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Professor mostra que é possível aprender matemática com o breaking; confira

Em pesquisa, professor recém-formado pela UFPA mostra que é possível facilitar o aprendizado da disciplina por meio da dança

André Furtado/ Especial para O Liberal

Ciência que estuda números, grandezas e possibilidades, a matemática ainda é uma área do conhecimento temida entre muitos estudantes. De acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), somente 27% dos brasileiros alcançaram o nível 2 de proficiência em matemática, em 2022, considerado o patamar mínimo de aprendizado. Muitas são as estratégias adotadas em sala de aula para melhora do quadro no Brasil. Foi pensando nisso, que o professor Jonata Neves, 23 anos, recém-formado no curso de Matemática da Universidade Federal do Pará (UFPA), resolveu aliar o ensino à arte, associando princípios matemáticos ao breaking.

image O breaking é um estilo de dança urbana originado em Nova York, na década de 1970 (Ivan Duarte/ O Liberal)

O breaking é um estilo de dança urbana originado em Nova York, na década de 1970. Ele é caracterizado por movimentos acrobáticos e surgiu da cultura hip hop. Em 2018, tornou-se modalidade olímpica estreando nos Jogos Olímpicos da Juventude Buenos Aires. Jonata Neves entrou em contato pela primeira vez com estilo de dança quando ainda era estudante do ensino básico. Na ocasião, o grupo de breaking Sheknah Crew foi com seu projeto à escola de Jonata fazer uma apresentação.

“Conheci o projeto quando eles fizeram uma apresentação na minha escola. Ali eu olhei e achei interessante a dança e, a partir daquela apresentação, eu procurei o projeto que, na época, era realizado aqui, no bairro do Guamá, em Belém. Esse ano eu fiz nove anos de participação, mas eu fiquei de maneira mais ativa até 2019, quando eu entrei na universidade”, relembra.

Mesmo com uma carga de estudos mais acentuada por conta da graduação, no início do curso ele não queria deixar a arte de lado e foi, assim, que surgiu a ideia de juntar o breaking com os fundamentos da matemática. “Aqui na UFPA tem uma galera que já realizava seus treinos no pátio da reitoria. Então, quando eu entrei na Universidade, tentei fazer algumas mediações com autoridades, como o reitor, para formalizar o projeto e não ter nenhum impedimento da gente praticar. O grupo em si não tem vínculo com a UFPA, nós apenas utilizamos o espaço para treinar”, explica.

Metodologia para aulas mais atrativas

Com o espaço formalmente autorizado para a prática do breaking, Neves começou a associá-lo com a matemática introduzindo conceitos da análise combinatória buscando, assim, uma metodologia de ensino que deixasse as aulas mais atrativas para os estudantes. E foi com esse arcabouço que ele desenvolveu, sob orientação da professora Cristina Vaz, seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que foi defendido no início de novembro deste ano. No trabalho, números e arte foram colocados lado a lado, por meio de uma oficina.

“O tema do meu TCC foi voltado para o ensino de matemática por meio de recursos lúdicos, em específico a dança. O breaking é responsável por transmitir muitas movimentações e sentimentos abstratos e isso está diretamente ligado com a matemática. Eu utilizei o conteúdo para fazer combinação de passos por meio do princípio matemático da análise combinatória”, detalha.

image Muitas são as estratégias adotadas em sala de aula para a melhora do quadro no Brasil (Ivan Duarte/ O Liberal)

Participaram da oficina seis b-boys - como são chamados os atletas de breaking - que estavam atuando de maneira mais ativa no grupo Sheknah Crew. Durante a atividade, Jonata Neves buscava verificar se ao inserir o conteúdo da dança, no contexto da sala de aula, os alunos ficariam mais à vontade para aprender conteúdos abstratos da matemática. “Na oficina, os b-boys viram que aquilo que eles praticam no dia a dia tem uma representação matemática, então isso abriu um pouco mais a mente deles e os deixou mais solícitos a aprender aquele conteúdo. Então, a gente conseguiu concluir que o breaking, como um recurso lúdico, permite que o ambiente de sala de aula seja mais confortável, mais livre, deixando que os alunos se expressem mais e, consequentemente, fiquem mais abertos a aprender conteúdos que, à primeira vista, são difíceis”, enfatiza.

image Ciência que estuda números, grandezas e possibilidades, a matemática ainda é uma área do conhecimento temida entre muitos estudantes (Ivan Duarte/ O Liberal)

Análise combinatória com outro olhar

Gabriel Silva, participante da oficina, aprendeu o conteúdo de análise combinatória por meio da metodologia proposta por Jonata. “Eu não sabia o que era combinatória então, ele conseguiu trazer o tema de matemática, que era muito distante de mim para algo que é muito próxima de mim, a minha dança. Então, quando eu fiz a oficina quando ele fez a proposta, a gente tava até para além do que ele já tava falando. A gente foi combinando várias coisas. Agora, basicamente, eu vejo bem diferente de quando eu vi no ensino médio. Tá bem mais macio aprender matemática, mais legal”, afirma o b-boy.

Para Jonata, a metodologia proposta vai auxiliar professores a adotarem novas formas de deixar o ensino da matemática mais atrativo. “A gente vive num advento da interdisciplinaridade na sala de aula. Hoje em dia o ensino é muito voltado para vestibulares e concursos públicos, então a gente se prende naquele ensino de forma mecânica, que faz com que a gente tenha um índice de evasão muito grande nas escolas. Então, com o meu trabalho, quis inspirar outros professores a buscarem novas metodologias para sala de aula, para poderem motivar e ensinar os seus alunos coisas que vão além do conteúdo propriamente dito”, finaliza o professor.

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