Da Amazônia ao RS: filtros de nanotecnologia combatem sede nas enchentes
Incentivos para uma produção nacional poderiam ampliar o raio de ajuda
Inicialmente, os filtros de nanotecnologia foram aplicados em diferentes comunidades da Amazônia brasileira para combater o consumo de água contaminada devido à ausência de saneamento básico e poluição decorrentes da atividade garimpeira. Após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, uma coalizão de organizações e entidades parceiras iniciaram a campanha que enviou a tecnologia para auxiliar as vítimas no estado gaúcho. O baixo custo de produção dos produtos, que varia entre R$ 40 e R$ 150 a depender do tipo de filtro, torna a solução viável para diferentes cenários, sejam secas no Norte ou enchentes no Sul.
A tecnologia dos filtros aplicados na região Amazônica e, agora, enviados ao Sul, não são uma novidade, como esclarece o coordenador técnico da organização não governamental ‘Projeto Saúde & Alegria’ (PSA), Caetano Scannavino. A ONG é responsável por trazer os filtros para comunidades tradicionais nas regiões de Santarém, Óbidos, Itaituba e Jacareacanga. Os resultados positivos consolidaram parcerias e propiciaram o envio para as vítimas das enchentes, cenário para o qual os filtros já são utilizados.
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“A questão dos filtros de nanotecnologia, não são uma novidade nos países que convivem com situação de terremoto e tsunami por exemplo. Eles são desenvolvidos com uma micro membrana que retém 99,99% das impurezas da água e é de necessidade de gravidade mínima”, pontua Caetano.
Diferentes Aplicações
A tecnologia utilizada nos filtros tem sido aplicada de três maneiras diferentes, entre elas o filtro-canudo que já chegou no RS, com apoio financeiro de entidades parceiras como o Greenpeace. No caso dos filtros-canudos, o uso é bem intuitivo, a água contaminada é sugada por uma ponta e chega limpa para consumo do usuário. Através do esforço de governos e organizações, foram enviados ao sul cerca de cinco mil desses, com capacidade de filtrar com segurança 500 mil litros de água, segundo o coordenador.
Existe também a modalidade do filtro em baldes, com a característica principal da facilidade de manutenção. “Esses são filtros em que você pega um balde de material de construção mesmo, balde de manteiga que custa R$ 30 ou R$ 40 e você pega a mangueirinha, acopla no filtro e pronto”, descreve o coordenador técnico. Segundo ele, este modelo possui a finalidade direcionada ao uso domiciliar com uma duração média dos filtros de “algo em torno de 5 anos”. A parceria que propciou a ciração dos filtros de balde, assim como dos filtros canudo, foi entre a PSA e a organização 'Water is Life'.
Uma terceira aplicação, fica a cargo dos filtros mochila, frutos da parceria com uma startup (empresa emergente) brasileira 'Água Camelo'. O modelo em formato de mochila aplica a mesma tecnologia da membrana, mas prioriza o armazenamento e a locomoção. De acordo com Caetano, esta serve principalmente para áreas que enfrentam secas, onde as comunidades precisam se deslocar a longas distâncias em busca de água.
“A comunidade ali na área de seca que fica longe do acesso à água, já vai com mochila, carrega a mochila com água de volta nas costas e aí pendura a mochila no armador de rede na sua casa e já sai a mochila conectada numa mangueirinha com o filtro de nanotecnologia para você poder ofertar a água potável em casa”, detalha.
Produção e Mercado
“Se pudesse, estaria distribuindo para todo mundo, inclusive na periferia de Belém, tudo porque os investimentos de saneamento da região norte fazem vergonha se a gente comparar com as outras regiões do país”. A afirmação de Caetano Scannavino, coordenador técnico do Saúde & Alegria, reflete a necessidade de ampliar a potencialidade de uma tecnologia estrangeira que pode contribuir para a realidade de brasileiros de uma ponta a outra do país.
Em valores, o custo médio dos filtros de balde está em torno de R$ 150, enquanto que os filtros-canudo saem por R$ 40. A tecnologia é desenvolvida na China e importada para o Brasil, o que para Caetano, reforça a importância de incentivos que tragam uma produção nacional ou até mesmo o armazenamento desses produtos em maior quantidade como prevenção a novos desastres climáticos. “Se a gente encomendar 10 mil unidades daqui 15 dias tá pronto”, justifica seu argumento, ressaltando a praticidade na aquisição.
O especialista descreve esse processo como um investimento em “adaptação à nova realidade”. Para ele, “se você já tivesse em comunidades na Amazônia um sistema de abastecimento com um filtro na casa de cada um, o tamanho do sofrimento da crise humanitária no na seca do ano passado não teria sido tão grande”. Ainda destaca a possibilidade de conseguir valores ainda mais baixos no mercado comprando em grandes quantidades, o que se encaixaria na realidade de um país com proporções continentais, a exemplo do Brasil.
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