Vítimas do trânsito dobram no Hospital Regional de Marabá
Números crescentes de acidentes envolvendo veículos motorizados preocupam
O Isvá Mendonça é motorista e pilotava uma motocicleta quando sofreu um acidente de trânsito na rodovia BR-222, em Marabá, sudeste do Estado. “Eu fui desviar de um buraco na pista e acabei caindo da moto”, conta o paciente. Internado há 12 dias no Hospital Regional do Sudeste do Pará (HRSP), ele lamenta as consequências do acidente e também ter que ficar tanto tempo parado. “Quebrei quatro costelas e tenho que usar um dreno, porque amassou meu pulmão e o fígado. É ruim porque eu acordava todo dia de manhã cedinho e fazia de tudo. Agora, estou nessa situação”.
Um acidente com motocicleta também cruzou o caminho de Francisco Macedo. Ele é trabalhador rural e, há cinco anos, precisa voltar ao HRSP para fazer acompanhamento médico. “Venho para fazer exames e consultas. Já fiz três ressonâncias, passei pelo neurologista duas vezes e continuo na mesma condição ou piorando cada vez mais. O problema é no meu pescoço. Às vezes, eu venho para cá e passo mal. Tem horas que não aguento nem sentar. Parece que tem espinho o tempo todo na minha garganta”, afirma Francisco.
Sem saber, o seu Isvá e o seu Francisco entraram para uma estatística preocupante. De acordo com o Hospital Regional, só nos sete primeiros meses deste ano, o número de internações de vítimas de acidentes de trânsito chegou a 499. Isto representa um crescimento de 101% neste tipo de atendimento. E esse dado acaba custando caro para todo o sistema. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, uma internação simples pode chegar a custar, em média, R$ 1.273,00 aos cofres públicos, por dia de internação.
“Os acidentes automobilísticos aumentaram muito e essa vítima acaba vindo para o regional. Um paciente desse tem, pelo menos, de duas a quatro fraturas”, explica o diretor do hospital, Valdemir Girato. “O paciente já chega com indicação para fazer, no mínimo, duas cirurgias também e isso acaba estendendo o tempo de permanência dele na internação, que pode chegar a 20, 30 dias. Com isso, temos um custo maior, pois as próteses e placas são caríssimas e esse paciente tem que retornar para fazer fisioterapia e esse retorno dele demora de um há dois anos”, analisa o diretor.
O Hospital Regional do Sudeste do Pará possui, atualmente, 115 leitos, divididos entre clínicos, especialidades cirúrgicas e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Destes, aproximadamente 60% estão ocupados por vítimas de acidentes de trânsito. “E esse paciente tem um perfil também. Normalmente, são homens, com idade entre 28 e 38 anos de idade”, esclarece Girato. Ainda segundo o gestor, as vítimas de acidentes envolvendo motocicletas já representam 90% dos pacientes que dão entrada no hospital. Só em 2022, foram 452 atendimentos, contra 228 atendimentos realizados no ano passado. Embora representem um índice proporcionalmente menor, o número de vítimas de acidentes de carros também registrou aumento. Em 2021, foram atendidos 20 pacientes deste tipo de acidente. Já este ano, os atendimentos chegam a 44, um aumento de 120%.
O crescimento brusco desses atendimentos reflete diretamente na procura pelas especialidades médicas do HRSP. 2022 já soma 24% de consultas especializadas a mais do que o registrado no mesmo período de 2021. O Serviço do Prontuário do Paciente, setor que processa as informações dos usuários do hospital já aponta para as especialidades mais procuradas: ortopedia (3.740 consultas); fisioterapia (2.867); terapia ocupacional (2.190); neurocirurgia (2.044) e cirurgia geral (1.778).
Ortopedia segue no topo deste ranking, mas não atende apenas a pacientes vítimas de acidentes de trânsito. “Os motociclistas que sofreram acidentes lideram os atendimentos, seguidos de trabalhadores que caíram durante o serviço, e idosos acidentados em casa”, detalha o médico Alexandre Rocha, diretor Técnico do HRSP. “Claro que quando fazemos essa análise dentro de um hospital do porte do Regional, temos que considerar também a reputação dessa unidade, que é referência para mais de 1 milhão de pessoas de 22 municípios", evidenciou.
No Brasil
De acordo com informações do Observatório Nacional de Segurança Viária, a violência no trânsito mata tanto quanto a violência pública e já é uma preocupação para as autoridades. Estima-se que a violência no trânsito faça uma vítima a cada 12 minutos no Brasil. Ou seja, seis pessoas morrem a cada hora. Do ponto de vista econômico, a violência no trânsito também é um péssimo negócio. Segundo estatísticas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), cada acidente custa ao país cerca de R$ 261 mil reais. Anualmente, esse rombo chega aos R$ 50 bilhões.
Entre as principais causas de morte no trânsito, estão o consumo de álcool antes de dirigir, o excesso de velocidade e o uso do celular ao volante. Este último, tem se mostrado um grande vilão, segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, já responde por 154 mortes por dia, 54 mil por ano, nas estradas do país.
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