Demissão de Moro causa racha na base de Bolsonaro
A saída do ministro da Justiça abalou o apoio ao presidente em uma de suas principais bases eleitorais, o segmento evangélico
Aliados de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional começaram a discutir se mantêm o apoio ao governo. Eles cobraram do presidente explicações sobre as acusações feitas por Sérgio Moro. O ex-ministro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente no comando da Polícia Federal para obter acesso a informações sigilosas e relatórios de inteligência.
O senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ), aliado de Bolsonaro e integrante da bancada evangélica, cobrou explicações do presidente. "Ele (Moro) fez referências que, se comprovadas, deixam o governo em uma situação que vai ter de explicar. O choque existe, sim. A perna do discurso que fizemos na campanha é combate à corrupção."
Governistas da articulação política agiram para tentar amenizar a crise. "Não podemos transformar isso no que alguns estão querendo. Começou um alvoroço pedindo impeachment do presidente", disse o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo no Senado. "Felizmente, foi em uma sexta-feira. Senão, o vulcão ia arder durante a semana toda."
A bancada da bala, aliada a Bolsonaro desde a campanha eleitoral, fará reunião para avaliar se mantém seu apoio. "É um luto total", disse o presidente da frente parlamentar da Segurança Pública, deputado Capitão Augusto (PL-SP). O grupo conta com 257 parlamentares, mas nem todos apoiam o governo. Para Augusto, as denúncias contra Bolsonaro feitas por Moro nesta sexta-feira são "gravíssimas". "Nem na época do PT tínhamos isso... Ele (Bolsonaro) vai ter sérios problemas dentro do Congresso. É o começo do fim do mandato dele, infelizmente", afirmou Augusto.
Uma das parlamentares mais fiéis a Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) pediu que as pessoas "tenham confiança no presidente". "É natural que a militância fique abalada no médio prazo, mas isso vai voltar ao normal. Peço que as pessoas tenham confiança no presidente", afirmou Zambelli. Ela não quis comentar sobre as denúncias feitas por Moro.
A demissão de Moro abalou o apoio a Bolsonaro em uma de suas principais bases eleitorais, o segmento evangélico. Minutos após Moro anunciar sua saída do cargo, a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) anunciou que vai cobrar a apuração de crimes de responsabilidade que podem ter sido cometidos pelo presidente. A investigação é um processo jurídico-político que pode levar ao impeachment de Bolsonaro.
Em nota, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) diz que a mudança no Ministério da Justiça evidencia "intervenção política no comando de instituições".
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