As sacadas do Cristo Rei!
Opinião: corrosão pode ter influenciado na ruptura das sacadas do edifício, diz especialista
Sacadas em edifícios em Belém são fundamentais para a venda e atraem o comprador, embelezando a fachada. Porém, rigorosamente são áreas quase sem uso, tendo em vista serem descobertas.
A aplicação de vidros especiais móveis têm modificado o uso dessas áreas fazendo-as serem incorporadas nas áreas contíguas. Sob o ponto de vista estrutural, na maioria dos casos, a sacada é uma área em balanço e, como os engenheiros sabem, são peças com momento fletor negativo.
Daí que os ferros principais são também negativos, ou seja, estão na parte superior das peças. Quando há rebaixo, normalmente de 5 cm para evitar passagem de água para a sala ou para o quarto, esse ponto, ou melhor, essa "linha de contacto", torna-se uma região de muito perigo, se não forem tomados os cuidados durante a concretagem e, principalmente, durante o uso.
É que a região é úmida e traz, com essa umidade, pontos de concentração de corrosão. Também, na linha de engasgamento da sacada com a viga da sala ou do quarto, há sempre o aparecimento de microfissuras que aceleram o processo de corrosão do aço "negativo" levando a uma situação potencialmente perigosa! O acidente do Cristo Rei pode mostrar que a corrosão pode ter influenciado muito na ruptura de todas as sacadas.
Também sob o ponto de vista das cargas de uso, 150 kg, as sacadas perdem em segurança, tendo em vista que só um apoio as seguram, enquanto as lajes de sala e quarto, por exemplo, estão apoiadas nos quatro lados.
Eu, como calculista, sempre que acontece um um acidente como esse, faço os responsáveis fazerem vistorias nessas linhas de potencial perigo, por falta de manutenção ou cuidados. Sugiro aos órgãos da Prefeitura de Belém, uma campanha de vistoria. Não é a primeira vez que desaba uma sacada e, por enquanto, não tivemos vítimas, o que pode acontecer em outras ocasiões.
Nagib Charone
Engenheiro civil e mestre em Estruturas de Concreto Armado
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