Vilã ou aliada? Transição tecnológica divide opinião de idosos em Belém
Dificuldade de aprendizado também tem explicação na medicina
Serviços que eram exclusivamente presenciais e analógicos, agora podem ser acessados na palma da mão, a qualquer momento e de todos os lugares do mundo. Essa mudança acontece cada vez com mais rapidez, e, embora facilitem a vida no dia a dia, também criam obstáculos para pessoas desacostumadas com a rapidez das novas tecnologias. Pessoas idosas tendem a protagonizar essa dificuldade de aprendizado, quando há pouca interação com a tecnologia, explica a médica geriatra Sheyla Calixto.
Na contramão da expectativa, a economista e advogada Marilene Jardim, de 70 anos, não sente dificuldades em aprender a utilizar novas ferramentas e associa isso ao fato de sempre manter “a mente ativa”. Após passar por duas graduações, ela acredita que estudar constantemente ajuda no aprendizado das ferramentas que surgem e se atualizam. Além das duas graduações, Marilene já pensa na terceira e afirma que não para.
“A gente não pode parar, temos que estar sempre atualizados. Tenho a impressão de que as pessoas quando se aposentam, elas param, e eu não me vejo assim sem fazer nada, sem atualização; sempre estou fazendo um curso novo, uma pós-graduação, e acho que isso ajuda muito”, reforça.
Quantidade de inrmação pode ser barreira
A experiência dos que precisaram se adaptar à modernização dos serviços varia. Em alguns casos, é mais sobre a velocidade e menos sobre a tecnologia em si. Assim explica o proprietário de um posto de gasolina em Belém, Ovídio Gasparetto, de 68 anos, que admira as facilidades proporcionadas pela tecnologia, mas critica a velocidade e a quantidade de informação hoje. Nos aplicativos de mensagem, por exemplo, ele explica que não consegue acompanhar a velocidade com que as mensagens chegam e nem o tempo de respostas, devido ao número alto de informação.
“Eu gostaria demais que não existe mais o WhatsApp, porque eu recebo por dia mais ou menos cem mensagens de WhatsApp de pessoas conhecidas e de pessoas desconhecidas… com isso, eu acabo nem respondendo àquelas pessoas que estão no meu convívio ou no meu trabalho, porque, você sabe, vai entrando uma mensagem, e as demais vão lá para baixo”, explica.
De maneira geral, a modernização não é um bicho de sete cabeças para o empresário. Ele relembra a chegada dos primeiros aparelhos e destaca que nunca foi alheio à aproximação dessas mudanças. O empresário dá exemplos de tecnologias com resultados muito positivos, como a sua aplicação nos aviões, para localização em qualquer lugar e hora.
“Há 30 anos caiu um avião da Varig, porque o piloto se perdeu no caminho. Hoje, qualquer telefone celular, mesmo no céu, te dá o direcionamento e tem programas específicos de GPS aéreo, para você ver como, com um simples telefone na mão, se localizar em qualquer lugar do mundo”, observa.
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Dificuldade também é biológica
Conforme a especialista, embora o envelhecimento provoque “alterações na cognição como na capacidade de atenção, memorização e aprendizado”, o cérebro idoso ainda mantém a capacidade de aprendizado sobre novas atividades. A maior capacidade de pensamento e raciocínio está presente durante a infância e fica estável na fase adulta.
“A diminuição da função cerebral com envelhecimento resulta de numerosos fatores como: alterações nas substâncias químicas do cérebro ao longo do tempo, alterações nas próprias células nervosas, substâncias tóxicas que se acumulam no cérebro, alterações no fluxo de sangue para o cérebro e alterações herdadas”, explica.