Aterro de Marituba: moradores das proximidades relatam impactos na saúde
População afirma procurar constantemente serviços médicos devido os problemas que enfrentam decorrentes dos resíduos
A expectativa pelo encerramento das atividades do Aterro Sanitário de Marituba, que está prevista para ocorrer no dia 31 de agosto - dentro de três dias, continua trazendo à tona transtornos antigos, que são vividos pelos moradores da área. Sem definição para qual local será enviado o lixo doméstico da Região Metropolitana de Belém, o temor da população próxima ao aterro é que o armazenamento de resíduos continue no local.
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Os moradores de Marituba afirmam que seguem sofrendo com as atividades do aterro sanitário, que recebe milhares de toneladas de resíduos de Belém, Ananindeua e do próprio município. De acordo com a população, o aumento do odor fez crescer a procura por serviços de saúde, com queixas como falta de ar, desconforto nos olhos, problemas de pele e sensação de ardor ao respirar, entre outros problemas.
Dona Jucélia Alves, de 54 anos, é moradora da comunidade perto do aterro sanitário. Há mais de 15 anos no local, ela mostra o corpo com coceira e feridas, além de duas caixas com remédios que usa para tentar amenizar os problemas que afirma ter relação com a água que estaria contaminada.
“O problema já é antigo, mas faz três meses que comecei a usar pomadas e tomar remédios para a coceira, só que não resolve nada. Não dá nada nos exames, já fiz vários, inclusive o de sangue. Eu tô cansada de tomar remédio e não dar jeito. O médico diz que deve ser a água, mas eu tenho certeza que é. Se não fosse, não ia dar em todo mundo essas coceiras, é a mesma bolha na pele de todos. Essa água daqui tá toda contaminada, a gente bebe água e sente que o gosto é diferente, dá até ânsia de vômito”, aponta Jucélia.
Impactos imediatos
Outra pessoa que reclama de problemas na saúde é a decoradora Ivana do Socorro, de 35 anos, que relata ter adquirido várias doenças desde que se mudou para perto do aterro sanitário de Marituba. Ela diz que o odor do gás que sai dos resíduos tem lhe feito muito mal.
“Eu tô a um ano e seis meses aqui e desde que chegamos, meus dois filhos e eu temos sofrido. Temos que comprar remédio e fazer aerossol por conta desse lixão que fede muito de madrugada. Não conseguimos dormir direito, colocamos até máscara neles. Estamos a pouco tempo aqui e eu não sabia que tinha o lixo tão perto quando mudei. Já sentimos bastante os problemas. Meus filhos estavam bem de saúde e depois que chegaram aqui adquiriram asma devido a esse fedor do aterro. Temos muito enjoo, dor de cabeça e enxaqueca”, assegura.
De acordo com Milena Silva e Souza, estudante de 15 anos, que mora próximo ao aterro, a saúde dela passou a ser afetada devido ao contato diário com o odor liberado pelo aterro sanitário. “Eu tive asma quando era menor, mas nunca tinha se manifestado em mim qualquer sinal disso há muito tempo. Só que com o decorrer do odor e desse gás tóxico que vem matando muita gente, eu comecei a sentir asma. Já tive que ir na farmácia comprar inalador pois é muito ruim a pessoa dormir com falta de ar, sem sequer conseguir respirar. Somos pessoas e temos o direito de viver”, informa.
A jovem também afirma que constantemente apresenta quadros de inflamação nos órgãos do sistema respiratório e que teme que algo pior possa acontecer. “Eu tive um sangramento no nariz, até agora não voltou mais, mas também tô com um pequeno sangramento na garganta, devido ela tá inflamada. É ruim porque, além de tudo isso, quando as pessoas daqui vão no posto tentar marcar uma consulta, eles dizem que não tem médico. Então ficamos sem nenhuma assistência. É complicado para a população viver desse jeito”, reclama.
Esclarecimento
Por meio de nota, a Guamá Tratamento de Resíduos afirma que “segue padrões internacionais no tratamento dos resíduos e cumpre a legislação ambiental, que assegura o uso adequado, controle e monitoramento dos recursos naturais, tudo devidamente fiscalizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semas)”. Para evitar a disseminação de doenças e impactos severos ao meio ambiente, a empresa “isola os resíduos sólidos despejados de qualquer contato com o meio exterior ou vida humana”.
Sobre água, a Guamá informa que, para certificar que não há contaminações ou impactos, a cada dois meses são coletadas amostras de águas subterrâneas e superficiais, que passam por análises físico-químicas e microbiológicas em laboratórios acreditados nacional e internacionalmente. As amostras atestam que o aterro de Marituba se mantém operando sem alteração da qualidade ambiental dos recursos hídricos da região.
Da mesma maneira ocorre com o monitoramento do solo. A empresa explica que “a disposição dos resíduos são as menores possíveis e são cobertas rapidamente”. Eles declaram que “as lagoas de armazenamento de chorume são cobertas com mantas impermeabilizadas, assim como o aterro”. Quanto ao odor, asseguram que “o sistema de queima do biogás e a Estação de Tratamento de Efluentes são duas tecnologias que ajudam a reduzir o odor, pois auxiliam na captura e uso dos gases, evitando que sejam liberados no ar”. Além disso, “também há desodorizadores pulverizados no empreendimento”.
Acompanhamento médico
Em nota, a Prefeitura de Marituba, por meio da Secretaria de Saúde, informa que a Estratégia de Saúde da Família Santa Lúcia oferece uma ampla gama de atendimentos para a população da área. “Também são ofertados serviços de clínico geral, odontológico, enfermagem, nutricionista e técnicos, a unidade também conta com uma regulação que realiza agendamentos especializados, como dermatologia”, diz o comunicado.
As autoridades afirmam realizar os agendamentos tanto para atendimentos de rotina quanto para casos de urgência. Além disso, também estão disponíveis de segunda a sexta-feira para emitir e atualizar o cartão SUS. “A equipe também realiza visitas domiciliares em todas as especialidades, atendendo às demandas trazidas pelos agentes comunitários de saúde. Desta forma, garantimos que as necessidades da comunidade sejam devidamente encaminhadas e atendidas”, declara a nota.
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