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Senadores paraenses comentam manutenção da taxa de juros do Banco Central

Políticos de base e oposição ao Governo Federal concordam com redução da Selic, porém, de formas diferentes

Daleth Oliveira
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Em meio às críticas envolvendo o patamar atual da taxa de juros no Brasil, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou na manhã de ontem (25) de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Desde agosto do ano passado, a taxa de juros básica da economia brasileira, a Taxa Selic, está em 13,75% ao ano. Campos Neto foi chamado pelos senadores para dar explicações sobre a manutenção desse valor.

Para o senador Beto Faro (PT-PA), o impulsionamento da economia brasileira está diretamente ligada com a baixa da Selic, portanto, é necessário que haja debates. “A manutenção da taxa de juros neste patamar afeta de maneira direta a economia, prejudicando a retomada do emprego, geração de renda e a melhora da vida da população. Investimentos deixam de ser feitos e prejudicam a normalização do processo produtivo mantendo pressionado os preços, contribuindo assim para a inflação”, disse o senador à reportagem de O Liberal.

“Diante deste cenário, o nosso questionamento é a respeito de quais os interesses do presidente do Banco Central com esta política de taxas de juros, pois somos sabedores que o senhor Campos Neto é uma herança do antigo governo”, conta Faro.

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O senador considera também o combate à inflação importante, porém, “não há razão concreta para que o Banco Central mantenha a taxa de juros no patamar atual, é a taxa real mais alta do mundo”. “Não queremos inflação, sabemos da necessidade de enfrentá-la, mas é preciso compreender qual é a natureza deste índice. Enfrentar a inflação atual com esse nível de taxa de juros é como tratar a covid-19 com cloroquina, além de não melhorar, pode causar ainda mais problemas”, comenta o petista.

“A inflação no Brasil no atual momento histórico não tem relação direta com aumento de demanda, que seria contida pelo aumento da taxa de juros. O problema da inflação no Brasil é muito mais de oferta, seja em decorrência da guerra na Ucrânia, dos choques nas cadeias globais em função da Covid-19, e ainda pelo aumento do preço das commodities, em especial alimentos e energia.  Neste contexto, de problemas de oferta, o aumento da taxa de juros, limita ainda mais a capacidade produtiva da economia brasileira, agravando o abastecimento interno e, portanto, pressionando os preços”, finaliza Beto Faro.

Mesmo concordando com a necessidade da taxa Selic recuar, o senador Zequinha Marinho (PL-PA), afirmou à reportagem de O Liberal que o Governo Federal não deve interferir na política do órgão.

"Ficou claro que é importante manter a autonomia do trabalho do Banco Central. Essa independência faz com que a instituição lide melhor com a política monetária do país. Certamente, precisamos cair mais com a Selic para equilibrar a inflação. A taxa básica de juros está alta e impede o crescimento, mas não podemos esquecer de cobrar o governo federal para que também faça seu dever de casa em relação à política fiscal", diz Marinho.

O que é a Selic

A taxa básica está no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. Em março, pela quinta vez seguida, o BC não mexeu na taxa, o que vem causando debates no cenário político e econômico do País.

Na última segunda-feira (24), durante discurso em Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o patamar atual da Selic, afirmando que o Brasil "tem um problema", que é a taxa de juros "muito alta". O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), também se posicionou favorável à redução da taxa na última semana. Para o paraense, “é fundamental que o Brasil possa ter um ambiente tributário reduzido”.

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A taxa Selic é uma ferr​amenta importante para o Banco Central do Brasil atingir seus objetivos. O economista Genardo de Oliveira explica que ela influencia as taxas de juros de todo o país, refletindo no bolso de todos os brasileiros.

“Em 2022, o Copom decidiu aumentar a taxa básica de juros da economia e o mercado financeiro reservou, a princípio, muitas expectativas. No entanto, é possível afirmar que a Selic tem influência direta no impacto na economia brasileira e na vida das pessoas. Tanto de forma positiva, como também de forma negativa. A Selic pode afetar as taxas de câmbio, os valores das criptomoedas, as contratações de créditos, os gastos da população, os investimentos públicos e privados e as aplicações financeiras”, considera o economista.

Genardo aponta também que uma Selic alta pode resultar em uma redução do consumo e do investimento, concentrando aplicações de maior prazo temporal, diferente de uma taxa baixa. “Neste segundo caso, ela pode estimular o consumo e os investimentos estrangeiros de forma significativa para os brasileiros”, exemplifica.

É necessário equilíbrio, diz economista

Na análise do economista Valfredo Faria, a manutenção da taxa Selic é prejudicial para a economia brasileira. “As empresas ficam prejudicadas porque com esses juros, dificilmente elas vão pegar dinheiro emprestado para melhorar o capital de giro. Os empresários só vão pegar em último caso. Então, quando a Selic está alta, os juros dos bancos comerciais ficam mais altos ainda. Isso é muito ruim para o financiamento das empresas, pois dificulta a expansão, compra de mercadoria e etc”, opina o especialista.

“O consumidor também é muito prejudicado, porque as empresas, principalmente de varejo, vendem parcelado, e quando a taxa de juros está alta, esse financiamento também fica mais caro, reduzindo as possibilidades de parcelas para o comprador. Isso porque as empresas não querem perder dinheiro vendendo de 12 vezes, por exemplo. Tanto que hoje o mercado está praticando um parcelamento de três, quatro, no máximo seis vezes. Isso é por causa da alta taxa de juros. 

Apesar dos problemas, a principal justificativa para a manutenção da taxa Selic em 13,75% é o controle da inflação, defende Valfredo. “É um remédio amargo para a inflação alta. Se hoje a inflação está em torno de 6% é justamente por causa da taxa de juros alta. Porque se ela estivesse baixa, a inflação estaria beirando os 20%. E a inflação também é muito perversa para a sociedade”, comenta o economista.

“Se a gente não conseguir ter um equilíbrio entre taxa de juros e inflação, provavelmente as pessoas mais pobres vão ser mais penalizadas, justamente por causa do processo inflacionário. Com os juros baixos, a inflação vai ficar mais alta e o Governo Federal está errado de querer baixar na marra. A inflação só não dispara se o Governo fizer seu dever de casa, que é reduzir gastos. O problema está justamente aí, pois o Governo não quer reduzir os gastos, pelo contrário, ele quer gastar mais. Então, se a gente tiver as taxas baixas como o Governo quer, com muito dinheiro em circulação, teremos uma inflação galopante pelo caminho, o que vai tornar tudo mais difícil. Por isso, precisamos de equilíbrio”, defende Valfredo Faria.

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