Número de tabagistas em tratamento pelo SUS reduz cerca de 59% na Região Norte, aponta estudo

O trabalho chama a atenção para os impactos no número de tabagistas em tratamento no SUS durante a pandemia, em 2020.

Laís Santana

Dados do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) apontam redução de 59% no número de fumantes em tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) durante a pandemia. As informações fazem parte do relatório “Tratamento do Tabagismo do SUS durante a Pandemia de Covid-19”, elaborado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), e foram apresentados nesta quarta-feira (25), durante transmissão feita pelo instituto em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Fumo. Durante o evento online também aconteceu o lançamento da campanha “A melhor escolha é não fumar” desenvolvida em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). 

A nível nacional, dados coletados pelo PNCT, indicam que durante o ano de 2020, em relação a 2019, a redução no número de tabagistas foi de 66%. O índice também variou nas demais regiões do país, com maior queda na Região Sudeste, onde a redução foi de 68%; seguida pelo Nordeste com  66%; Centro-Oeste com 63%; e Sul com 62%. 

Para a psicóloga Vera Borges, da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca, a pandemia inferiu diretamente no tratamento desse grupo de pacientes, que deixaram de ir ao hospital. "Com as unidades de saúde atendendo quase que exclusivamente casos de Covid-19, algumas pessoas evitaram a ida e a permanência em instituições de saúde", afirma. 

O estudo ainda mostra que cerca de 68 mil tabagistas procuraram atendimento no SUS no início do ano passado, antes da pandemia. Atualmente, o tabagismo causa a morte de 162 mil pessoas ao ano, no Brasil, o que equivale ao gasto de R$ 125 bilhões dos cofres públicos por ano para cobrir despesas com doenças causadas pelo cigarro. Este valor equivale a 23% do que o Brasil gastou, em 2020, com o enfrentamento à Covid-19. 

O alto custo do tabagismo não inclui os gastos do SUS para tratar a dependência de nicotina, considerada uma das medidas médicas mais efetivas quando comparada com o tratamento das doenças causadas pelo uso de produtos do tabaco. 

“A Reforma Tributária, em debate no Congresso Nacional, representa uma oportunidade para acrescer o efeito do aumento de preços e impostos sobre tabaco como indutor da cessação de fumar e na prevenção da iniciação no tabagismo entre crianças e adolescentes. Também representa uma oportunidade para vincular recursos para garantir a implementação plena da Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco no Brasil, incluindo a ampliação da cobertura do tratamento para cessação de fumar para as populações de menor renda e escolaridade, que concentram as maiores prevalências de fumantes”, reforça Tânia Cavalcante, secretária executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco. 

Para coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, Liz Almeida, parar de fumar sempre vale a pena, "em qualquer momento da vida, em especial, durante a pandemia de uma doença respiratória grave, para a qual o tabagismo é um fator que pode aumentar o risco de complicações e morte”, destaca.

Superação

A vendedora Jéssica Souza, 32 anos, parou de fumar sem tratamento médico após 17 anos tendo contato com o cigarro. Ela conta que largar o vício não foi uma tarefa fácil, mas com a ajuda da companheira e a chegada da pandemia, o hábito foi completamente abandonado. “Durante a pandemia, eu passei a morar junto com a minha namorada e o fato dela não fumar e não beber influenciou bastante nesse processo. O grande motivo para eu fumar era porque tinha crises de ansiedade, ou então quando estava entre amigos, compulsivamente o cigarro se atrelava a esses fatores. Devido à mudança de rotina e a convivência com uma pessoa que não era fumante, isso me ajudou muito. Hoje em dia me sinto muito confortável de estar com pessoas que fumam e não sentir aquele desejo de querer fumar também” conta.

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