Aterro sanitário de Marituba: moradores vivem expectativa pelo encerramento das atividades

Mais de 40 mil toneladas de resíduos de Belém, Ananindeua e Marituba são descartados no local

Maiza Santos / Especial para O Liberal

Após oito anos de funcionamento, as atividades no aterro sanitário de Marituba podem ser encerradas. Aberto desde 25 de junho de 2015, o local recebe 70% dos detritos descartados por Belém, 20% de Ananindeua e 5% de Marituba. O fim do funcionamento do aterro deve ocorrer em 31 de agosto deste ano e gera uma grande expectativa nos moradores da área. 

Na última sexta-feira (21), a Prefeitura de Belém informou que avalia junto ao Governo do Estado a construção de um novo aterro, mas, até o momento, a gestão municipal não divulgou o local da nova área e quando ficará pronta. Já a Prefeitura de Marituba informou que implanta um programa de coleta seletiva em parceria com cooperativas. A Prefeitura de Ananindeua não respondeu ao questionamento, até o fechamento da matéria. Apesar dos posicionamentos, não há uma solução imediata para a destinação das mais de 40 mil toneladas de lixo que continuarão a ser produzidas todos os meses.

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Operado pela empresa Guamá Tratamento de Resíduos e funcionando desde a época da desativação do lixão do Aurá, em Ananindeua - quando a Política Nacional de Resíduos Sólidos exigiu o fim dos lixões em todo o país -, o aterro de Marituba se tornou um assunto delicado, pois já gerou uma série de protestos e reclamações dos moradores que moram próximo ao local. Adriano Pacheco, presidente das associações comunitárias de Marituba, é uma das pessoas que tiveram a rotina alterada após o início das atividades no aterro sanitário. Segundo ele, se concretizada a paralisação do recebimento de resíduos no local, será um alívio.

“Nós aqui do bairro Santa Lúcia estamos somente a 400 metros longe do aterro sanitário. A área habitada chega a ser uma rua de distância. Se atravessar, já tem casa, pessoas morando praticamente ao lado. Em outros estados, a população vive a quilômetros de distância porque naturalmente ele vai deixar sair algum odor incômodo. E essa questão desse cheiro fez a nossa vida mudar. Ele é incessante e não tem como conter. Nem a empresa pode impedir. Se acabar, poderemos viver melhor”, informa Adriano. 

image Adriano Pacheco (Reprodução: Thiago Gomes)

Conforme o morador da área, a reclamação da comunidade Abatratroz, além do mau cheiro que ocorre em horários específicos do dia, seria o temor dos poluentes que eles acreditam estar contaminando o ar e a água. “O que a gente consegue ver se torna menos prejudicial. Os piores são aqueles que não tem cheiro, que estão invisíveis, mas que são poluentes e estão no ar, água e solo causando males para as pessoas”, declara o morador.

Reivindicações

Outro representante dos moradores que pontuou os transtornos diários vividos pela população da área é Ângelo Marcelo da Silva Moraes. Membro da liderança comunitária do local, ele diz que as pessoas já tentaram de tudo para fugir do fedor que invade o bairro entre as 11hrs e as 14hrs - horário que os caminhões de lixo chegam para descarregar os resíduos no aterro. “Quem mora nas casas dos conjuntos, que são forradas, sofrem porque o gás fica preso dentro dos cômodos. Então a gente sempre abre toda a casa, liga o ventilador, até passar o horário do odor”, garante. 

image Angelo Marcelo da Silva Moraes (Reprodução: Thiago Gomes)

A comunidade diz que há quase sete anos faz vários atos reivindicando melhores condições de vida. O que, para eles, vai mudar com a paralisação das atividades no aterro. “Nós já fizemos vários protestos, fechamos a rua, falamos com parlamentares. Já foi criada uma comissão aqui chamada ‘donas de casas’. Essas mulheres saíram a pé da comunidade até a prefeitura de Ananindeua para reivindicar pessoalmente solução aos problemas”, expõe Ângelo Moraes. Vale destacar que os moradores também esclarecem que atualmente possuem uma relação amigável com os administradores da empresa. E que, juntos, todos buscam o melhor para a companhia e para os moradores. 

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Expectativas para o encerramento 

A proposta pelo fim do armazenamento de resíduos no aterro já havia sido homologada em 2021, mas acabou sendo adiada para agosto deste ano. Apesar de alguns moradores afirmarem ter expectativas positivas, as várias prorrogações que já ocorreram fazem algumas pessoas da comunidade temerem uma possível nova prorrogação. “A palavra que define é medo. Isso porque faz muito tempo que estão postergando esse encerramento. Todas as vezes que chega a hora de decidir, as autoridades optam pela continuidade do aterro”, lamenta Angelo.

Conforme divulgado na coluna “Repórter 70”, de O Liberal, ainda há possibilidades de ampliação do prazo para o fechamento do aterro sanitário de Marituba. Segundo a coluna, a nova data poderá ser de 18 meses, ou seja, mais um ano e meio de funcionamento. No entanto, se a prorrogação não acontecer, a possibilidade seria, ainda, reativar uma célula de tratamentos e rejeitos no antigo lixão do Aurá.

Atividades do aterro 

O aterro sanitário de Marituba é o único de grande porte no Pará. Conforme Reginaldo Bezerra, diretor de Negócios da Guamá Tratamento de Resíduos, 70% dos empregados residem no município. Além disso, as atividades realizadas pela empresa são fiscalizadas. “Em todas as etapas, esse material recebe um tratamento para evitar a contaminação do solo, da água e do ar. Todo o volume é monitorado 24 horas por dia por equipes técnicas especializadas, para que haja segurança no processo. Não há emissão de líquidos para o meio ambiente ou de gases para a atmosfera”, declara.

No entanto, ao falar sobre a questão do odor, ele afirma que isso ocorre devido a quantidade de resíduos. “São cerca de 200 caminhões de lixo que chegam ao aterro todos os dias. Quando você acumula tantos resíduos orgânicos assim, como esses mais de 50 metros de altura que tem atualmente, se torna inevitável. Fazemos o tratamento, mas ainda assim ocorre”, esclarece.

image Reginaldo Bezerra (Reprodução: Thiago Gomes)

Questões ambientais

Reginaldo Bezerra também explica que, mesmo se as atividades encerrarem, o tratamento do resíduo que já está no aterro terá que continuar. “Depois que parar o recebimento, como o aterro continua gerando chorume, a estação de tratamento continuará em atividade até ele esvaziar. Assim como será com a queima dos gases produzidos. Enquanto ele existir, será feita a geração de energia elétrica e a eliminação de metano. É previsto que esse monitoramento aqui ocorra por, no mínimo, mais 20 anos”, informa.

Conforme o diretor, os planejamentos para o aterro após o encerramento definitivo de todas atividades - coleta e tratamento - já estão ocorrendo. “Não pretendemos que se torne um lixão. Ao final das operações, poderão utilizar todo o espaço para desenvolver algumas atividades, como a construção de um parque, um local para as pessoas se exercitarem ou um centro de educação com foco ambiental. Ele poderá ser aproveitado de muitas maneiras para que a população também consiga usufruir e o meio ambiente permaneça preservado”, assegura Reginaldo.

 

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