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Enquanto millenials iniciam ascensão, geração Z chega na política paraense

Em 2020, Belém elegeu cinco vereadores com menos de 25 anos de idade

Eduardo Laviano
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Em 2020, 20 milhões de eleitores brasileiros tinham menos de 25 anos de idade. Na eleição municipal daquele ano, cinco deles foram eleitos vereadores em Belém. A geração tratada pelos especialistas como "nativos digitais" é menos preocupada com perfeição e consumo e mais preocupada com a política. Um estudo global conduzido pela Verizon Media concluiu, por exemplo, que a geração Z tem maior probabilidade de consumir, responder e compartilhar ativamente conteúdo relacionado a assuntos de política, questões sociais sobre inclusão e redução da desigualdade e pautas ambientais. Na  comparação com os que nasceram antes de 1995, quem chegou ao mundo depois de 1995 tem 45% mais probabilidade de consumir conteúdo político, 40% mais probabilidade de interagir com conteúdo relacionado a questões sociais e 50% mais probabilidade de consumir conteúdo sobre algum assunto relacionado ao meio ambiente. No Brasil, em comparação com o ano de 2016, a pesquisa feita em 2019 atestou que o número de jovens que se interessa por conteúdo político cresceu 72%.

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A vereadora Bia Caminha (PT) conta que tem sido muito desafiador e instigante ver como a política funciona pelo lado de dentro. Ela iniciou a trajetória política no movimento estudantil e hoje nota que as pessoas já a respeitam mais do que um ano atrás, quando foi empossada no legislativo da capital paraense. "É uma experiência muito complexa. Somos uma geração que não viveu o que a geração anterior viveu, que foi o processo de melhorias sociais que o Brasil passou. Nós crescemos vendo muita turbulência, crises e rupturas democráticas. Estar na política agora com o Brasil devastado é ver de dentro os estragos causados no país e ver os limites do que o legislativo pode, de fato, fazer", conta ela, ao lembrar que tem boa relação com a maioria dos parlamentares mais velhos. 

Renan Normando (Podemos) concorda que a função de vereador tem limites, mas se sente grato pelas oportunidades de aprendizado tanto dentro do parlamento quanto fora, no contato com a população. Ele afirma que nunca sentiu nenhuma desconfiança por parte dos colegas em relação a idade dele. "A relação dentro da Câmara com outros parlamentares é boa, vejo que apesar das divergências de ideias, posicionamentos e ideologias, existe muito respeito e isso que é a democracia. Os parlamentares que já estão na casa a mais tempo, procuram sempre ajudar e aconselhar dentro do parlamento, fico feliz pela troca de experiências que diariamente acontecem", diz ele, que avalia que a educação deve ser a pauta prioritária dos jovens na política. 

A experiência do líder da oposição do vereador Matheus Cavalcante (Cidadania) foi um pouco diferente. Ele relata que pelo fato da sociedade associar juventude à imaturidade, ele sentiu certo descrédito da parte de alguns colegas de trabalho e também eleitores. Mas segundo ele, o tempo foi transformando em poeira qualquer pé atrás. Ele conta que a principal mudança na vida dele desde que virou parlamentar foi mudar a personalidade reservada para uma que aceitasse a exposição como parte do ofício. Ele acredita que a chegada dele e dos colegas mais novos ao parlamento traz uma esperança de renovação, o que maximiza a responsabilidade do cargo. "O grande desafio dessa geração é não decepcionar uma população que pede por mudanças e que tem a frente, graves desafios históricos, como o grande número de jovens no Brasil que não estudam e nem trabalham no Brasil ou então, de jovens que querem sair do país por falta de oportunidades. E ninguém melhor que os jovens para pensar políticas públicas para essa juventude", pontua. 

Hora dos millenials

Nascidos entre 1982 e 1995, a geração millenial cresceu ouvindo que tudo é possível mediante esforço e dedicação, mas desabrochou para a vida em um período econômico muito fértil no mundo todo, especialmente no Brasil. Tantos poderes, possibilidades e expectativas geraram também uma onda mundial de frustração profissional e depressão nos últimos anos, mas também resultou em conquistas expressivas, como a eleição do presidente chileno, Gabriel Boric, o mais jovem da história do país, aos 36 anos. 

"São adultos caracterizados por ingressarem no mercado de trabalho entre a crise financeira de 2008 e a quarta revolução industrial, que trabalham em um mundo onde a conectividade, falta de privacidade e mobilidade social são vantagens e desvantagens em suas vidas", afirma o estudo Global Millenial Survey, que afirma que apenas 26% dos jovens acreditam que a situação econômica do próprio vai melhorar. Segundo dados da pesquisa, 73% dos millennials dizem que líderes políticos não têm uma influência positiva no mundo enquanto 43% acreditam que a mídia tradicional tem uma má influência. 45% dos millennials não consideram líderes mundiais fontes confiáveis de informação.

Em meio a tanta desconfiança com a classe política, Thiago Araújo (Cidadania) decidiu que seria melhor ocupar os espaços do que ficar olhando de fora. Deputado estadual em segundo mandato, ele foi eleito vereador pela primeira vez em 2012, com 19 anos. Na opinião dele, independente das diferentes idades, o importante é ter os ouvidos abertos e extrair o que cada geração tem de positivo para oferecer.

"Ser de geração diferente, mais antiga, não faz de ninguém um ultrapassado. Isso depende muito da capacidade de cada um de se renovar, se atualizar. Quando vemos jovens entrando nesse meio, significa que a sociedade está cada vez mais politicamente ativa, pois isso sempre vem de um mobilização popular. Creio que a principal contribuição da nossa geração é propor políticas inclusivas, plurais, de uma sociedade em constante evolução. Nossa geração tende a ser mais compreensiva sobre a pluralidade social que temos hoje do que as gerações passadas que podem ter a cabeça um pouco mais fechada", avalia.

O deputado estadual Gustavo Sefer (PSD) conta que as ações sociais que desenvolveu antes de ocupar um cargo eletivo o sensibilizou para a realidade das pessoas menos abastadas. Hoje, ocupando uma cadeira na Assembleia Legislativo do Estado do Pará, ele diz que todos os jovens deveriam se interessar por política. "Tudo o que acontece é decidido por políticos. Deixo meu convite para todas as gerações que busquem um partido que se identifique. O único problema da juventude é a falta de experiência, que só o tempo dá. Mas a população de um modo geral acredita muito na juventude como responsável pelo futuro. Sempre tive respeito dos meus pares", relata.

A psicóloga Thaysse Gomes lembra que a nova geração traz para o jogo político uma mente mais aberta e disponível para experimentações em todos os âmbitos da vida social. "A nova geração é mais aberta falar sobre saúde mental do que as anteriores também. É uma geração que deposita muita esperança, mas que pesquisa mais o que está sendo dito, não acredita em tudo de cara. Antes tinha uma liderança que você gostava e o que ela dizia você acompanhava. Hoje, com ajuda da internet, temos um movimento de discutir o que é dito entre os amigos daquela própria geração, refletir sobre de onde parte aquela fala, de qual realidade, contexto, local de fala. Tudo se torna um debate volumoso e está aberto a questionamentos", diz.

Para o cientista politico Rodolfo Marques, os processos de renovação são comuns e acompanham as prioridades de determinadas sociedades. Ele nota que as questões culturais, o progressismo, os esportes e o meio ambiente são pautas que se destacam entre os mais jovens, bem como a facilidade de desenvolver comunicação via internet. "O Gabriel Boric é tatuado, com um apelo mais jovem, mas ao mesmo tempo resgata questões históricas como a família do Salvador Allende. No Brasil, há também a deputada federal Tábata Amaral (PSB) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Penso que as contribuições são as mesmas de um político de mais idade, além da questão de mais visibilidade para certas pautas, como a dos negros, LGBT, da mulher, dos deficientes, que são ampliadas por políticos que lidam melhor com ferramentas modernas de comunicação", diz.

As diferentes gerações e quando elas nasceram

Nascidos entre 1945 e 1964: Baby boomer

  • Como o nome sugere, o boom de bebês após a Segunda Guerra Mundial chegar ao fim trouxe ao mundo jogadores de futebol como Pelé e Maradona, além da banda The Beatles. Os baby boomers tendem a ser menos dependentes da tecnologia, pois passaram boa parte da vida no modo analógico. 

Nascidos entre 1965 e 1981: Geração X

  • Trabalhar e produzir muito era a filosofia de vida primordial da geração, com pouco idealismo e muito foco na compra de uma casa, carro, móveis e na constituição de uma família, que resultou na cultura "workaholic" e na eleição de líderes mais conservadores, como Ronald Reagan nos Estados Unidos. 

Nascidos entre 1982 e 1995: Millenials 

  • Antes de "boomer" ser um xingamento, a internet já usava a palavra "millenial" para se referir a tudo o que há de ruim na sociedade. A geração dos vinte e tantos anos nasceu com os privilégios da estabilidade econômica e sem ouvir a história de nenhuma grande guerra, com muito acesso ao consumo  - e acabou sendo chamada de "mimada" na capa da revista Time, em 2014. É quem lidera os debates globais acerca de tema como diversidade e sustentabilidade.

Nascidos entre 1996 e 2010: Geração Z

  • Entre fãs de Billie Eilish e Harry Styles, eles também são conhecidos como geração Tik Tok. Os nativos digitais não aprenderam a usar a internet: nasceram sabendo e, por isso, querem um mundo offline idêntico ao virtual - ou seja, hiperinformado, conectado e super rápido. Apesar de multitarefas, possuem tempo de atenção e interesse muito breves e se destacarão em profissões que ainda não existem (ou que os pais nunca ouviram falar).
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