Polarização e cabos eleitorais no Pará: saiba o que está em jogo nas Eleições 2024

Em Belém, analistas políticos mostram tendências, mas acreditam que as eleições têm dinâmicas próprias

Valéria Nascimento
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A quatro meses das Eleições Municipais, grupos políticos se mobilizam para o pleito de 2024. Em Belém, os cientistas políticos Rodolfo Marques e Dalton Favacho, ouvidos pela reportagem, analisam o impacto que as escolhas de outubro deste ano podem ter para a definição do próximo presidente da República ou governador estadual, no ano de 2026. Confira. 

"Primeiro, temos que analisar separadamente a eleição para prefeitos e para presidente e governador, pois elas têm dinâmicas diferentes. Claro, que eleições de prefeitos e vereadores são a base que sustenta a pirâmide da política no país. São importantes, entretanto, não determinantes”, observa Dalton Favacho, cientista social e cientista político pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

Favacho acrescenta: “(...) cada município possui a sua dinâmica eleitoral própria. O eleitor municipal quer saber o que os candidatos a prefeito farão com sua cidade, e os presidenciáveis, para o País. É por isso que este mesmo eleitor pode votar em partidos diferentes para cargos distintos, considerando, por exemplo, que a legenda mereça seu voto para o plano municipal e não deva recebê-lo para a disputa federal ou estadual”.

Particularidades regionais

Doutor em ciência política, Rodolfo Marques destaca que, na hora de decidir em quem votar, cada eleitor usa um conjunto complexo de critérios. “Visualizo que as eleições municipais aqui no Pará também trazem consigo muito das peculiaridades regionais, em que as questões mais específicas das cidades, como saneamento básico, mobilidade urbana, ações de parceria para o enfrentamento de violência, saúde e educação públicas têm muito mais peso do que as questões ideológicas que pautam muitas discussões no país”, disse ele.

O professor Dalton Favacho recorda, por exemplo, que, “nas eleições municipais de 2020, a presidência do país era ocupada por Jair Bolsonaro (PL) e a grande maioria dos prefeitos eleitos no Pará possuíam alguma ligação com a base de sustentação do governo federal no congresso nacional”.

"Teoricamente, estes prefeitos deveriam ter eleito como governador do Estado, o candidato Zequinha Marinho nas eleições gerais de 2022, o candidato apoiado por Bolsonaro. Mas, o vencedor reeleito foi Helder Barbalho (MDB), o qual se posicionava como oposição ao presidente desde 2018, mais acirradamente durante a pandemia da Covid-19, em 2020, em que o governador paraense se destacou como o governador em nível nacional que mais fazia frente ao presidente quanto às medidas sanitárias e utilização de vacinas”, enfatizou Dalton.

Polarização

Para Rodolfo Marques, “as eleições municipais - que ocorrerão em mais de 5.500 cidades brasileiras - são extremamente importantes para mensurar a polarização ainda muito presente na política partidária e nas escolhas eleitorais no Brasil”, disse.

Perguntados sobre quais municípios paraenses devem ser considerados mais importantes nesse cenário, que permanece de polarização Lula x Bolsonaro, o cientista político Rodolfo Marques assinala, que, “em Belém e em Parauapebas, fica muito nítida a participação destacada de candidatos fortemente alinhados ao lulismo ou ao bolsonarismo. Mas, também nesses casos, há as chamadas 'terceiras vias'', ou representantes do poder local, não alinhados nem ao PT e nem ao PL”.

Marques também compreende que, “cidades como Ananindeua, Santarém e Marabá, com um quantitativo importante de eleitores, devem indicar essa nova correlação de forças políticas que emergirá das urnas eletrônicas em outubro de 2024”.

Municípios têm lógicas próprias

Doutor em ciência política, Dalton Favacho afirma: “não vejo a polarização Lula x Bolsonaro influenciar tanto as eleições municipais no Pará. Influenciam mais para as eleições a governo estadual e federal. Pois como eu disse, cada município segue sua lógica política própria. Considerando a eleição para governo federal, por exemplo, dos 41 municípios paraenses em que Bolsonaro saiu vitorioso, Helder (candidato apoiado por Lula) saiu vitorioso em 61% deles contra 39% do candidato apoiado por Bolsonaro. Já dos 103 municípios em que Lula saiu vitorioso, em todos os 103 também Helder foi o vencedor”.

“Quando se observa as eleições municipais, reforçando a tese de que cada município possui seu arranjo político particular, devemos destacar que dos 130 municípios hoje sob influência de Helder, em 14,6% deles foram eleitos prefeitos que estão na base de oposição ao governador na Assembleia Legislativa e oposição à Lula no congresso nacional. Isso comprova que o que ocorre em um cenário nacional e estadual, não necessariamente ocorre em cenários municipais”, analisa Favacho.

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