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Baia do Guajará verde? Paraenses comentam 'mudança' e especialistas explicam fenômeno

Rio com a água mais esverdeada chamou atenção durante o Círio Fluvial. Alguns relatos também apontam que a água estaria mais salgada e agitada durante esse período... Será? Entenda!

Hannah Franco
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Durante o Círio Fluvial, no último sábado (12), registros da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré circularam entre os paraenses. No entanto, além da procissão, um detalhe inesperado chamou a atenção tanto de quem acompanhava a romaria de perto quanto daqueles que viram as fotos nas redes sociais: a água que banha a Baía do Guajará estava com uma coloração esverdeada, algo incomum para a região.

Tradicionalmente, as águas dos rios que cercam Belém são mais escuras, e o tom esverdeado quase cristalino observado no sábado é mais comum em áreas oceânicas. Especialistas explicam que esse fenômeno ocorre anualmente entre agosto e novembro, quando a água do oceano invade os rios do Pará, misturando-se à água doce.

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Água do mar e baixo índice de chuvas

A oceanógrafa e pesquisadora da UFPA, Sury de Moura Monteiro, esclarece que a mudança de coloração está relacionada à baixa pluviosidade do período. "Estamos no período de menor índice de chuvas, o que reduz a vazão dos rios, permitindo que a água do mar invada os rios do Pará, como a Baía do Marajó e, eventualmente, a Baía do Guajará", explica a especialista.

Segundo Sury, o fenômeno tem sido observado há mais de uma década pelo Observatório da Costa Amazônica, que monitora os dados e identifica a entrada natural da água do mar a partir de setembro.

Apesar de ser um ciclo considerado normal, Sury não descarta a influência das mudanças climáticas. "Elas podem estar amplificando esses efeitos na nossa rede hídrica. O volume de água doce da nossa rede hidrográfica amazônica — rios Amazonas, Tocantins e Guamá — pode ter diminuído este ano, facilitando ainda mais a entrada da água do oceano", acrescenta.

Repercussão da mudança de cor na água

image Baía do Guajará durante o Círio Fluvial, que contou com a presença do presidente Lula. (Agência Brasil/Ricardo Stuckert)

O presidente Lula, que participou do Círio Fluvial deste ano, também compartilhou imagens da romaria em suas redes sociais. A coloração peculiar das águas foi destaque nos comentários, com muitos paraenses questionando até se as fotos haviam sido editadas. No entanto, quem estava presente confirmou que o fenômeno realmente ocorreu.

Nas redes sociais, muitos publicaram sobre a mudança e, principalmente, enalteceram a paisagem que se formou.

Possível salinização dos rios

Outra preocupação levantada pela oceanógrafa é a possibilidade de salinização da Baía do Guajará, o que pode trazer consequências sérias para o abastecimento de água da capital. "Se realmente a água do mar tiver entrado, ocorreu provavelmente o processo de salinização, que eu não posso afirmar", diz.

"Se isso aconteceu, então teremos um grande problema de insegurança hídrica, porque a gente é abastecido pela água do Rio Guamá — que tem conexão com a Baía do Guajará — e depende de água doce para o abastecimento de água publica", alerta Sury.

Rio mais agitado e ventos fortes

Além da mudança de cor e relatos sobre a salinidade da água, muitos paraenses notaram que o rio estava mais agitado do que o normal, com ondas fortes. Segundo um estudo de 2017 publicado na Revista Brasileira de Iniciação Científica, a variação na velocidade e direção dos ventos no Pará tem influência direta nas condições das águas.

A bióloga Paola Pires, mestre em aquicultura e recursos aquáticos tropicais e doutoranda em ecologia, explica que ventos fortes são comuns nesse período do ano. "Fatores sazonais, como a estiagem, intensificam a força dos ventos, alterando a dinâmica das águas", diz Paola. O fenômeno La Niña, que resfria as águas do Oceano Pacífico Tropical, também pode contribuir para essa variação climática, impactando a velocidade e a direção dos ventos na região.

"Eventos sazonais são naturais, o que pode ou não intensificar esses efeitos são impactos que ocorrem no ambiente, sejam eles antrópicos como a poluição, ou naturais, como os eventos climáticos de El Niño e La Niña", ressalta a bióloga.

"Esses eventos climáticos, como La Niña e El Niño intensificam os efeitos de mudanças no clima naturalmente, como as secas severas que estamos enfrentando. No entanto, atualmente, tem intensificado também os efeitos das mudanças climáticas causados pelo aquecimento global", acrescenta.

Testes e análises para confirmação

Embora esses eventos sejam naturais, Paola reforça que as mudanças climáticas globais podem estar exacerbando essas condições. "As mudanças climáticas têm causado acentuação nessas condições da natureza, como o aumento na concentração de algas, aumento dos ventos e também intensificação dos eventos climáticos", afirmou.

Ela acrescenta, no entanto, que é necessário realizar testes mais específicos para determinar o grau de salinidade e outros fatores biológicos nas águas da Baía do Guajará.

"Para dizermos que as águas não estão próprias ou saudáveis, e também aferir sobre o tipo de organismos que estão lá no momento, assim como as condições químicas da água, como o aumento da salinidade, precisamos fazer análises químicas e biológicas da água, para sermos mais exatos quanto a essas informações., concluiu a bióloga.

Hipótese das algas

Além da influência oceânica, outra hipótese levantada para a mudança na cor do rio envolve a proliferação de algas. Bárbara Dunck, especialista em microalgas e pesquisadora da UFRA, explicou que esse fenômeno pode ser causado pelo crescimento acelerado de determinados grupos de algas, favorecido por fatores como altas temperaturas e a mistura da coluna d'água.

"Essa coloração mais esverdeada pode ser indicativo da proliferação de alguns grupos, como as algas verdes, cianobactérias, ou até mesmo de diatomáceas", explica a especialista.

No entanto, ela destacou que, para uma resposta mais precisa, seria necessária uma pesquisa mais aprofundada sobre a atual condição aquática da Baía do Guajará.

"Para confirmação de qual grupo está proporcionando a coloração, é necessário a coleta da água e a análise em laboratório com auxílio de microscopia", ressalta a especialista.

A proliferação de microalgas, embora natural, pode trazer consequências para o ecossistema aquático. Segundo Bárbara, em pequena escala, os impactos são mais visuais, como alteração na cor, odor e sabor da água. No entanto, em casos mais graves, espécies potencialmente tóxicas, como certas cianobactérias, podem causar grandes problemas, incluindo a mortandade de fauna aquática e riscos à saúde humana.

*Hannah Franco, estagiária de jornalismo sob supervisão de Heloá Canali, coordenadora de Oliberal.com

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