Cascalho: lanche tradicional de Belém tem sabor de nostalgia

Encontrar o produto não é mais tão fácil e nem há mais tantos vendedores batendo em triângulos, mas há pontos fixos na capital para comprar o doce

João Thiago Dias

Chegadinho, cavaco chinês, cavaquinho, biju ou taboca. Esses são apenas alguns nomes usados em outras cidades brasileiras para o tradicional cascalho, como é conhecido em Belém. Trata-se de um tipo de biscoito doce de massa crocante, em forma de canudo ou de cone. Seco e quebradiço, é comercializado por ambulantes, que anunciam a iguaria tocando triângulo pelas ruas. Atualmente, encontrar esses vendedores se tornou mais difícil. Entretanto, alguns se mantêm firmes em alguns pontos fixos. 

É o caso de Ribamar Pinto, de 53 anos, que vende cascalho há 12 anos no semáforo da esquina da travessa Nove de Janeiro com a avenida Governador José Malcher, no bairro de Nazaré, em Belém. Ele começou a comercializar o doce porque estava desempregado. Hoje, sustenta a família com a renda das vendas. 

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"Sou natural do Maranhão, da cidade de Cururupu. Vim para Belém há 28 anos. Quando estava sem emprego, fui tentar uma vaga de serviço com um cidadão que vendia cascalho. Comecei a trabalhar com ele. E foi ele que me ensinou a fazer. Depois, comprei uma chapa e fui vender por conta própria. No primeiro dia, perdi 80% do material porque não sabia direito como fazer. Mas depois aprendi", lembrou Ribamar.

Morador do bairro do Curuçambá, no município de Ananindeua, na Grande Belém, ele acorda bem cedo, por volta das 5h, para começar a preparar o doce. A receita varia de acordo com cada cidade. No caso de Ribamar, apenas quatro ingredientes são necessários. 

"Uso 2 quilos e meio de trigo, 1 quilo e meio de açúcar e uma quantidade variante de água. Bate tudo no liquidificador até ficar uma massa grossa. Põe na chapa de dois lados. E passa óleo para não grudar na chapa. E coloca no forno baixo por pouco mais de um minuto. Tem que ser rápido quando for tirar. Cortar em tiras bem finas e enrolar num cano de PVC. Antes de endurecer, tem que puxar logo para evitar quebrar. Cada fornada sai 5 cascalhos", contou.

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Por dia, Ribamar costuma gastar cerca de R$ 18 a R$ 19, somando os ingredientes e os saquinhos plásticos de 1kg, onde são armazenadas seis unidades. São 70 saquinhos para a venda diária. Cada um custa R$ 3. Dá para ganhar cerca de R$ 140 diariamente, nos dias em que a clientela está boa.

A opção de não sair da esquina da travessa Nove de Janeiro com a avenida Governador José Malcher vem de um acordo entre os cascalheiros. "Cada um fica num ponto, para ninguém queimar a venda do outro. Vendo nessa esquina desde sempre. Trabalho uns três dias por semana, das 9h às 16h ou até 18h, em alguns dias. Tenho familiares e amigos que também vendem. E as crianças são as que mais querem comprar", concluiu o ambulante.

image Seu Ribamar é um dos vendedores que ainda pode ser encontrado nas ruas do centro de Belém vendendo cascalho (Cristino Martins / O Liberal)

Cascalho: um lanche nostálgico em Belém

O administrador do canal no YouTube "Nostalgia Belém", Robson Santos, que produz vídeos sobre temas que deixam saudade na capital, avaliou que a venda de cascalho é uma tradição que ficou menos frequente na cidade. "Mas é, de fato, uma tradição. Começa ali na periferia, como a pipoca de arroz, por exemplo. Uma tradição que vai diminuindo. Acabar é muito difícil falar, mas está cada vez mais difícil de achar da maneira tradicional".

O som do triângulo de metal é elemento fundamental numa particular combinação de astúcias táticas, a partir das quais esses vendedores não apenas asseguram sua subsistência como se inscrevem na memória afetiva dos habitantes. 

"É uma ligação muito da infância com essa cultura. Igual o carro da pipoca, onde o vendedor buzinava e as pessoas iam para frente de casa. Todo esse movimento começa dentro da periferia. Depois, vai para a parte central. Até hoje, a gente fala sobre isso e as pessoas lembram com detalhes. É muito nostálgico esse movimento com o triângulo. Não só a venda [cascalho], mas o conceito todo por trás", disse Robson.

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