós estamos fazendo por ela. É isso que me mantém em pé", descreve a genitora ao explicar sua expectativa sobre os processos que move contra o principal acusado de ter responsabilidade pela morte de Yasmin: Lucas Magalhães de Souza.

No âmbito criminal, Lucas Magalhães responde por quatro crimes: (1) homicídio por dolo eventual, por ter assumido o risco de morte ao navegar com a embarcação acima da capacidade de passageiros, não possuir equipamento adequado de salvatagem, e pilotar sem habilitação; (2) fraude processual, por ter feito alterações na lancha onde ocorreu o evento em apuração, criando obstáculos à reprodução simulada dos fatos; (3) disparo de arma de fogo, que ele teria efetuado durante o passeio, no dia 11 de dezembro; e (4) posse ilegal da arma de fogo com a qual atirou.

image Lucas Magalhães tem recurso negado pelo Tribunal de Justiça do Pará. (Yasmin Macêdo e Lucas Magalhães. (Reprodução/ Redes sociais))

Lucas chegou a ser preso em novembro de 2022, na Cadeia Pública de Jovens e Adultos (CPJA), localizada no Complexo Prisional de Santa Izabel do Pará, mas foi solto em março de 2023 e, desde então, responde ao processo em liberdade condicional.

O caso também já passou por uma reprodução simulada - uma das maiores já realizadas no Pará, conforme descreveu, à época, o delegado geral da Polícia Civil do Pará (PCPA), Walter Resende. A reprodução foi feita em duas etapas, uma em abril e outra em junho de 2022, e contou com a participação de 200 pessoas entre agentes de segurança pública, Marinha do Brasil, tripulantes de embarcações, policiais, peritos e voluntários figurantes.

Em janeiro de 2023, após uma audiência de instrução na 2ª Vara do Tribunal do Júri, no bairro da Cidade Velha, em Belém, o júri decidiu que Lucas Magalhães iria a júri popular, porém, sua defesa entrou com recurso.

Na última sexta-feira, 7, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA) negou o seguimento do recurso a Lucas Magalhães, restando ao acusado apenas a possibilidade de novas tentativas nos tribunais superiores. A decisão foi proferida pelo desembargador Luiz Gonzaga da Costa Neto, vice-presidente do TJPA. A defesa de Lucas Magalhães, feita pelo advogado Francelino Neto, ainda pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Em depoimento à reportagem, a defesa de Lucas Magalhães afirmou que ainda analisará a decisão. “Vamos analisar a decisão com cuidado e daí tomaremos uma decisão. Mas há recurso para questionar essa decisão”, informou o advogado Francelino Neto.

Já o advogado de acusação, Madson Nogueira, comemora a última decisão do TJPA: “Vejo como o fechamento do cerco em face das estratégias protelatórias do Lucas Magalhães. O dia da prestação de contas dos atos dele está chegando”, afirmou.

Indenização milionária

Já na esfera cível, a família de Yasmin também move um processo contra Lucas Magalhães e a Gran Marine Club, local de onde saiu a embarcação no dia em que a moça desapareceu. A família pede indenização por danos morais e materiais no valor de R$ 2 milhões.

"Nós pedimos a condenação dele pelos danos morais, não só como medida de justiça, para dar uma resposta pra essa família e sociedade também, mas também que a Justiça do Pará possa dar uma resposta de efeito pedagógico, porque aconteceu de novo no ano passado", comenta o advogado Madson Nogueira, fazendo referência a outro caso, que aconteceu em 17 de dezembro de 2024.

Foi o caso de Kellen Thaynara Nascimento de Abreu, de 26 anos, que foi encontrada morta depois de desaparecer durante um passeio de lancha no Combu, à semelhança do caso Yasmin. "Mudou o personagem, mas a história foi a mesma", diz Nogueira.

Ele também justifica a inclusão da Gran Marine Club no rol dos réus: "o lucas não tinha registro para pilotar a embarcação, saiu fora do horário permitido da marina, com superlotação, com muita bebida alcoólica, tudo com conivência do prestador de serviço".

Para o advogado de defesa de Lucas, Francelino Neto, o processo é, no mínimo, incoerente: "o Lucas não é nem condenado. Ninguém pode dizer se ele vai ser submetido a júri popular. Não tem uma sentença. Não seria coerente eles tomarem uma decisão pela indenização antes de ele ser julgado", defende.

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Belém
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