Tecnologias de baixo custo levam água e saneamento para a Ilha do Combu

As iniciativas foram visitadas na manhã desta terça (21) por um grupo que participa do I Encontro de Tecnologia Social da Amazônia, promovido pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

Ádria Azevedo/ Especial para O Liberal

A Ilha do Combu, na região insular de Belém, não conta com sistema de abastecimento de água nem de tratamento de esgoto. Além das dificuldades práticas que isso impõe a quem vive e trabalha no local, a realidade também traz riscos sanitários e ambientais: há quem despeje dejetos de esgoto diretamente no rio, enquanto moradores consomem a água fluvial sem tratamento.

Duas tecnologias sociais de baixo custo implantadas no empreendimento "Filha do Combu", que produz cacau e chocolate, prometem minimizar o problema: um sistema de captação de água da chuva e um tanque de evapotranspiração (TEvap), que é um tratamento de esgoto baseado em soluções da natureza.

As iniciativas foram visitadas na manhã desta terça (21) por um grupo que participa do I Encontro de Tecnologia Social da Amazônia, promovido pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). De acordo com a bióloga Vânia Neu, professora da Universidade, o encontro, que segue até o dia 25, vai discutir tecnologias sociais para resolver os problemas enfrentados pela região amazônica, como de acesso a água.

“Aqui no Combu, estamos solucionando o problema do esgotamento sanitário e da água potável para consumo humano. Isso tem impacto ambiental e social, porque se deixa de contaminar o meio, os rios, e também se evita o adoecimento das pessoas. A gente sabe que na Amazônia muitas pessoas sofrem em função de diarreia, giárdia, ameba, por não ter água e esgotamento sanitário. Então, com esse casamento entre tratamento de esgoto e acesso a água potável, se resolve praticamente 90% das doenças de veiculação hídrica da região”, explica a pesquisadora.

Tanques de evapotranspiração

O empreendimento Filha do Combu é o primeiro a receber o tanque de evapotranspiração na ilha, mas a professora já instalou um sistema igual em sua própria casa. “É uma solução muito simples, segura e barata para resolver a questão do esgotamento sanitário, não só em área rural, mas em área urbana. Eu implantei na minha casa, porque eu acredito muito nisso, que são as soluções baseadas na natureza. A gente aproveita materiais que seriam descartados, como pneus e entulhos de construção”, destaca Vânia Neu.

image Duas tecnologias sociais de baixo custo foram implantadas no empreendimento Filha do Combu (Igor Mota/ O Liberal)

A tecnologia consiste em um tanque impermeabilizado, que não permite escape do material que recebe para o solo. Dentro dele, há várias camadas: de baixo para cima, são usados pneus, entulho, seixo, areia grossa e substrato para plantas. No topo, são plantadas espécies de folhas grandes.

“O tanque recebe as chamadas águas negras, que vêm da tubulação do vaso sanitário, e nele ocorre o tratamento desse material. As plantas que estão na camada de solo acima do tanque vão usar as águas e os nutrientes para seu crescimento e jogar água limpa para a atmosfera. Por isso, o ideal são espécies de folhas grandes, como bananeiras, que têm grande potencial para jogar para a atmosfera. Então, entra uma água contaminada com coliformes, com excesso de nutrientes, e as plantas devolvem água limpa para a atmosfera”, detalha a professora. A maior parte do material coletado é líquido e evapora; apenas 1% é sólido e fica acumulado no tanque.

Captação de água da chuva

Outro sistema instalado no local faz a captação da água da chuva para que ela possa abastecer as torneiras de dentro de casa. A água da chuva é coletada por meio de uma calha instalada nas bordas do telhado e é direcionada para um tambor, que recebe a primeira água, com impurezas, a água que “lava” o telhado. Depois dessa coleta, apenas a água limpa vai para uma caixa d’água, de onde segue para o encanamento da casa e é tratada com hipoclorito a 2%. “A água que for para ser consumida, para beber, passa ainda por um filtro de carvão ativado, já dentro da casa. É uma água livre de coliformes, de contaminação química”, ressalta Vânia.

image De acordo com a bióloga Vânia Neu, professora da Ufra, o encontro, que segue até o dia 25, vai discutir tecnologias sociais para resolver os problemas enfrentados pela região amazônica (Igor Mota/ O Liberal)

Além de no Combu, o sistema já é utilizado por 15 famílias na Ilha das Onças, em Barcarena.

Preservação

Izete Costa, mais conhecida como Dona Nena, é a proprietária do Filha do Combu. Ela diz que implantou os sistemas, com apoio do projeto coordenado pela professora Vânia Neu, pensando na preservação da ilha. “Aqui na comunidade, nós temos muita dificuldade de saneamento básico. Então, o que a gente fez, foi com o intuito de preservar o nosso rio, que é a nossa rua, dele a gente tira alimento. A maioria das pessoas aqui no Combu tem fossa, mas, quando chega no inverno, a maré chega nas fossas e acaba levando dejetos para o rio. Então, fazer isso é para o nosso bem-estar e também para mostrar que é possível fazer um saneamento básico”, conclui a empreendedora.

Encontro

O 1º Encontro de Tecnologia Social da Amazônia ocorre de 21 a 25 de novembro, no auditório Paulo Cavalcante, no campus de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, na Avenida Perimetral, em Belém. O evento é coordenado pela professora Vânia Neu, da UFRA, e reúne pessoas de várias regiões e de outros estados amazônicos para discutir experiências e soluções inovadoras.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Pará
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM PARÁ

MAIS LIDAS EM PARÁ