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Biografia de Suzane Richtofen será lançada em Belém na próxima semana

O livro, escrito pelo paraense Ullisses Campbell, está na lista dos livros mais vendidos (não-ficção) da revista Veja, Folha de São Paulo e na Publishnews

João Thiago Dias
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No dia 30 de outubro de 2002, começava a ser executado um dos crimes mais chocantes e midiáticos do Brasil. Manfred e Marísia von Richtofen foram barbaramente espancados até a morte na mansão deles, no bairro do Morumbi, zona nobre de São Paulo, com dezenas de pauladas. Uma semana depois, o caso estava desvendado com um desfecho ainda mais aterrador: o assassinato fora arquitetado pela filha mais velha deles, Suzane, então com apenas 19 anos, e executado pelo namorado dela e pelo irmão dele, Daniel e Cristian Cravinhos. 

A jovem recebeu dois vereditos: o primeiro saiu do Tribunal do Júri em 2006, quando foi condenada a 39 anos de cadeia. A segunda sentença foi proferida pelo Tribunal do Crime, existente dentro das penitenciárias.

O antes, o durante e o depois desse crime são contados com riqueza de detalhes, muitos deles inéditos, no livro "Suzane - Assassina e Manipuladora", escrito pelo jornalista paraense Ulisses Campbell e publicado pela Matrix Editora. O livro esquadrinha o caminho de Suzane desde que foi presa pela primeira vez até o momento em que começou a sair da prisão nas saídas temporárias. Há cinco semanas, já figura na lista dos livros mais vendidos (não-ficção) da revista Veja, Folha de São Paulo e na Publishnews, as mais respeitadas do mercado editorial brasileiro.

Ullisses Campbell mergulhou nos emaranhados universos do Direito Penal e da Psicologia Forense. A obra mostra uma Suzane que deseja se casar no religioso, virar pastora evangélica e que nutre um sonho de ser mãe. Ele entrevistou 56 presas que cumpriram pena com ela e 16 agentes penitenciários lotados nas cadeias por onde ela passou. Cristian Cravinhos foi entrevistado oito vezes. Campbell diz que esteve com Suzane três vezes e com Daniel, quatro. Os dois se recusaram a dar entrevistas formais. O autor diz que contou com eles, porém, para checagem de informações.

A obra será lançada em Belém na próxima quarta-feira (11), às 19h, no hall social do Grupo Liberal, localizado na avenida Romulo Maiorana, 2473, bairro do Marco. A noite de autógrafos com o autor tem apoio do Grupo Liberal e da Temple Comunicação. Na quinta-feira (12), às 17h, Campbell participará de uma bate-papo com amigos, jornalistas influenciadores digitais na sede da Temple Comunicação (Rua Benjamim Constant 1416). O evento será aberto ao público.

Biografia

Descrito como um livro reportagem sobre Suzane von Richthofen ou como uma biografia não autorizada, trata-se de uma obra escrita sob o estilo do jornalismo literário, ou seja, um livro de não-ficção feito em forma de romance policial. Tudo o que tem nele é real, baseando em depoimentos dados à Justiça, inquéritos policiais, entrevistas com os envolvidos e muita pesquisa.

image Suzane foi condenada a pena privativa de liberdade por ter assassinado os pais (Sebastião Moreira / AE)

"O livro levou três anos para ser pesquisado e um para ser escrito, totalizando quatro anos de trabalho. O maior desafio foi compor a passagem do crime, quando os irmãos Cravinhos executam os pais de Suzane a pauladas na noite do dia 30 de outubro de 2002. Essa é a parte mais forte do livro. A riqueza de detalhes dessa cena chocou os leitores e só foi possível escrever porque um dos assassinos, Cristian, contou como foi. Também tive ajuda dos peritos do IML que fizeram perícia no local do crime e depois acesso aos laudos feitos nos cadáveres. A minha maior surpresa foi como a Suzane lida com a cena do crime, mandando a empregada limpar o quarto dos pais como se nada tivesse acontecido", contou Campbell.

Vida de Suzane

Trabalhando como coordenadora da oficina de costura, Suzane ganha um salário mínimo. Segundo o livro, tem ainda 120 mil reais pagos pelo apresentador Gugu para dar-lhe uma entrevista e um apartamento de um milhão de reais, deixado pela avó paterna depois do crime. Dorme em um galpão com cerca de 100 beliches e cinco vezes por ano tem direito a saidinha de sete dias. Nelas, vai para a casa do companheiro, o marceneiro Rogério Olberg das Dores, em Angatuba, no interior paulista. "Há muitos 'furos' divulgados pelo livro, todos amplamente explorados pela mídia. O principal deles é o desejo da Suzane de ser pastora, a tentativa de reencontro dela com o irmão 14 anos após o crime e o relacionamento homoafetivo do Cristian dentro da cadeia", acrescentou o jornalista.

Como é uma biografia não-autorizada, Suzane não precisa dar autorização nem recebe qualquer centavo pelas vendas do livro, conforme resolução divulgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ela entrou na Justiça de São Paulo em novembro de 2019 e conseguiu manter o livro sob censura por 37 dias. No entanto, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, derrubou a decisão e o livro chegou às livrarias. Ao barrar a publicação, Suzane argumentou que o livro traz danos irreparáveis à imagem dela, alegando que o autor teria violado o sigilo judicial do seu processo de execução e que ela nunca foi ouvida para a obra.

"Eu e ela conversamos três vezes. Nessas conversas, falei que estava fazendo o livro e ela disse não ter pretensão de colaborar por ser contra a obra. Num segundo encontro, ela propôs fazer fotos para o livro, desde que eu não abordasse na obra aspectos religiosos da vida dela. Eu me neguei a fazer esse acordo e o livro saiu contando que ela entrou na cadeia luterana, pulou para o catolicismo ao ponto de rezar o terço, flertou com espiritismo e acabou tornando-se evangélica de fazer pregação. Hoje, ela estuda para ser pastora", detalhou o jornalista.

image Em regime semiaberto desde 2015, Suzane já cumpriu mais de 15 anos de prisão e tem direito a saídas temporárias (MARCELO GONCALVES / SIGMAPRESS / AE)

"O que mais me deixou chocado nessa proibição foi a censura prévia, pois o livro sequer estava público. Ou seja, a justiça proibiu algo que ainda não existia. Outro ponto que me chocou foi como a Suzane manipula a Defensoria Pública de São Paulo. Sem gastar um tostão, ela mobilizou uma banca de advogados pagos pelo governo para defender interesses pessoais", disse o autor.

Por que Suzane?

A ideia de escrever a biografia surgiu diante da curiosidade pelo universo prisional. "Desde que comecei a carreira de repórter, há 24 anos, sempre senti curiosidade pelo universo prisional. Quando tentei entrevistar a Suzane pela primeira vez, em 2016, ela se recusou. Para compor o universo que gira em torno dela, passei a conversar com as suas companheiras de cela. Foi a partir dessas entrevistas que nasceu a ideia de escrever o livro. Descobri que a vida na prisão é um mundo a parte".

Ullisses Campbell nasceu em Belém do Pará, em 1975. Atuou nos jornais A Província do Pará, O Liberal, Folha de São Paulo e Correio Braziliense. Na Editora Abril, passou pelas revistas Superinteressante, Veja-Brasília e Veja. Atualmente, escreve para a revista Época. Em 24 anos de profissão, atuou sempre como repórter. Ao longo da carreira, ganhou três prêmios Esso de Reportagem e um Embratel de Jornalismo. Em O Liberal, trabalhou por cinco anos (1997/2001). Em 2000, ganhou no jornal o prêmio Embratel de Jornalismo com a reportagem “Prostituição no maior shopping da cidade”, realizada em Belém.  

Perfil 

Os laudos feitos por psicólogos forenses descrevem Suzane como "egocêntrica, manipuladora, vazia, insidiosa, portadora de agressividade camuflada, infantilizada, narcisista e dissimulada". A combinação dessas características faz dela uma pessoa capaz de cometer outro crime, caso uma pressão social coloque em risco os seus interesses pessoais. "É bom deixar claro que isso não é uma ilação e sim resultados de laudos psicológicos anexados em seu processo de execução penal. Atualmente, esses laudos impedem que ela ganha a liberdade. 'Assassina' no título porque ela foi condenada por homicídio duplamente qualificado", contou Campbell.

"Antes de um assassino ganhar a liberdade, ele tem de provar para a Justiça que está arrependido de ter matado. Essa é uma condição básica. A Suzane, até hoje, não convence desse arrependimento. Ela diz da boca para fora que se arrependeu, mas, ao ser submetida ao teste de Rorschach, fica evidente que ela não sente remorso", completou. 

O livro mostra que a característica de sedutora de Suzane é evidenciada pela vivência dela dentro da cadeia. Ela seduziu um médico na Penitenciária Feminina Capital tão logo debutou no cárcere. Depois, seduziu a diretora da Penitenciária Feminina de Rio Claro para ter regalias. Em Ribeirão preto, ela seduziu um promotor de Justiça para conseguir uma transferência para Tremembé. Em Tremembé, seduziu Sandrão, a líder da cadeia em troca de proteção. Isso sem contar que, lá atrás, ela seduziu Daniel Cravinhos para matar os pais dela. 

Entre as frases mais marcantes e simbólicas da obra, o jornalista destaca: “Pais amorosos jamais morrem assassinados friamente pelos filhos”, dita pelo doutor em Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo Alvino Augusto de Sá no momento em que ele dava entrevista para o livro. Ele foi um dos maiores especialistas em mente criminosa do país e coordenou uma banca de especialistas que estudou a mente da Suzane, em 2013.  

Advogada criminalista também escreveu sobre Suzane

Na última sexta-feira (06), Ullisses Campbell participou de um bate-papo, ao vivo, em uma live no estúdio multimídia do Grupo Liberal, para comentar sobre a biografia de Suzane. A mediação foi feita pela jornalista Rita Soares, editora do site de Conexão AMZ. A live também contou com a presença da professora, advogada criminalista e autora do livro "Psicopata", Nachara Palmeira. A obra da advogada é sobre casos de crimes hediondos como o de Suzane Von Richthofen. 

"A Suzane e citada no meu livro, que é objeto da minha tese, como estudo de caso da Psicopatia. Ela abre o segundo capítulo da obra, intitulado 'A Garotinha Má'. Suzane possui todas as características de quem possui transtorno de personalidade antissocial, quais sejam: falta de empatia, manipulação, narcisismo, impulsividade e poder de sedução. É uma camaleoa social", explicou a advogada. 

image  Os laudos feitos por psicólogos forenses descrevem Suzane como egocêntrica, manipuladora, vazia, insidiosa, portadora de agressividade camuflada, infantilizada, narcisista e dissimulada (Reprodução TV Record)

Em regime semiaberto desde 2015, Suzane já cumpriu mais de 15 anos de prisão e tem direito a saídas temporárias na Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal/Ano Novo. No entanto, as chamadas "saidinhas" sempre causam repercussão intensa na mídia. Previsto nos artigos 122 a 125 da Lei de Execução Penal, nº 7.210/84, este é um benefício que pode ser concedido por juízes aos presos que, além de estarem sob o regime semiaberto, já cumpriram pelo menos um sexto da pena, ou um quarto, em caso de reincidentes, e atestarem bom comportamento no presídio.

"Indivíduos que cometem uma infração penal, juridicamente se estiverem no regime semi aberto e aberto, possuem direito à saída temporária. Instituto previsto na Lei de Execução Penal à saída temporária tem a finalidade da reinserção social. Ocorre que, atualmente, quem pratica crime hediondo não possui mais direito à saída temporária. O que sempre me perguntam em sala de aula é como uma parricida mata os pais e sai no dia das mães? A resposta é a letra da Lei. Em 2018, esta realidade mudou para quem pratica crime hediondo com resultado morte", esclareceu Nachara Palmeira. "Em que pese ser um caso altamente midiático pelo princípio da isonomia, todos devem ter mesmo tratamento jurídico. É regra constitucional".

Psicólogo forense explica os traços do perfil de Suzane

O psicólogo forense e criminólogo de Belém Altiere Ponciano explica que para o ato de matar os pais por si só não oferece elementos para traçar o perfil de Suzane. Para que isso ocorra é necessário submetê-la a um teste de personalidade que possa revelar sua estrutura, dinâmica e traços de personalidade. Há alguns anos, uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, teve acesso ao Teste de Rorschach de Suzane e revelou que ela era "narcisista, dissimulada, infantilizada e tinha comportamentos que visavam manipular as pessoas ao seu redor".

"Segundo as teorias de Cleckley e Hare, esses são alguns traços de pessoas com Transtorno de Personalidade Antissocial, popularmente conhecida como psicopata. Porém, qualquer diagnóstico fechado de Suzane só pode ser feito por profissional que a atendeu. Eu não posso realizar esse diagnóstico porque nunca a atendi e tudo que sei sobre ela são informações midiáticas, as quais são parciais. Qualquer profissional que não a atendeu e que ouse se aventurar em fechar diagnóstico está incorrendo em falta técnica e ética", explicou Altiere.

"O que podemos dizer, baseado nas teorias dos autores citados acima é: esses traços não são suficientes para se fechar um diagnóstico, pois segundo Cleckley, psicopatas possuem 16 traços de personalidades, e para Hare são 20 traços. Logo, os traços descritos, apresentados pela mídia, não são suficientes para fecharmos tal diagnóstico. Não é possível descrever os comportamentos de Suzane antes, a não ser por relatos de pessoas que conviviam com ela e nem depois, pois o futuro não nos pertence. O comportamento só pode ser descrito no aqui e agora a partir de observação empírica, ou seja, as pessoas para descrevê-la precisam ter convivido com ela nos últimos anos, ou seja, dentro da prisão", ressaltou.

"Se o diagnóstico estiver correto, outros elementos devem ser analisados para pensarmos na possibilidade de prognóstico de reincidência criminal de Suzane. O que sabemos de Suzane é que ela foi condenada a pena privativa de liberdade por ter assassinado os pais. Se vocês querem classificá-la de alguma forma, o termo mais adequado é que ela é uma homicida", garantiu.

Para a Psicologia a pessoa "não é, ela está", o que dá o caráter não fixo e cristalizado do ser humano, abrindo possibilidades para a mudança. Para Altiere, o correto e ético, sem sensacionalismo, é dizer que Suzane, no momento em que foi avaliada, apresentou-se com aqueles traços e dão indicativos que ela esteja sofrendo de um Transtorno de Personalidade do tipo Antissocial, segundo os testes que foram realizados naquele tempo. "É importante saber se tais traços ainda estão presentes e se houve alguma evolução a partir de uma análise multi, inter e transdisciplinar dos critérios objetivos e subjetivos", indicou.

"Para termos acesso a essas informações é necessário avaliar Suzane ao longo de sua trajetória no cumprimento de sua pena e, assim, saber como ela pode ressignificar seu ato. Só assim saberemos se ela se arrependeu e mesmo assim, uma visão parcial. Arrependimento é um mecanismo complexo que envolve assentimento subjetivo, ou seja, implicação e responsabilização pelo ato criminal. Qualquer elemento fora de contexto é achismo, não é um trabalho técnico e científico e muito menos ético. A saidinha é um direito, uma aposta do sociedade nos sujeitos privados de liberdade. Casamento e religião não são provas de boas condutas, se o fosse, pessoas casadas e religiosos não cometeriam crimes. Portanto, é possível fazermos nenhuma afirmação nesse sentido", concluiu o psicólogo.

Serviço

Lançamento e noite de autógrafos do livro "Suzane - assassina e manipuladora" (Matrix Editora) em Belém - escrito pelo jornalista paraense Ullisses Campbell
Data: 11 de março (quarta-feira)
Horário: 19h
Local: Hall social do Grupo Liberal (avenida Romulo Maiorana, 2473, bairro do Marco)
Entrada gratuita

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